PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sábado, 17 de Dezembro de 2016
EUCLIDES CAVACO - NATAL DA MINHA ALDEIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poema e voz de Euclides Cavaco.
Um poema que ainda reflete a saudade de muitos de nós que residimos na diáspora mas não esquecem o seu berço natal. Veja e ouça o poema aqui neste link ou no texto anexo:

 


http://www.euclidescavaco.com/…/Natal_da_Minha_Te…/index.htm

 

 

 

EUCLIDES CAVACODirector da Rádio Voz da Amizade , Canadá.

 

 

***

 

FALECEU O JORNALISTA

 

 

 

 

MANUEL VENTURA DA COSTA

 

 

 

Nunca colaborou neste blogue, mas era seu leitor assíduo, segundo comunicou-me por correio eletrónico.

Era diretor do “ Jornal de Tondela”. Tinha noventa anos (1926-2016).Nasceu em Tourigo (Tondela). Emigrou para a Republica do Congo, onde permaneceu 30 anos.

Foi várias vezes condecorado. Recebeu a Medalha de Ouro de Cavaleiro da Ordem Nacional do Zaire, em 1981.

Foi correspondente, em Kinhasa, do: “ Tempo” – semanário de Lisboa.

Era jornalista brilhante. As crónicas, publicadas na penúltima página do “ Jornal de Tondela, eram apreciadíssimas. O “Ponto Final”, primavam, sempre pelo estilo: elegante, simples e despretensioso.

 

 

 

 

***

 

 

 

Neste Natal de 2016, recordemos os nossos colaboradores falecidos. Quase todos fizeram parte, durante anos, da já grande família deste blogue Luso-brasileiro: “PAZ”. Que Deus os guarde e lhes dê o descanso merecido.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POR QUE ESTADOS TÃO GRANDES?

 

 

 

 

 

 

 Quem olha com um pouco de atenção ao atual mapa oficial do Brasil, nota as enormes discrepâncias que existem entre um Sergipe, por exemplo, com um Estado do Amazonas. Ou de uma Paraíba com um Estado do Tocantins – só para citar o último território a ganhar emancipação do antigo mapa originado logo após a independência de 1822. E há de notar também que de lá até hoje muito pouca coisa mudou. Goiás foi dividido em dois ao criar-se o Estado do Tocantins.  Mato Grosso gerou o Estado do Mato Grosso do Sul. E do antigo Amazonas surgiram os Estados do Acre, Rondônia e Roraima. E do Estado do Pará, surgiu o Estado do Amapá.
Acontecera que, ao se tornar independente da Coroa Portuguesa, este país continental chamado Brasil, embora muito rico, era vazio de instituições e escasso de população. Eis que, a não ser numa estreita faixa litorânea que ia do Nordeste e ao  extremo Sul, e no imenso interior alguns bolsões com população indígena – remanescentes do massacre promovido pelos colonizadores, o restante do território era habitado somente por macacos e araras.
Daí que, na época da independência de nada teria adiantado retalhar o mapa, subdividindo aqueles espaços vazios em províncias menores.  Por isso temos o que são hoje os estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso (já subdivididos uma vez) Minas Gerais, Maranhão e Bahia, que, além de a distância entre as comunidades mais afastadas do centro de decisões e poder, ser enorme (mais de mil quilômetros), isso torna praticamente impossível administrar com equidade um grande território.
Entretanto, os tempos são outros. Em 180 anos de crescimento vegetativo da população, somado ao considerável contingente de imigrantes que o país recebeu nos séculos XIX e XX, mais as correntes migratórias internas que proporcionaram a ocupação do Centro-Oeste e da Amazônia, elevaram o número de habitantes dos modestos 20 milhões em 1822 aos cerca de 200 milhões atualmente, estão a exigir um novo redimensionamento no mapa Brasil. E, queiram ou não as forças que detém o poder terão que acatar os anseios das populações destes territórios que sonham com emancipação. Inclusive deste nosso território que é conhecido historicamente como “Além São Francisco”. Mesmo por que, quando foi anexado ao mapa da Bahia em 1824 – através do decreto do imperador Dom Pedro I –  moravam do lado de cá do rio São Francisco ao longo de seus afluentes, cerca de 10 mil descendentes de europeus, que tinham por atividade econômica uma pecuária extensiva. Números estes completados por outro tanto de indígenas, que talvez totalizassem um conjunto de 20 mil habitantes no território da antiga Comarca do São Francisco, no tempo que pertencia à Província de Pernambuco. E hoje, em consequência dos fatores supracitados, vivem e trabalham, neste que pretende ser no futuro o Estado do Rio São Francisco, mais de um milhão brasileiros
E se isso não fosse o bastante, teríamos a considerar que historicamente somos apenas um apêndice, ou um anexo provisório, no mapa da Bahia – em acordo ao o decreto imperial de 1824, que retirou a Comarca do São Francisco da Província de Pernambuco e anexou-o a Minas Gerais e depois à Bahia, como dito decreto rezava: “até que um novo ordenamento das províncias da Nação Brasileira seja realizado.”
 Entrementes, entendemos que este novo ordenamento não depende tão somente da vontade das populações desses territórios – que ao todo somam nove a reivindicar autonomia – mas deverão obedecer aos interesses e desígnios dos governos centrais dos respectivos estados, em comum acordo com o Governo da União.  E estes interesses, a medida em que ditas regiões crescerem em importância econômica e desenvolvimento humano, mais forte será o desígnio dos governos estaduais em obstaculizar  o desiderato preconizado pelo decreto  de Dom Pedro I em 1824. Portanto não vemos no horizonte, por enquanto, o tão ansiado novo mapa deste país continente que ocupa metade  da América do Sul,  ser redesenhado.

