Celebra-se a trinta e um de janeiro o DIA DA SOLIDARIEDADE. Trata-se de uma data de suma relevância, por convidar a uma séria reflexão sobre a importância de desenvolvermos uma convivência mais fraterna e solidária, notadamente numa época em que o desenfreado consumismo se sobrepõe a inúmeros princípios, tornando as pessoas mais frias e insensíveis.
Com efeito, e como asseverou o saudoso Dom Luciano Mendes de Almeida, “a realidade nacional revela três grandes anomalias que devem ser corrigidas o quanto antes: as concentrações de renda, terras e poder; o aumento cada vez maior de empobrecidos e excluídos dos benefícios; e a atuação oscilante do Estado, ora onerosa, ora desrespeitando o princípio da subsidiariedade que assegura e incrementa a autonomia dos diversos níveis de organização social e política.” (Revista “Família Cristã”- 09/1994 – p. 46).
Assim, a inclusão social se mostra como a grande solução para uma situação tão desigual como de nossos dias. Por isso, não podemos mais apostar em ações paternalistas, mas sim na mobilização de todos os setores. Imperioso que se multipliquem as ações sociais. Todavia, isso só se tornará realidade quando, dentro de nós mesmos, o individualismo for substituído pelo amor sincero ao próximo.
Somente a solidez dessa conduta capacita os indivíduos a resistir aos apelos fáceis e as tentações do mundo moderno. E essa mesma firmeza é que cria a respeito e o entendimento entre as pessoas, sendo que o compromisso com o bem comum vai se traduzindo no esforço constante de se promover o ser humano.
A insensibilidade e a busca do sentido da vida no consumo de bens desumanizam e trazem sérias conseqüências morais e existenciais. Numa época na qual os padrões dominantes privilegiam o ter em detrimento do ser, faz-se necessário traçarmos um novo horizonte para o amanhã, com a asseveração de princípios básicos como a solidariedade, que integra a terceira geração dos direitos humanos.
Por outro lado, vivemos num país com sérios problemas e que passivamente acompanha o aumento da concentração de renda em plena crise econômica, o que nos deixa diante de um grande desafio. A título de ilustração, invocamos o economista José Batista de Carvalho Pinto: “É preciso rever a estrutura tributária, previdenciária, sindical e política para que possamos ter uma economia com crescimento econômico desenvolvimentista, voltada para o social, com políticas consistentes e efetivamente canalizadas para a preservação da qualidade de vida, emprego e renda.” (Correio Popular – 02/05/2004 – B-4).
Como propósito moral que vincula o indivíduo à subsistência, aos interesses e às obrigações dum grupo social, duma nação ou da própria humanidade, fazendo com que ele partilhe construtivamente da vida do seu semelhante, a solidariedade encerra dois aspectos, ou seja, participação e ajuda: uma virtude que se subordina à disposição afetiva em relação a quem nos avizinha.
Para Franz Kafka, ela “é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”. O futuro, coletivo e individual, depende de esforços pessoais que se somam e começam a mudar pequenas questões para, estruturado em muito trabalho e numa boa dose de renúncia, alcançar gradualmente, e o quanto antes, a consolidação de uma convivência afável e justa.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário (joaocarlosmartinelli@terra.com.br)
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