Sei que tudo pode parecer somente um excesso de "corujice” de tia, mas eu confesso que não pude deixar de me surpreender quando soube que meu sobrinho Otávio, com cinco anos de idade, inquiriu a mãe, minha irmã, sobre para que ele teria nascido e qual seria, com essas exatas palavras, o propósito dele nesse mundo. Se um menino de cinco anos se pergunta sobre isso, estou certa de que muitos de nós igualmente o fazem.
Não tenho filhos e assim não sei se essa é uma pergunta normal de se fazer, mas não tenho dúvida de que essa é uma perguntinha bem difícil de responder... Se fosse feita para mim, eu teria pedido alguns dias para elaborar algo minimamente satisfatório. Acredito que seria infinitamente mais simples responder ao questionamento de como nascem as crianças ou como escolher uma carreira, rs...
Nesses dias que antecedem mais um Natal, volto meus pensamentos para essa questão e fico eu mesma pensando em qual é não apenas o propósito da minha existência, mas o da humanidade como um todo. Nessas décadas de minha existência eu tenho visto, lido e ouvido sobre tantas coisas que não entendo, que não aceito, que quase não acredito, que me questiono muitas vezes se a raça humana não foi foi um grande bug, um erro daqueles, o qual a natureza, mediante seus recursos e seu exército de vírus e bactérias, busca corrigir de tempos em tempos.
É claro que os seres humanos também foram e são capazes de invenções incríveis e de atos de pura e desinteressada bondade, seja com os seus semelhantes ou seja com as demais formas viventes nesse planeta, mas não estou segura de que isso possa nos redimir quanto que à quantidade de maldade e atrocidades igualmente cometidas.
Acredito que cada um de nós, um dia, haverá de responder pelos seus atos, de um jeito ou de outro. Independentemente de religião, acredito na lei do retorno. Só que acreditar nisso não me consola, porque em paralelo, tudo isso causa muita dor alheia, muito sofrimento a tudo o que respira. Por outro lado, o que cada um de nós pode fazer para mudar o mundo? O que é esperado de nós e o que nos espera? Outras perguntas complexas, mas sobre a primeira delas eu faço alguma ideia...
Penso que o mínimo que devemos fazer antes de termos a pretensão de mudar o mundo, é mudarmos a nós mesmos. Fazer a nossa parte já é muito mais do que não fazer nada. Aliás, se todos fizessem o que lhes compete fazer, a existência humana teria outra história. De nada adianta, portanto, pretendermos que os outros mudem, que a vida mude, se não nos propusermos a um olhar crítico sobre como somos e como agimos, não somente no que nos respeita, mas como tratamos aos demais.
O grande temor que possuo é de passar por esse mundo sem melhorar como pessoa. Não sei qual o meu propósito, mas no fechar das minhas cortinas, no derradeiro ato de minha vida, não quero chegar à conclusão de que não realizei nada de bom, nada de que eu possa me orgulhar quando for prestar minhas contas, caso elas me sejam exigidas.
O Natal não é uma data mágica, embora tenha um significado religioso, mas essa discussão à parte, penso que pode ser um momento para nascermos como pessoas melhores, para repensarmos nossos caminhos, para refletirmos sobre a razão do nosso caminhar e, se não ficarmos satisfeitos, recalcularmos nossa rota, içarmos nossas velas e redirecionamos nossos esforços, nossos sentimentos e seja lá o que nos estiver atravancando os passos.
Desejo a todos que dedicam alguns minutos de suas semanas para lerem o que escrevo, que tenham um Natal de muita alegria em família, com saúde, com momentos de descontração entre amigos, com risadas, com presentes, com boa comida, mas que também possam dedicar alguns instantes para reflexão de que há quem não possui nada disso, para quem o Natal é apenas mais um dia, mais um passo sem sentido algum.
Que possamos encontrar nosso propósito nas pequenas, mas valiosas e verdadeiras atitudes. Que sejamos capazes de sorrisos despretensiosos e sinceros, que tenhamos um palavra e um ombro amigo à disposição daqueles que nos procuram, que possamos verdadeiramente ser capazes de repartir nosso pão, mesmo quando não forem apenas as sobras.
Desejo que comemoremos o nascimento de Cristo, se assim for nossa religião, mas caso não seja, que comemoremos o nosso próprio nascimento como pessoas melhores, menos egoístas e mais solidários, capazes de enxergarmos que temos um propósito muito maior do que somente ocuparmos espaço sobre esse chão.
Feliz Natal a todos.
CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada na Silva Nunes Advogados Associados, professora universitária, membro da Academia Linense de Letras e cronista. São Paulo. - cinthyanvs@gmail.com
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