 

 

VINICIUS AZZOLIN LENA - Jornalista - Editor do jornal: "NOVA FRONTEIRA" de Barreiras BA. Presidente da Academia Barreirense de Letras. 

 

 

 ***

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 A DIVULGAÇÃO DA CULTURA PORTUGUESA ATRAVÉS DAS ASSOCIAÇÕES LUSO-BRASILEIRAS

 

 

 

 

Com cerca de 170 agremiações espalhadas por todo o vastíssimo território brasileiro, o papel que têm cumprido na divulgação da Cultura Portuguesa ainda não foi devidamente avaliado pelos especialistas nem tão pouco pelos governantes dos dois paises que costumam atravessar o Atlântico mais pela devoção turística do que ao serviço dos reais interesses de Portugal e Brasil.

As associações lusobrasileiras, cujo pioneirismo foi inaugurado pelo Real Gabinete Português de Leitura, em 1837, no Rio de Janeiro, têm feito mais pela Cultura Portuguesa do que todos os políticos seja ele qual ele for. Num passado já remoto, lembramos dois estadistas portugueses que tentaram estimular a aproximação de Portugal e Brasil - o Rei D.Carlos, que preparava a sua visita quando foi barbaramente assassinado, juntamente com o filho mais velho, e o Presidente da República, António José de Almeida, que em 1922 veio participar das comemorações do centenário da independência. E os outros reis e presidentes que fizeram – e neste capítulo incluímos os dirigentes dos dois lados, perguntamos o que é que eles fizeram para que portugueses e brasileiros possam unir-se na construção de um futuro comum. Que responda quem souber!

Às associações de espírito lusíada no Brasil já devemos bastante assim como ressaltamos alguns intelectuais e artistas lusos, entre os quais apontamos as obras de Hipólito José da Costa, João Lúcio de Azevedo, Raphael Bordallo Pinheiro e dos contemporâneos Gilberto Freyre, Jaime Cortesão, Pedro Calmon, Ferreira de Castro, Miguel Torga, Serafim Leite e de tantos outros!

Do ponto de vista associativo, o Clube Português passou a ter, desde 1920, uma posição de relevo, no plano cultural, mas, nos últimos decênios anos, foi dos que mais se ressentiu, em São Paulo, da queda do surto emigratório e apenas na presidência de Rui Mota e Costa a crise econômico-financeira foi debelada. Uma nova fase cultural começou em 2010 com a mesa - redonda, coordenada pela escritora Teresa Rita Lopes (da Universidade Nova de Lisboa) e a participação de professores e escritores brasileiros e portugueses, em torno de “As idéias políticas de Fernando Pessoa”, desmentindo que o poeta da Mensagem fosse um mero seguidor do regime fascista. E não o foi, conforme revelaram os documentos do livro Fernando Pessoa, Salazar e o Estado Novo, assim como as conclusões do debate (em 14-7-2010), no Clube Português, nas comemorações, no Brasil, do 75º aniversário da morte de criador dos heterônimos.

