No ano do centenário de nascimento da Rainha D. Amélia, meu pai, foi encarregado, pelo conhecido jornalista, Costa Barreto – que muito admirava e apreciava o seu estilo poético, – a realizar pequena homenagem, à última Rainha de Portugal, para o velho matutino portuense: “O Comércio do Porto”.
Baseado no excelente texto, e em informações, que fui colhendo, seleccionei elementos preciosos, que irei apresentá-los ao leitor curioso.
A Rainha D. Amélia, nasceu quando seus pais se encontravam no exílio, em Inglaterra – o Conde Luís Filipe Alberto e a Condessa Isabel Francisca de Assis, – a 28 de Setembro de 1865, no Palácio de Twichenham, e batizada, pelo Rev. Guelle, arcebispo de Westminter, no mesmo dia que nasceu.
A mãe, a Condessa Isabel, educou-a, apesar da grande fortuna que possuía, de forma simples; incentivando-a a conviver, sem preconceito, nem vaidade bacoca de superioridade, infelizmente, tão habitual em alguns membros da Alta e mormente, da “baixa” nobreza.
Quando a graciosa princesa chegou à idade de fazer a Primeira comunhão, em lugar de trajar vestido rico, de elevado valor, como era normal em crianças da sua linhagem, envergou vestidinho modesto, igual ao das meninas pobres da povoação de Eu.
Gostava sua mãe, dizer, para quem a ouvia, e à própria filha, que a vestira com simplicidade, para que ninguém se sentisse humilhado…
A boa educação materna, moldou-lhe o carácter e o generoso coração da princesinha, que mais tarde, seria Rainha de Portugal – D. Maria Amélia Luísa Helena de Bourbon Orléans de Bragança. A Rainha, que apertava, sem pejo, as mãos de modestos operários, e socorria, quase sempre secretamente, os pobres da cidade de Lisboa.
Pelo entardecer, ao lusco-fusco, ou a pleno dia, sob o disfarce de caridosa senhora, acompanhada, apenas por uma dama, a Rainha, saia dissimulada, a visitar os pobres, carentes de tudo…até de afectos.
Além da importância, que deixava, ensinava elementares noções de puericultura; beijava afectuosamente os petizes; e, por vezes, trocava as fraldas dos bebés!... Com sorriso nos lábios e olhos brilhando de pura alegria.
Quem pensaria, nessa remota época, que a amável senhora, que deixava, juntamente com palavras amigas, a quantia necessária, para que as crianças não passassem fome, era a própria Rainha?!
Nessas horas de caridade, envergava modesto vestido negro; e dissimuladamente, toda de preto, para não ser reconhecida, saía com o rosto sempre velado por espesso véu, que escorria elegantemente do chapéu.
Vestidos, que muitas vezes, eram fabricados por suas próprias mãos assim como os chapéus.
O dinheiro arrecadado, que de outro modo, iria para modistas de Alta-costura, era inteiramente canalizado para casas de humildes trabalhadores e mulheres marginalizadas.
Foi incansável, também, na luta que travou (com dinheiro e influência,) contra a tuberculose, espalhando sanatórios por toda a nação.
Chegou a transformar a Residência Real de Outão, num hospital!
Seria imperdoável, nesta reduzidíssima biografia, não recordar: que em 1905, fundou o Museu dos Coches, reunindo carruagens, que estavam a detiorá -se, e, certamente, se perderiam para sempre.
Para mim, que dou muito mais valor a actos de bondade, que títulos nobiliárquicos, e universitários, gestos de ternura e generosidade, toca-me deveras o coração, e é excelente exemplo para as senhoras, que apenas, espanejam: dinheiro e beleza, nos salões do high-life.
A terminar a brevíssima biografia, e ainda a título de curiosidade, acrescentarei:
Chegou a Portugal, para casar, a 19 de Maio, de 1886. Desembarcou no cais da estação ferroviária de Santa Apolónia, na companhia dos pais, irmão Filipe e o tio-avô, duque de Aumâle, general de cavalaria de França.
Decorrido três dias matrimoniou-se, na igreja de S. Domingos. Foi casamento de amor, raro na época, entre membros das Famílias Reais.
Após, aproximadamente dois anos, do monstruoso regicídio, exilou-se em Londres. Depois do casamento do filho, D. Manuel, foi residir no Castelo de Bellevue, em Versalhe, onde recebia portugueses, indiferente às ideologias políticas.
Faleceu, a 25 de Outubro, de 1951, no Palácio de Bellevue, próximo de Paris.
Haveria, ainda, em Junho de 1945, visitar Portugal, terra que nunca a esqueceu, e guardava, apesar de tudo, as mais gratas recordações.
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