Desde que um gatinho, na verdade uma gatinha, adentrou a minha casa, simplesmente me encantei com o mundo dos felinos. Certo que já tinha contato anterior com eles, eis que, quando criança, os gatos, cinzentos e tricolores, eram figuras constantes no quintal dos meus avós paternos.
Naquela época, contudo, não apenas por mim, mas por grande parte da família, eram vistos como as pombas que ficavam por ali. Não havia uma aproximação maior, muito embora eu sempre ficasse enlouquecida quando descobria o esconderijo de alguma mãezinha e seus filhotes.
O fato é que somente agora, algumas décadas passadas, descobri o quão incríveis, amorosos e fascinantes esses animais podem ser. Ainda que eu sinta pelo tempo perdido, tenho alívio em saber que não deixei esse mundo sem conhecer essa forma de amor incondicional. E por mais que eu escreva ou fale, se você não teve um gato seu, jamais será capaz de entender.
Atualmente tenho duas gatinhas, ambas resgatadas das ruas, ainda filhotes. Sem raça definida, são lindas como a diversidade é. Belinha e Chica Maria se dão muito bem, apesar de terem comportamentos distintos. A primeira é mais corajosa e vive rodeando meus pés, sempre carregando um brinquedo na boca para que eu jogue longe e ela possa buscar. Já a segunda é meio desconfiada, mas adora um colo.
Sabendo o quanto eu gosto, ofereceram-me um filhote de um gato gigante, o maine coon. Retirados de um criador ilegal, desses que exploram as matrizes até que morram exauridas, os filhotes foram desmamados cedo demais e estavam frágeis. Eu, que esperava receber uma gigante, recebi uma bebê raquítica, doentinha e linda, apesar dos pesares.
De início constatei que ela não sofria dos pulmões, eis que miava muito sempre que ficava momentaneamente sozinha. Só sossegava se estivesse no colo ou perto das outras gatas que, ainda não ambientadas, representavam um risco passageiro ao animal que mais poderia ser confundido com um pequeno hamister.
Eu havia escolhido para ela o nome de Mani, uma brincadeira com a ração a qual pertencia. Os animais adultos podem, nesse caso, pesar até 14 quilos. Diante do minúsculo animal que veio parar nas mãos, tratei de batizá-la de Mini. Uma amiga, inclusive, que veio até em casa, ao vê-la, encantada com a doçura do bichinho, apelidou-a de Dona Xícara.
Foram apenas quatro dias de convívio com ela, mas o suficiente para que eu me apaixonasse e rogasse a Deus, que é Pai de toda Criação, para que ela pudesse sarar, pudesse ganhar peso. Pouco me importava se ela se tornaria ou não uma gigante. Ela poderia, inclusive, ser a primeira gata gigante anã que eu não me importaria.
Viajei em férias e a deixei internada, aos cuidados do “veterinário da família”, responsável por acompanhar e tratar a bicharada há quase dez anos. Com uma infecção viral que se apossou do corpo mínimo da minha bebezinha, eles, ela e o veterinário, fizeram o que foi possível, mas a natureza seguiu seu curso e levou para o Infinito aquela que eu sonhava reinar faceira pela minha casa.
Como um pequeno vagalume, cheia de luz e fragilidade, ela não conheceu, ao menos, só o pior das pessoas e apenas isso me serve de algum consolo. Sei que para muitos tudo isso pode parecer um exagero, mas para mim teve outro significado.
Resta uma tristeza imensa pelo fato de que a morte dela não fez cessar a exploração e o sofrimento ao qual são submetidos milhares de animais criados em condições indignas e cruéis. Fica ainda a dor de não vê-la crescer, exceto nas projeções do meu coração.
Acredito, contudo, que, em algum lugar, o qual meus olhos não são capazes de alcançar, o Bem sobrepuje o Mal e minha pequena gigante esteja correndo aos pés de alguém, livre, linda e feliz.
Valeu Mini, a gente se encontra por aí...
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada na Silva Nunes Advogados Associados, professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e cronista. São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
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