 

 

Um livro foi lançado – 90 anos do Clube Português, sob a coordenação do Centro de Estudos Luís de Camões (órgão cultural da entidade), e nesse volume de 160 páginas reunimos os principais episódios da história da agremiação luso-paulistana, desde 1920 até hoje. Foram recolhidos depoimentos daqueles que têm acompanhado a vida associativa e vão continuar a fortalecê-la enquanto puderem. O volume reúne dezenas de manuscritos e fotografias dos fundadores e colaboradores dos principais acontecimentos, testemunhando o muito que fizeram pela dignificação cultural da Nação Portuguesa no Brasil e da receptividade da acção que tiveram e que ainda cumprem no país irmão. Por fim, vale a pena ressaltar que o espírito lusíada do Clube Português de São Paulo tem como símbolos os dois maiores poetas de Portugal de ontem e de sempre - Luís de Camões e Fernando Pessoa!

 

 

 

JOÃO ALVES DAS NEVES  -  Escritor português, radicado no Brasil. Foi redator - editorialista de "O Estado de S. Paulo", durante trinta e um anos e professor - pesquisador da Faculdade de Comunicação Social Gasper Libero (São Paulo), durante um quarto de século. Autor de cerca de três dezenas de livros publicados, seis dos Quais sobre a obra de Fernando Pessoa. O seu último livro foi lançado em em Lisboa, pela Editora Dinalivro, sob o titulo de "Dicionário de Autores da Beira-Serra", região onde nasceu.
 

 

 

 ***

 

                   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALUIZIO DA MATA - MARIA, OBRA PRIMA DO CRIADOR
 
 
 
 
 
 

 
Na ermida da Canção Nova, onde o Terço é rezado, existe uma figura de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços. O artista que fez a obra conseguiu dar às imagens uma beleza muito grande. Poderíamos dizer que, conseguiu dentro das possibilidades humanas, uma perfeição de traços e cores.
Ao rezar o terço hoje, como sempre o faço às seis horas da manhã, ligado na TV Canção Nova, veio-me ao pensamento fazer uma comparação:
- Se um ser humano conseguiu dar a Jesus Menino e à Sua Mãe expressões tão bonitas, imagine Deus ao gerar Jesus e criar Maria! Pode nossa mente imaginar o que fez Deus nessas duas pessoas?
Já não falo pelo lado espiritual, pois nelas não há defeitos. Aventuro-me a falar sobre o aspecto físico. É sabido, por relatos bem antigos e transmissão da tradição, que Jesus era um homem muito bonito. Nele a perfeição dos traços fisionômicos se fazia notar.
Mas, e Maria? Pode alguém imaginar diferente daquele que pensa que Maria foi a criatura mais bonita que Deus fez? Pode, por mais crítico que seja, alguém pensar em Maria sem uma beleza digna da perfeição? Se um pintor procura dar a maior beleza à sua obra, imagine Deus, que é o maior artista que possa existir!
Pelos cálculos possíveis de serem feitos, Maria viveu 13 anos e dois meses depois da Ressurreição de Jesus. Levando em consideração que ela tenha se casado aos 15 anos, como era o costume da época e somados os 33 anos que Jesus viveu, ela teria vivido em torno de 60 anos. Sabendo que ela passou por grandes privações, por grandes medos e angústias, por enormes sofrimentos físicos e espirituais, lógico será pensar que isto pos a ter refletido em sua aparência. Que mulher que sofrendo o que ela sofreu, vendo a trajetória e o fim de Jesus, não teria estampado em suas feições tantos sofrimentos?
Mas, aí vem a grande Obra de Deus! Ele faz com que a pessoa depois de deixar esta vida terrestre, tenha um aspecto diferente daquele que tinha quando vivia neste mundo.
A perfeição do espírito se faz presente. Com Maria muito mais que isto aconteceu, pois além do espírito ela foi assunta ao Céu de corpo e alma. Primeiro, porque ela teve a assistência de Deus desde antes de nascer e a tem até agora. Segundo, porque nas diversas aparições dela em épocas diferentes, a descrição de sua figura é feita como a de uma mulher muito jovem, de beleza indescritível.
Por isto, mesmo que o autor que pintou Maria e Jesus Menino tenha conseguido fazer uma obra de arte, não pode ter expressado totalmente a beleza real dos modelos. Pode ter alguém a pretensão de ser melhor artista do que o Criador de
todas as artes? Feliz é quem ama Jesus, mas que ama também Maria Santíssima. Feliz é o vicentino que a tem como protetora. Pense sempre em Maria, criatura sem mancha ou defeito, físico ou espiritual, pois ela é a Obra prima de Deus.
 
