Durante muitos anos, tradicionalmente maio foi o mês das noivas. Posteriormente, com as constantes crises econômicas, muitos matrimônios passaram para dezembro, favorecidos pelo décimo terceiro salário no Brasil, forte auxílio frente às despesas com as respectivas celebrações. No entanto, independentemente da época e de seu caráter festivo, o casamento será sempre uma decisão importante na vida das pessoas que não devem considerá-lo como algo descartável, pois as consequências advindas de seu eventual rompimento a qualquer tempo são muito sérias e às vezes tristes, agravando-se sobremaneira quando resultam filhos dessas uniões posteriormente desfeitas.
A frágil concepção que alguns lhe outorgam demonstra a falta de preparação que persiste em nosso país quanto aos enlaces, focando-lhes uma perversa vulnerabilidade. Com efeito, a formação para uma vida em comum, que absorve os problemas e os transforma em experiência, saúde e forças espirituais, deve ser vista como uma preocupação constante de pais, educadores e religiosos em geral para que a estabilidade familiar, base da sociedade, possa se estruturar de modo a atingir os seus fins primordiais.
A ausência de orientação e diálogo sobre os deveres, direitos e efeitos do matrimônio gera um profundo vazio, tornando o divórcio uma solução imediatista e simples, que em muitos casos, revela-se num repúdio ao afeto, à capacidade de recuperação, ao uso da inteligência, do bom senso e do esforço para se resolverem dificuldades e dissiparem-se dúvidas, que não faltam à vida de ninguém e muito menos na constância da convivência de um homem e de uma mulher. Enfim, nega-se ao amor a capacidade de aprimoramento e de perfeição, para simplesmente destruí-lo nas primeiras dificuldades.
São tantos e inúmeros os reflexos negativos originários de uma comunhão mal sucedida que tal decisão chega a se caracterizar até como vital e irreversível em diversas situações. Já se disse que ser infeliz sozinho é penoso, mas a dois é muito mais. A solidão é sempre dura, mas a dois é angustiante. A solidificação da família depende de um casamento bem estruturado. Essa deve ser a meta de todos que pretendem contraí-lo, reduzindo-se os fracassos e ampliando-o em ideal superior para não entendê-lo apenas como um ajustamento puramente humano, mas também como sacramento.
Em nossa carreira profissional pudemos constatar que muitas dissoluções ocorreram ao menor sinal de frustração ou cobrança. Faltaram aos consortes uma visão mais sólida sobre a relevância, os resultados legais e as responsabilidades de uma junção entre seres humanos que não se revela apenas em momentos de prazer e de alegria. A despeito da intenção de viver bem, todos os que compartilham o cotidiano estão sujeitos a diversos inconvenientes. Para superá-los, os conjugues devem se esforçar permanentemente no sentido de preservarem valores como a cumplicidade, a solidariedade e a honestidade em seus relacionamentos, mesmo extraoficiais, pois a união estável, em quaisquer de suas modalidades, como instituição social, necessita de pressupostos a fim de se estabelecer e perdurar. Assim, é preciso garantir a lealdade e diante das grandes crises, só é verdadeiro e têm alicerces o amor que “é para o outro”.
Para que a aliança seja satisfatória e duradoura, a escolha do companheiro deve ser baseada na afeição e atração mútuas, com a complementação harmoniosa das personalidades, respeito mútuo, fidelidade recíproca e partilha de afeto e carinho. O resto é só ilusão passageira.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. Autor de diversos livros.
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