Infelizmente, muitas pessoas em todo o mundo, principalmente brasileiros, alguns por suas precárias formações, desde pequenos se acostumam a bajular pessoas que estão no poder ou que desfrutam de condições financeiras bem satisfatórias. Essa badalação chega às raias da submissão, sendo uma constante, trazendo muitas vezes uma sensação de total impotência, acreditando que é necessário supervalorizar tais indivíduos, independentemente de quais sejam as suas intenções e objetivos ou de como alcançaram determinadas posições de destaque.
E ao contrário, não dão mérito aos que realmente deveriam ser reconhecidos, como cientistas, pesquisadores, educadores e muitos que se dedicam a melhorar a qualidade de vida dos outros, por vocação, caráter e principalmente por solidariedade e participação ativa na sociedade, como atualmente observamos inúmeros profissionais da Saúde e de serviços essenciais se entregando com determinação aos seus ofícios, sem contar os inúmeros voluntários que se arriscam em plena pandemia do corona vírus para se dedicarem ao próximo.
A inversão de valores não é só provocada pela ignorância, mas às vezes também por egoísmo, interesses pessoais e exibicionismo barato.
Por outro lado, as que estão no outro lado e que ostentam determinados “status” em sua grande maioria adora ser paparicada por esses indivíduos, alienados ou que buscam alguns ganhos, sentindo-se como se fossem os maiorais. No entanto, tanto uns, como outros revelam uma sociedade onde a tônica é o resultado (e não os meios para atingi-lo), o que não deixa tempo para o próximo. Tal quadro reduz a sensibilidade, passando muitos a menosprezarem os sentimentos alheios, a não considerarem as opiniões do outros e a relegarem a um segundo plano as noções mais básicas de cortesia e bom relacionamento. Só agem harmoniosamente se tratarem com seres ou assuntos convenientes às suas ambições.
O bem comum, que deveria ser buscado permanentemente, identifica-se como a associação de circunstâncias que permitam as pessoas alcançarem seus anseios. Deveríamos, portanto, resgatar os princípios autênticos como o da fraternidade para reduzirmos as diferenças entre os indivíduos, eliminarmos a violência e buscarmos uma convivência pacífica em comunidade. O descompromisso com terceiros e a indiferença com a situação destes, revela uma individualidade extrema que só prejudica o desenvolvimento moral e ético da coletividade em geral.
A cidadania é sempre uma conquista coletiva que depende do nosso corajoso empenho pessoal e operacionalmente, revela-se em qualquer atitude cotidiana que implique a manifestação de um atributo de pertinência e de responsabilidade conjunta. Assim, se não executarmos a nossa parte ou não termos a ciência de pertencer a um grupo, continuaremos condescendentes com as irregularidades que acabam prejudicando a todos e àqueles que só pensam no luxo, na prepotência, no individualismo, realizando-se com tais aspectos, certamente encontrarão no futuro, total desamparo espiritual.
Está na hora de deixarmos de lado muitas circunstâncias banais para assumirmos propósitos autênticos no sentido de quitarmos as imensas dívidas sociais criadas pelo Estado e alimentadas pela elite que o sustenta e controla. Com isso, crescem os índices de miserabilidade e indigência, ainda mais com a pandemia. E a maioria dos brasileiros ainda não tinha percebido, mas o país já vivia um momento de concordata silenciosa, em que fomos conduzidos a uma armadilha que nos deixou em grande vulnerabilidade por culpa das más administrações.
Se persistirmos no manifesto marasmo e no descaso que nos te-m caracterizado, o que esperar no futuro? A partir dessa situação que paira sobre o mundo, não há mais que se falar no individual, temos que pensar e agir em termos de coletividade. Solidariedade, fraternidade e partilha vão ser as palavras-chaves do futuro. Egoísmo, exibicionismo e enganação deverão ser lembranças dos atributos a serem superados de muitas pessoas.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e Letras Jurídicas (martinelliadv@hotmail.com)
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