 
 
 
ALUIZIO DA MATA - Vicentino, Sete Lagoas, Brasil

 

 

 

 ***

 

 

 

Fernando_Peixoto.JPG

 

 

 

 

 

 

 

Era uma vez um menino (a estória começa assim, e já não sei se a sonhei, se ma contaram a mim).
De qualquer forma, é tão gira que não deixo de a contar.
Escutem-na, pois, com atenção, que é uma estória de pasmar.
Era uma vez um menino irrequieto e teimoso. Muito rico, tinha tudo, mas era mau, orgulhoso. Não se dava com ninguém, julgava-se tão importante que até dos próprios colegas estava sempre distante. Nunca brincava com eles nem, ao menos, lhes falava. Virava as costas a todos e a todos desprezava, porque ele tinha tudo: comboios, carros, aviões, cd’s e computadores, barcos e foguetões; tinha brinquedos a esmo, tinha jogos aos montões, bicicletas, patins, tinha enormes camiões, tinha gruas, tinha barcos, violas e acordeões, tinha lindas espingardas e gigantescos canhões; tinha arcos, setas, pistolas, tinha índios aos milhões, tinha pianos, violinos, tinha gigantes e anões, bonecos articulados, elefantes e leões, tinha palhaços que riam e que davam trambolhões.
Tinha tudo este menino, tinha tanta, tanta coisa que não brincava com nada e, se alguma coisa fazia com os seus divertimentos, era parti-los em pedaços, em pequenos elementos, e não sentia a alegria que sentiam os colegas com os seus próprios inventos, os colegas que brincavam com carros de rolamentos, que jogavam à sameira nas bermas dos pavimentos, que sabiam transformar um pedaço de papel no mais saboroso invento: num avião, num batel ou mesmo num viravento, até mesmo um foguetão, e, de um pedaço de arame, faziam uma bicicleta, e da vara de um guarda-chuva faziam um arco e uma seta, com pedaços de madeira cheios de pregos e pó, bastava pôr-lhes um fio e era logo um trenó.
E o nosso menino rico que nada disto sabia, de cada vez que brincava tinha menos alegria. De facto, não precisava de pensar ou de inventar: aquilo que desejava tinha à mão de semear. E a criada, coitada, era a que mais aturava com as birras do Pedrinho que tanto a arreliava.
Até que um dia, em Dezembro, pouco antes do Natal, começaram a fazer um Presépio colossal. O Pedrinho, agitado, foi às gavetas buscar bonecos de porcelana coloridos, a brilhar.
Nossa Senhora era enorme e tinha um manto azulado de veludo, tão macio, e todo a oiro bordado.
S. José, o Carpinteiro, que tinha cabelo loiro, vestia um manto castanho também bordado a oiro. Os Reis Magos, imponentes, traziam cofres de metal e os camelos, gigantes, eram todos de cabedal. Os cordeiros, pequeninos, eram brancos como a cal e estavam todos cobertos por lã fina e natural.
A própria vaca, agachada, cheirava mesmo a jasmim, a preto e branco pintada e com cornos de marfim. O burrito era cinzento e tinha um pelo sedoso, e abanava o pescoço todo feliz e garboso. Lá no alto havia a estrela que inundava de luz (com uma lâmpada por trás) o bom Menino Jesus. O bom Menino Jesus, numa caminha deitado, sobre palhas feitas de oiro, num riquíssimo brocado.
Estavam todos tão contentes, que até se iam esquecendo de pôr o anjinho branco que do céu vinha descendo e, quando deram por ela, o Pedrinho, a protestar, pega no anjo com raiva e vai pô-lo no seu lugar. Fê-lo, porém, de tal forma, tão brusco e arreliado, que escorregou no soalho e caiu desamparado! E ao seu lado ficou o anjo feito em pedaços, com o corpo para um lado e para o outro... os dois braços!
Batendo com os pés no chão e teimando, renitente, o Pedrinho jogou fora o anjo deficiente.
O Papá ainda tentou, a Mamã ainda quis colar os braços do anjo mas, o Pedrinho, infeliz, teimoso, desobediente, não queria no Presépio um anjo deficiente. E o anjo foi para o lixo com os dois braços partidos. Em seu lugar, colocaram outro de lindos vestidos.
Entretanto, já na rua, um colega do Pedrinho viu, no caixote do lixo, os restos daquele anjinho.
Como era muito pobre, fez um Presépio em cartão, com bonecos desenhados por pedaços de carvão e aproveitou o anjinho, o tal dos braços quebrados, e, colando-os com carinho, pô-los de novo ligados. Meteu-o no seu Presépio e, como não tinha luz, para que o Menino o visse pô-lo ao lado de Jesus.
Chega a Noite de Natal e, em casa do Pedrinho, estava tudo tão contente! Estava tudo tão quentinho que até o próprio Pedrinho estava feliz, sorridente. Havia pinhões e figos, uvas-passas, rabanadas, avelãs, amêndoas e bolos e frutas cristalizadas, tortas, aletria e nozes, bolo-rei, perú, pão-de-ló, pastéis, creme, filhozes, champanhe e Vinho do Porto e bolinhos de bolina, arroz-doce, frutas várias e licor de tangerina... Ei!, tanta coisa, meu Deus! Que aquela gente nem sabia distinguir bem o sabor de tanta coisa que comia.
Mas, perto da meia-noite, quando o Pai-Natal chegava e o Pedrinho, ansioso, suas prendas aguardava... fez-se escuro como breu, foi-se a luz, num arrepio, e o Pedrinho ficou cheio de medo... e de frio.
Parou o aquecimento. Nem uns aos outros se viam. Foi-se a alegria dos rostos: dos rostos que já não riam. Não tinham uma lanterna, nem ao menos uma vela, e o Pedrinho, muito triste, veio chorar p’rá janela...
Foi então que, ao longe, viu uma luz muito brilhante para lá do seu jardim, sobre um casebre distante!
E, pé – ante - pé, saiu para ver o que se passava, donde vinha aquela luz que tanto o fascinava. E seguiu pela estrada fora. Andou, andou, e já cansado chegou, finalmente, ao casebre, todo ele iluminado!
Espreitou pela janela: e que viu ele, afinal?
Viu o colega da escola celebrando o seu Natal. Era aquele menino pobre que recolhera o anjinho, afagando o Deus Menino com infinito carinho, um Deus Menino em cartão a fingir que era Jesus, com o Anjo deficiente a inundá-lo de luz. E era tal a luz do Anjo, enchendo a casa de luz, que até parecia que o Anjo era o Menino Jesus!
Bateu à porta o Pedrinho, muito triste e arrependido. Veio abrir-lha o colega, muito alegre e divertido.
- Que fazes aqui, Pedrinho? Eu não contava contigo, mas dás-me grande alegria se quiseres ficar comigo.
O Pedrinho, arrependido, a chorar, sentidamente, ajoelhou-se e beijou o Anjo deficiente.
Foi então que o Deus Menino (que era feito de cartão) se ergueu, beijando o Pedrinho e dando-lhe o seu perdão.
As coisas simples, amiguinhos, têm sempre mais valor se as rodearmos de carinhos e de muito, muito amor.

