Entre a polêmica moda dos pokemons, lá em casa a coisa é muito mais realista. Para nós nada de realidade virtual ou aumentada! Lá é vida real mesmo, sem disfarces, rs... Nesse último domingo, inclusive, tivemos uma mostra disso, com direito a criaturas rastejantes e voadoras.
Tenho dois cães, o Peteco, um dashund (vulgo salsicha) e o Floquinho, um poodle de porte pequeno. Ambos já são idosos, com quase 14 e 15 anos respectivamente, mas, como costumo dizer, eles não sabem disso e, assim, vivem como os filhotes que há muito foram. Vira e mexe destroem os panos nos quais dormem, jogam a comida para todo lado e mais uma série de comportamentos que me tiram do sério.
Há pouco mais de um ano, ao meu tipo de peludos juntou-se uma gatinha que agora atende (embora atende não seja o melhor verbo, já que ela vem quando quer) pelo nome de Chica Maria. Frajolinha de pequeno porte, ela em geral é mais comportada do que o restante da “galera”, mesmo tendo pouco menos de dois anos de idade. Quem acompanha meus textos, inclusive, já leu sobre toda essa bicharada em outras oportunidades e já sabe que, apesar das diferenças, há um ponto comum entre a Chica e o Peteco: ambos são caçadores eficazes!
Assim, no domingo passado, em pleno dia dos pais, acordamos no horário dominical costumeiro e fomos chamar os cachorros. O Peteco, que normalmente invade a cozinha em desabalada carreira tão logo a porta é aberta, demorou para dar as caras, o que até nos fez pensar que ele poderia estar doente ou qualquer coisa pior. Depois de alguns minutos, entretanto, ele se resignou a sair da casinha e foi, meio contrariado, para ocupar o cantinho deles na sala, onde ficam quando estamos em casa.
Quando coloquei a mão dentro da casinha deles, entretanto, puxei os panos que servem de forro e achei meio esquisito que lá dentro tivesse ficado alguma coisa. Em uma rápida olhada pareceu-me se tratar de um emaranhado de fiapos pretos e, por sorte, antes de pegar, abaixei-me para uma olhada mais atenta e tão logo meus olhos transmitiram ao meu sonolento cérebro a que correspondia a imagem, dei um grito assustado. Um pequeno camundongo jazia sob as cobertas do Peteco, somando-se ao rol de vítimas do meu destemido velhinho canino.
Passado o susto (e o asco) veio a certeza de que era bem melhor encontrar o rato ali do que circulando pela casa e embora eu tenha certa pena pela vida do bicho, preferi que tivesse sido assim. Achamos, no entanto, que as surpresas do dia tivessem finalizado, mas ledo engano. Eis que, próximo da meia noite a Chica invade a sala correndo como uma louca e escutamos um barulho parecido com uma luta. Embora provavelmente ela só estivesse brincando com alguma coisa, logo vimos que não, até porque ela não tem qualquer brinquedo voador.
E toca fazermos o resgate de um pobre morceguinho frugívoro, o segundo que ela traz para casa, a propósito. Como ela não os mata, já começo a desconfiar que isso pode se tratar de alguma espécie de amizade ou amor proibido, tipo Batman e Mulher Gato, mas como não fomos apresentados a esse potencial genro, tratamos de bota-lo para correr, ou melhor, para voar.
No dia seguinte foi todo mundo para o banho, já que as vacinas contra a raiva estão em dia. Agora, fico com medo todas as vezes nas quais vou retirar os panos ou quando a doidinha da Chica entra correndo, pois nunca sei a surpresa que pode vir junto. Assim para os bichos como para as pessoas, idade é algo que se situa mais na mente do que nos dígitos numéricos. A coisa toda é não se levar muito à sério... Só entre brincar de pokemon e caçar ratos e salvar morcegos, é que acho que fico mesmo com a primeira opção, se me for possível escolher.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
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