Se é verdade que o excesso de curiosidade muitas vezes pode se tornar um inconveniente, também acredito que esse impulso humano foi o responsável pela evolução da humanidade. Creio que a maior parte das pessoas tenha dentro de si uma gota que seja de curiosidade, até porque um dia todos foram crianças e poucas criaturas são tão curiosas quanto elas, exceção feita, talvez, aos gatos, campeões nessa categoria.
Até que eu tivesse duas gatas em meu convívio diário nunca tinha entendido completamente aquele ditado segundo o qual “a curiosidade matou um gato”. Hoje, no entanto, sei a sabedoria popular é incrível, porque não há nada que passe aos olhos de um gato sem que ele queira saber do que se trata. Em casa temos que ter cuidado quando abrimos e fechamos coisas, como malas, máquinas de lavar louça e roupas e caixas de todo gênero, sob pena de “extraviarmos” um felino para todo o sempre.
Mas não foi a curiosidade dos gatos que me inspirou ao texto de hoje. Em verdade eu me refiro mesmo à curiosidade humana. Penso que essa pode ser dividida em algumas categorias que ora me ocorrem, como: mórbida, natural, exacerbada e inconveniente. Alguma delas, no mínimo, cada um traz em seu pacote de dados, no software divino que ganhamos de fábrica. O problema é o que fazemos com isso.
A curiosidade natural é aquela que nos permite sobreviver e caminhar, que nos impulsiona a conhecer coisas, pessoas e lugares novos. É aquele olhar que direcionamos para algo que nunca vimos e que nos atrai ou nos assusta de algum modo. Essa curiosidade nos salva e nos permite transcender, em uma espécie de upgrade.
Já a curiosidade mórbida, ao meu sentir, é menos nobre. Trata-se, por exemplo, do impulso que faz muitos motoristas diminuírem a velocidade de seus veículos para tentar olhar um acidente recém-ocorrido, bem como o ato de, diante de qualquer desgraça alheia, chafurdar nela como se isso pudesse trazer algum benefício. Acho que o curioso mórbido se contenta em saber do outro, mas nunca se satisfaz enquanto não fizer uma verdadeira autópsia dos fatos.
O curioso exacerbado pode ser alguém que tem um excelente fator como aliado. Se usa disso para saber mais, para entender o mundo, para conhecer, para se aperfeiçoar, nada melhor do que ter essa sede eterna, essa certeza de que o mundo que conhecemos é a mísera ponta de um infinito iceberg. A história da humanidade é repleta de pessoas que usaram a curiosidade para o bem e, infelizmente, também para o mal.
O curioso inconveniente, vez ou outra é até engraçado, pois é aquela pessoa que não pode ouvir alguém conversando que quer saber do que se trata, muitas vezes sem se dar conta do papel que desempenha ao se portar assim. Muitos de nós, em algum momento da vida, acabamos sendo dessa espécie, como a criança que pergunta para a professora gordinha se ela está grávida, o amigo que pergunta os recém-casados quando providenciarão um herdeiro, a sogra que, na maternidade, pergunta à nora para quando será o segundo neto dela, a atendente que pergunta se a namorada mais jovem é a filha do homem que a acompanha, e assim por diante, em uma infinidade de perguntas indiscretas.
De um jeito ou de outro, todos somos curiosos, cada qual em uma medida, à exceção dos gatos, é claro, que completamente os curiosos mais divertidos e insanos que já habitaram esse planeta...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
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