
Se dependesse da minha vontade eu já conheceria muitos lugares do mundo. Embora eu nao tenha um espírito aventureiro, sendo uma pessoa que, no dia a dia, aprecia mais a estabilidade das coisas, a seguranca da minha casa, gosto de conhecer lugares e culturas diferentes. infelizmente, entretanto, o meu desejo de viajar, de globalizar meu conhecimento sobre lugares e pessoas acaba sendo tolhido por questoes como trabalho e condicoes financeiras. Aos poucos, porém, conforme vou me organizando, vou ampliando meus horizontes.
E foi assim, pagando em varias prestacoes que vim parar no Uruguai. Nesse momento em que escrevo, estou na cidade de Montevideo, na recepcao do hotel no qual me hospedo, usando um dos computadores da recepcao, já que me esqueci de trazer notebook ou tablet. Registro que, para isso, estou sofrendo um pouco: nao consigo encontrar, no teclado, como colocar a cedilha e nem alguns acentos. Contarei, nesse tocante, com a boa vontade dos revisores dos jornais que publicam meus textos, para que me facam o favor de, antes de publicar esse, fazerem as correcoes necessárias. Caso voce leitor, esteja lendo sem essa correcao, peco que me perdoe, mas nao encontrei meios de digitar corretamente.
Pois bem, a língua nao se apresentou como barreira ao menos. Durante minha vida acabei estudando espanhol e, pela semelhanca com o portugues, se os uruguaios tem a caridade de falar um pouco menos rápido, é possível entender e se comunicar sem maiores problemas. Desse modo, televisao, rádio e informacoes escritas sao decifráveis com alguma atencao.
Achei o Uruguai, pelo que vi até o momento, um país bem diferente do Brasil em vários sentidos. Aqui há uma campanha séria pela reducao do sódio na alimentacao e, para quem é acostumado com comida mais salgada, tudo parece meio sem gosto. Acredito, inclusive, que essa reducao seja a responsável pela forma física dos uruguaios, já que a populacao quase nao tem obesos, sobretudo obesos severos.
No verao, aqui em Montevidéu (nao sei se o mesmo se passa no restante do país), as pessoas comecam trabalhar somente às 10h da manha e, antes desse horário é possível encontrar um número muito significativo de pessoas caminhando pelas orla do Rio da Prata, usando as praias de água doce para prática de exercicios, lazer e descanso. Notei também que há muitas pessoas idosas, mas o que mais me chamou a atencao foi notar o quanto delas disputa o espaco entre os corredores e ciclistas.
Em um dos dias da minha estadia fui conhecer a cidade de Colonia Del Sacramiento. Para quem pensa em vir ao Uruguai eu acredito que esse seja um passeio imperdível. O lugar é repleto de história, charme e conservacao. A estrada até lá, partindo de Montevideu, no entanto, além de monótona, é mal sinalizada e fiscalizada. Incomodou-me a imensa quantidade de corpos de animais que, atropelados, ficam apodrecendo nos acostamentos, sem que ninguém os retire. Caes, tatus e outros pequenos mamíferos que nao consequi identificar ficam expostos em um retrato bem cruel da morte.
A comida aqui é muito baseada na carne e em batatas fritas, o que é um tanto sofrido para mim que, aos poucos, venho me abstendo da carne vermelha e de frituras. O curioso é que os pratos sao enormes, a comida calórica e as pessoas nao sao gordas... Exercicios, dormir até tarde e a diminuicao do sal talvez sejam, juntos, a explicacao para isso.
Uma coisa assusta muito os recém chegado: a moeda deles, o peso uruguaio, é desvalorizado frente ao real e, assim, 1000 pesos sao cerca de 100 reais. Entao, para o brasileiro, em um primeiro momento, assusta ir comer um simples lanche e pagar 500 pesos. Quando se converte ao real, porém, muitas vezes se percebe que certas coisas aqui custam menos do que no Brasil. Só para se ter uma nocao, um almoco em um restaurante, para 4 pessoas, facilmente fica 2000 pesos, o que é assustador se pensado em números absolutos, mas nao tem o mesmo efeito quando se entende a proporcao e já se converte tudo automaticamente.
No geral, os uruguaios sao um povo muito agradavel, cortes e bonito. Como nao viajo muito creio ser pouco provável que eu volte para cá, ao menos a curto e médio prazo, mas irei embora levando boas impressoes. Como acontece com os países da América do Sul, muito há a se corrigir e ajustar, mas ficou para mim a aparencia de que o povo aqui é mais feliz do que em muitos lugares do mundo.
"Mucho Gusto" Uruguai! Até qualquer hora dessas, "si Dios" quiser...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com