PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sexta-feira, 11 de Novembro de 2016
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - JARDINS DA ALMA

 

 

 

 

 

 

 

 

Cinthya Nunes Vieira da Silva.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                Tenho uma especial atração por jardins e pelas variadas formas nas quais eles podem se apresentar. Admiro jardins imensos, trabalhados por profissionais, repletos de flores orquestradas para compor desenhos especiais. Gosto também daqueles jardins delicados, com cara de jardim de vó, com roseiras, margaridas, trevos de quatro folhas, hortelã e outras folhinhas cheirosas que podem acabar virando chá para gripe, tempero de carnes ou de doces.

                Da mesma forma, vivo a olhar para cima, para admirar os jardins que parecem querer expulsar o concreto das pequenas sacadas dos prédios. Em alguns casos, nem mesmo dá para enxergar o que há atrás da cortina verde que se forma nesses lugares. E eu acho isso simplesmente fantástico! Já me pego a imaginar que flores há lá, que pássaros foram atraídos e toda uma multidão de pequena fauna de insetos.

                Há ainda outros jardins possíveis, como aqueles verticais, que são plantados em muros, em telhados, dentro de floreiras, dentro de terrários, bem como em qualquer lugar no qual a criatividade humana ou as forças da natureza permitirem. Particularmente, adoro qualquer um deles, sejam como forem. Gosto de admirar as formas que as flores possuem, suas cores, seus aromas, assim também como tudo que vem junto com um jardim. Plante um jardim e as borboletas virão, como se diz. E é pura verdade...

                Moro em São Paulo e, embora seja uma casa, não há um mísero pedaço de terra no qual eu pudesse ter meu próprio jardim, mas nada que muitos vasos e um pouco de boa vontade não dessem jeito. Plantei muitas flores e até uma pequena horta. Nem tudo vai para frente, nem tudo vinga, mas já comi frutos nascidos lá e agora estou a namorar pequenos tomates que se vão formando. Resolvi, a par disso, tempos atrás, comprar um alimentador para beija-flores e tive o cuidado de comprar também um preparado especial para alimentá-los. Confesso que o fiz pelo desejo de que essas pequenas e maravilhosas aves pudessem me dar o prazer de sua presença, mas não acreditava muito que eles viriam, até porque ainda não tinha visto nenhum nesses mais de sete anos que estou na capital paulista.

                Enfim, comprei, montei e, um dia, apenas um dia depois, enquanto cuidava de algumas flores, eu o vi. Magnífico. Minúsculo. Uma joia alada. Verde oliva e roxo. Fiquei sem fôlego e inerte, temerosa de que um único respirar pudesse afastar aquela fada real. Mais alguns dias e vi que não era apenas um, mas eram quatro, dois casais de espécies distintas. Tornaram-se meus fregueses, meus mágicos visitantes diários. Posso dizer que agora meu jardim está perfeito, embora nunca esteja completo, pois para isso eu preciso do mundo. E posso dizer agora que tenho um beija-flor, da melhor forma que se pode ter um pássaro ou mesmo alguém, em liberdade e por amor...

                Fico pensando nos jardins que amo e é quase inevitável fazer uma relação com a vida das pessoas. Muitas vezes passamos tempo demais a reclamar que beija-flores e borboletas não vem até nós, mas nem nos damos conta de que sequer preparamos um jardim para isso e vamos nos amargurando ao olhar os jardins alheios, repletos de vida, ressentidos de nossa “pouca sorte”. Assim também muita gente passa a vida olhando para o alheio, para a alegria do outro, sequer tendo investido tempo, paciência e trabalho para que o mesmo pudesse lhe acontecer. Tristes pessoas sem jardins em seus olhos, em seus corações e em suas almas.

                Assim como os jardins de verdade, nem sempre tudo que plantamos irá florescer, mas nada irá florescer sem que haja ao menos um lugar preparado ou disponível para isso. Algumas vezes, inclusive, plantamos alguns sonhos e colhemos outros, outros que jamais imaginamos, trazidos em semente pelo bico de algum pássaro que atraímos sem saber.

                Os jardins da alma, também devem ser, do mesmo modo que os demais, objeto de cuidado constante. Há que se preparar a terra, o coração, mas há que se podar os galhos, cuidar dos sonhos, evitar as pragas e as desilusões, e,  quando forem inevitáveis, cuidar de começar a semear novamente, sementes ou sonhos.

                Não sei viver sem meus jardins, sem nenhum tipo deles. Às vezes, por descuido, eles se ressentem e me avisam que beija-flores, amigos e amores precisam ser cativados eternamente. Não dão garantias de permanência, mas podem encantar toda uma vida... Cuide bem de seu jardim. O resto vem...

 

 

 

 

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo.  -  cinthyanvs@gmail.com

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:58
link do post | favorito

Comentar:
De
 
Nome

Url

Email

Guardar Dados?

Ainda não tem um Blog no SAPO? Crie já um. É grátis.

Comentário

Máximo de 4300 caracteres



Copiar caracteres

 



mais sobre mim
arquivos

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links