Em homenagem a uma das mais brilhantes figuras que o Brasil já teve, RUI BARBOSA, comemora-se a 05 de novembro, data de seu nascimento em 1849 na cidade de Salvador, Bahia, o DIA NACIONAL DA CULTURA. Legando-nos maravilhosos exemplos de desprendimento, patriotismo e amor à Justiça, de firmeza de princípios, nada mais coerente do que reverenciarmos tão ilustre personalidade, dotado de grande bagagem intelectual e um dos mais profundos conhecedores da ciência jurídica, como se fosse, em cada ramo do direito público ou do direito privado, um especialista que os dominava com culto esmerado.
Revelando desde a infância uma extraordinária inteligência, unida a uma impressionante força de vontade, concluiu, com esses sentimentos de otimismo e decisão, o curso de Direito na Faculdade do Largo de São Francisco em São Paulo. Como estudante, já revelava o vigor de seus propósitos. Ainda no quarto ano, apesar da escravidão ser um assunto melindroso, do qual poucos ousavam combatê-lo abertamente, Rui clamava contra a legalidade do cativeiro: - “Uma brutalidade que está fora de todas as Constituições e de todas as leis”. Sua pena fulgurante a serviço das questões sociais a classificava como o “resumo de todos os crimes”.
Uma de suas grandes virtudes foi nunca se trair. Assim, jamais negociou por exemplo, qualquer de seus ideais com determinado cargo de relevância, tornando-se um exemplo para grande parte dos políticos de hoje. Tanto que recusou convite do Visconde de Outro Preto para o posto de Ministro, pois o programa governamental deste não dispunha sobre a Federação (campanha iniciada por ele para união das províncias, hoje, Estados). Sempre defendeu seus direitos e contra as falsas acusações levantadas por um deputado baiano, respondeu: - “Creio na moderação e na tolerância, no progresso e na tradição, no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes, rejeito as doutrinas de arbítrio e abomino as ditaduras de todo o gênero”.
A retidão de seus princípios motivou-lhe uma intensa perseguição, obrigando-o a fugir para Buenos Aires e de lá à Inglaterra, onde escreveu as famosas “Cartas do Extremo Oriente”, sobre o significado da Marinha de Guerra na vida das nações. Em “As Minhas Conversações” respondeu ao escritor Afonso Celso à acusação de ter sido incrédulo, materialista e ateu:- “Calúnia contra a qual protesta a minha vida, o lugar que sempre teve a religião na minha casa, nas minhas relações domésticas, na educação de meus filhos”. Neste aspecto, ressalta-se, que Rui Barbosa lutou com grande interesse pela liberdade religiosa, elaborando inclusive, o decreto de separação da Igreja do Estado, estabelecendo relações entre o poder eclesiástico e o civil, combatendo o divórcio e projetos oprimentes ao catolicismo.
Exímio jurista
O saudoso Prof. Alfredo Buzaid, em trabalho específico pela Editora Saraiva, abordou a contribuição do jurista baiano ao progresso do Direito Processual Civil e, de modo especial, ao conhecimento da bibliografia estrangeira que possuía sobre a matéria, circunstância até certo ponto pouco divulgada.
O seu valor internacional foi reconhecido em 1907, em Haia, na Holanda, durante a Segunda Conferência de Paz. Representando o Brasil, impôs-se a todos pelo extraordinário talento e brilhantismo com que se houve para defender a “força do direito contra o direito da força”. Não hesitou em pregar ante os representantes das Nações lá reunidos o respeito aos fracos e a igualdade jurídica dos povos.
Durante o Império, chegou a ser monarquista, aspecto que não o relegou a uma pessoa controvertida. Ao contrário, em todas as épocas e regimes, a meta que Rui Barbosa sempre perseguiu foi a de construir uma Pátria economicamente forte, moralmente digna e socialmente justa. O seu espírito exuberante necessitava de abertura e atividade, embora em seu caminho se acumulassem decepções. No entanto, venceu-as sempre impávido, com aquela têmpera de aço com que desafiou as investidas contra o Direito, a Justiça e a Liberdade. Em meio século de apostolado, ele intentou fazer uma política em seu verdadeiro sentido, aquela em que definia como a que “afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a autenticidade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia e cria, apura e eleva o merecimento”.
Encerramos com transcrição de parte de texto do brilhante Prof. Buzaid:- “...Se, em sua longa e luminosa trajetória de homem público, nada mais tivesse feito do que ensinar a boa doutrina para imortalizá-lo, bastaria a lição em que definiu os rumos da nacionalidade que, em sua evolução, busca reencontrar-se, valorizando o homem, pregando a legítima coexistência das classes sociais e dignificando o trabalho, tudo sob a inspiração de Deus” ( “Rui Barbosa – Processualista Civil e Outros Estudos”- Pág. 121 – Ed. Saraiva).
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. Ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas(martinelliadv@hotmail.com)
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