 

 

 
FERNANDO PEIXOTO - Escritor, Professor do Ensino Superior, Vila Nova de Gaia, Portugal

 

 

 

***

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 VÉSPERA DE NATAL...

 

 

 

 

 

 

Um frio de enregelar vinte e três anos, em cima da bicicleta, deixava a aldeia, seguia para o campo, um cesto atrás com a ceia para a tia Guilhermina.

 

A tia Guilhermina, velhinha de oitenta e muitos anos, vivia sozinha numa barraca perto do rio. Quase não se podia entrar, a porta da rua e única, mal se começava a abrir batia logo na cama de ferro, sempre por fazer. As forças já começavam a faltar à tia Guilhermina e ninguém a ajudava. Ao lado ficava uma mesa com um fogão, panelas, pratos, copos e talhares. Era tudo o que tinha, ali, naquele ermo, sem família, sem mais ninguém, segundo dizia, sós os pássaros, os coelhos e as lebres lhe faziam companhia mas ela não era propriamente a branca de neve. Curvada pelo peso dos anos e do reumatismo sobrevivia sem grandes queixumes, resignada mesmo. Se tivera passado, tinha-o esquecido, nunca falava nele e apenas dizia que não tinha ninguém Ela não insistia, não queria ser indiscreta e imaginava uma vida tormentosa cheia de faltas de todo o género e compadecia-se ainda mais.

