E eis que a após as Olimpíadas iniciaram-se os jogos paralímpicos. Atletas do mundo todo, como mobilidade reduzida ou com alguma outra limitação, superam os limites, próprios e sociais, dando provas de que a vida transcende, a vida tudo pode.
Tenho que admitir que as Olimpíadas foram, apesar dos pesares, um evento bem-sucedido. Houve beleza, houve espetáculo, houve show de artefatos e humanos. Ainda mantenho minha posição manifestada em outro texto, de que o Brasil não fez sua lição de casa na inteireza, pois em meio ao que deu certo, muitas outras coisas deram errado. Nesse sentido, o Brasil foi coerente com seus renitentes fracassos nas áreas de segurança e meio ambiente.
A boa vontade de muitos envolvidos, a despeito de eventuais prováveis desvios de verbas, fez com que tudo acabasse dando certo. Lamentáveis as ocorrências de acidentes e mesmo do falecimento de um atleta, mas até considero que isso poderia ter ocorrido em qualquer lugar do mundo. Da mesma forma, lamento a postura de alguns atletas, inclusive brasileiros, desrespeitando torcidas, fãs e o país. No conjunto da obra, por assim dizer, não penso que o Brasil tenha feito feio.
Triste, agora, no entanto, que as pessoas, de forma geral, não deem a mesma atenção aos jogos paralímpicos. Mesmo os aficcionados por esporte, ao que me consta, não acompanham esse evento com a mesma empolgação. Tenho acompanhado na mesma proporção que acompanhei as olimpíadas e o que vejo são exemplos de superação, de força de vontade e de amor à vida que não podem passar sem a atenção dos demais.
Não estou afirmando aqui que haja um preconceito em relação aos atletas paralímpicos, mas somente constatando que o destaque que se dá aos atletas olímpicos e aos paralímpicos não é o mesmo. Segundo dados que vi rapidamente, até a venda de ingressos para os jogos de um e de outro são divergentes, sendo inferior a arrecadação dos paralímpicos.
Dia desses uma conhecida postou nas redes sociais que achava errado chamar os atletas paralímpicos de heróis, bem como a supervalorização a eles. Ela, como cadeirante, é contra esse tipo de tratamento. Louvável a atitude contra a cultura do "coitadismo", até porque ser cadeirante ou ter alguma limitação física não torna ninguém melhor ou mais merecedor, por si só. Nesse sentido, de fato, rotular pessoas como heróis talvez seja equivocado.
Por outro lado, fico eu aqui pensando com meus botões a quantidade de vezes nas quais desanimei diante de pequenas e médias dificuldades, bem como as inúmeras vezes nas quais deixei de me exercitar por preguiça ou por conta de pequenos óbices cotidianos e, sob essa ótica, não posso deixar de admirar aqueles que, tendo nascido com alguma limitação física ou, em decorrência de alguma doença ou acidente, tenham-na adquirido, ainda são capazes de ultrapassar limites, de transcender ao invés de desistir.
Embora, talvez, não devamos atribuir aos atletas paralímpicos a condição de super heróis, creio que seja fazer-lhes justiça o reconhecimento de que há neles mais força vital e de vontade do que em muitos de nós. A propósito, nesse mundo em que qualquer jogar de futebol que se destaque é alçado à categoria de ídolo, não vejo a incoerência em reconhecer nos atletas paralímpicos modelos de gente que venceu barreiras e paradigmas.
Como nem poderia ser diferente, é óbvio que respondo apenas por mim, pelos meus pensamentos e convicções, mas no que me respeita, ao menos, rendo minhas homenagens a esses homens e mulheres que, entre o desistir, o desanimar, o entregar-se, o lamentar-se, o resignar-se, escolherem prosseguir e provar, talvez mais a si mesmos do que aos outros, que a vida, por si só, é capaz de justificar todo o resto, no mais verdadeiro sentido da luz sustentada pela tocha olímpica...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
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