Quando eu estava na escola, era comum, nas aulas de história, ouvir dos professores que o mundo havia passado por épocas muito cruéis, nas quais as pessoas foram submetidas a todo tipo de tratamento desumano e foram vítimas indefesas de seus próprios semelhantes. Na época eu costumava acreditar que isso era passado, que caminhávamos para um futuro mais humanizado, para a resolução dos conflitos entre os seres humanos. A despeito de eu ser jovem, ingênua, eu de fato queria crer naquilo, pois o mundo no qual eu dava meus primeiros passos precisava fazer algum sentido para mim.
Infelizmente, embora tenhamos de fato avançado em várias áreas, bem como identificado e reconhecido vários direitos que antes sequer imaginávamos ver respeitados, o mundo ainda está longe de atingir o ideal de paz, de ser um lugar tranquilo de se viver. Não exclusivamente, mas os recentes eventos envolvendo ações terroristas são uma mostra lamentável disso.
Não quero e não irei, de forma alguma, adentrar no mérito de quem está certo ou errado, politicamente falando. Não sou especialista em História e, ainda que o fosse, penso que não me caberia tecer tais juízos de valor, até porque esse tipo de coisa mais acirra ânimos do que os apanígua. Assim, limito-me a lamentar os reflexos dos atos que, tomados por quem quer que seja, roubam vidas e sonhos.
Sei que é um tanto ilusório de minha parte, mas questões políticas poderiam ser resolvidas de outros modos, mais diplomaticamente. No que se refere às questões religiosas a coisa fica ainda mais complexa. Religião não se discute, mas também não deve ser motivo de intolerância. Aquilo no que o outro crê, exceto no que diz respeito a atos de violência com o próximo, não me diz respeito, bem como as minhas crenças pertencem ao meu íntimo e não aos outros.
Dói pensar na quantidade de pessoas que perdem suas vidas por conta do ódio, do poderio econômico e do extremismo, religioso, político ou filosófico. Morrer pelas próprias crenças pode até lá ter a sua glória ou valor, isso se mais ninguém se fere, mas levar consigo a vida de outras pessoas, de gente que sequer está inserida no contexto das discussões alheias e que não tem a menor chance de se defender, isso é covardia demais.
Fico imaginando como isso será estudado, no futuro, pelas novas gerações de estudantes e se eles, em um lampejo de esperança, igualmente pensarão que o porvir redimirá a humanidade. Díficil, hoje, contudo, diante das páginas que vão sendo escritas, ter a certeza de que a humanidade, um dia, viverá em paz, ainda que seja a mínima, aquela que permite a ausência de guerras e de mortes sem sentido.
Das tragédias climáticas, penso eu, em minha ignorância, que talvez não tenhamos como escapar, por exemplo, mas o terrorismo é ato que não prova nada, não encontra justificativas aceitáveis e que não pode se propagar pelo mundo. Há quem possa dizer que estou pessimista, mas não é o caso. Estou apenas preocupada com o mundo que vamos legando aos que aqui vão chegando e que vão encontrando essa imensa confusão, essa babel sem fronteiras e sem entendimento.
Quiçá possamos achar uma alternativa, um meio de entendermos que somos todos iguais, irmãos, inquilinos do mesmo lugar e do mesmo tempo, e que não há, entre nós, quem tenha razão sobre o outro, não sobre todas as coisas...Oxalá possamos não ser, daqui a algumas décadas, sermos chamados de bárbaros digitais.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
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