 

Pensando na tia Guilhermina pedalava mais forte, o cesto quase se desequilibrava, o vento batia-lhe forte na cara, gelado, puxava para cima a gola de raposa da samarra, mas atenta à curva que se aproximava. As luzes da aldeia tinham ficado para trás. A escuridão era profunda quando finalmente chegou, saltou da bicicleta e começou a andar pelo meio dos campos. Se fosse Verão haveria pelo menos grilos a cantar. Assim, além da escuridão era o silêncio que também a assustava. O silêncio e os cães que ladravam, mas felizmente ao longe. Foi andando com cuidado, não fosse cair, ou torcer um pé, a lanterna acesa, com aquele medo miudinho de se sentir sozinha naquele ermo, mas a tia Guilhermina também vivia sozinha, dizia para si mesma a animar-se. Que corajosa era, pensava a seguir. Ela não seria capaz. E lá continuava a andar, pois a barraca ainda ficava longe.

 

Foi há muitos anos, agora seria impensável.

 

Quando finalmente chegou e bateu à porta e chamou, mas apenas lhe respondeu o mesmo silêncio. Quase a prever desgraças, empurrou a porta devagarinho, entrou. Nada. Ninguém. A sua aflição aumentava, onde se teria metido a tia Guilhermina ? Teria caído. Coitadinha. Tornou a sair, a lanterna mal iluminava a terra e começou a procurar e a chamar. O silêncio sempre como única resposta. Acabou por deixar o campo, voltar para a estrada, para a bicicleta, caminho da aldeia.

 

Foi quando tornou a ver gente e perguntou pela tia Guilhermina. Que estava a cear em casa da filha, disseram-lhe e indicaram-lhe o caminho. Filha ? estranhou, pois se sempre lhe dissera que não tinha família.

 

Foi, o cesto pesava, o frio parecia que aumentava, puxou as meias de lã, e de novo a gola da samarra, tocou à campainha.

 

---- Quem é ? ouviu perguntar uma voz ordinária e logo uma mulher com um bonito vestido e saltos altos, colar de pérolas ao pescoço, bem penteada, que quase poderia parecer uma senhora se não fosse a voz, lhe entreabriu a porta e antipática, continuou: ---Que quer a estas horas ? Não incomode. Não a posso atender.—disse.

 

Até ela chegava a música da telefonia, objecto raro e de luxo ao tempo. Discretamente espreitou para dentro da casa e pareceu-lhe ver na sala de jantar uma mesa comprida com toda a espécie de petiscos e aguarias.

 

Olhou para o seu cesto de palha, recheado, para a samarra, as meias de lã. Olhou para si mesma, deu meia volta e voltou para casa acabar de enfeitar o presépio. O cão e os gatos esperavam por ela. Acendeu a lareira, sentou-se a olhar as chamas e à espera do marido que tinha ficado a fazer serão no escritório.

 

Era a véspera de Natal…

 

 

 

 

TEREZA DE MELLO (Maria de Lourdes Brandão de Mello) - Faleceu em Outubro de 2009, na cidade de Abrantes,(Portugal) onde vivia. Foi durante anos colaboradora assidua  do Blogue luso-brasileiro "PAZ" . Autora de vários livros de poemas, e de " A Casa da Barca", edição da Câmara Municipal de Ponta da Barca - Outubro de 2000.

 

 

 

 

***

 

 

Pinho_da_Silva.jpg

 

 

 

PINHO DA SILVA -  Nasceu a 12 de Janeiro, em Vila Nova de Gaia, (Portugal). Frequentou a Escola de Belas Artes, do Porto. Discípulo de Acácio Lino, Joaquim Lopes e do Mestre Teixeira Lopes. Primo do escultor Francisco da Silva Gouveia (autor da celebre estatueta de Eça de Queiroz). Vila-florense adotivo, por deliberação da Câmara Municipal. Redator do “Jornal do Turismo”. Membro da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Foi Secretário-geral da ACAPPublicou " Minha Vida Com Teresinha", livro autobiográfico.

 

 

***

 

 

 

 

 Horário das missas em, Jundiai ( Brasil):

 

http://www.horariodemissa.com.br/search.php?opcoes=cidade_opcoes&uf=SP&cidade=Jundiai&bairro&submit=73349812

 

 

 Horário da missas em São Paulo:


http://www.horariodemissa.com.br/search.php?uf=SP&cidade=S%C3%A3o+Paulo&bairro&opcoes=cidade_opcoes&submit=12345678&p=12&todas=0

 

http://www.horariodemissa.com.br/search.php?uf=SP&cidade=S%C3%A3o+Paulo&bairro&opcoes=cidade_opcoes&submit=5a348042&p=4&todas=0

 

 

 Horário das missas na Diocese do Porto( Portugal):

 

http://www.diocese-porto.pt/index.php?option=com_paroquias&view=pesquisarmap&Itemid=163

 

 

 

***

 

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