Como boa parte das comemorações religiosas, a Páscoa tem sua origem relacionada aos fenômenos da natureza. Há milhares de anos, os pastores do Hemisfério Norte proclamavam a chegada da primavera com festa, revelando-se por isso, num evento universal, onde os homens, independente do credo e origem, festejam o renascimento da vida.
Para os católicos ela passou a significar libertação através da Ressurreição de Jesus, que venceu a morte, completando a redenção da humanidade. Este fato é de capital importância à compreensão do Cristianismo, de tal modo, que sem ele, não seria possível imaginar sua existência e continuidade. Nesta trilha, com raro brilhantismo, em recente comemoração da Semana Santa, Dom Cláudio Hummes, cardeal-arcebispo metropolitano de São Paulo, apregoou que é preciso “derrotar a cultura da morte e instalar a cultura da vida”.
Assim, esse momento nos lembra da importância de se festejar a existência. Devemos refletir sobre o mundo em que vivemos, marcado pelas desigualdades, egoísmos e injustiças e passarmos a lutar contra as malesas reinantes, através de ações desprendidas, que possam consolidar a dignidade humana e consequentemente, a ordem social. Enraizada em princípios éticos que reafirmem a primazia da pessoa sobre a economia, alcançaremos uma convivência solidária e com partilha.
Por outro lado, há muitas tradições e símbolos envolvendo o período pascal, como ovos de chocolates e coelhos. Apesar da importância histórica que representam, praticamente foram absorvidos por apelos comerciais, distanciando-se de seus verdadeiros significados. O maior sentido da festa pascal reside na força da ressurreição de Jesus, colocando o ser humano no caminho de realizações sólidas e na linha da fraternidade.
Nessa trilha e a título de reflexão, transcrevemos parte de artigo publicado pela historiadora Mary Del Priore :- “O mito do eterno retorno embutido nos ritos da Páscoa, no símbolo do ovo, significa, não o paraíso perdido, mas o que podemos construir. Para vivermos o desafio de nos encontrar com a vida, é preciso nos inserirmos numa dinâmica que nos transforme em seres melhores do que somos. Despojando-nos de toda a resignação diante do horror. Abandonando todo o comodismo perante o desespero. Para isso, além de “ter boa mão”, como recomenda a tradição popular, melhor seria “dar a mão” (“ O Estado de São Paulo”- Suplemento Feminino – pág. 02 – 22/23.04.2000).
Reflexões para a Páscoa
Os que passam a vida exclusivamente buscando poder e riqueza, quando alcançam seus objetivos, são mais respeitados do que aqueles que procuram uma convivência fraterna, igualitária e solidária. Deixam-se de lado aspectos morais, éticos e religiosos, sendo que o bem jurídico de maior proteção - a vida – transformou-se em algo descartável, quase que desprovido de qualquer valor. A mera imagem de que o sucesso é vital, passou a dominar a mídia, não importando o que se faz para obtê-lo. E tal quadro fomentam as injustiças. As desigualdades sociais são cada vez mais gritantes e o egoísmo desenfreado acaba por direcionar ações, atitudes e até gestões políticas, que substituem o interesse social pelas aspirações individuais de seus titulares.
Aproveitemos esse domingo festivo para avaliarmos nossas posturas. Verificarmos se estamos mais voltados para nós mesmos, fechados num individualismo muito grande ao invés de espelharmos respeito e afeição ao próximo. E principalmente, participarmos ativamente dos trabalhos de nossos representantes populares, exigindo-lhes posições condizentes com os cargos que exercem buscando primordialmente o bem comum
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
OS MEUS LINKS