O sentido real e profundo da celebração da Páscoa está sendo encoberto pela publicidade desenfreada e até certo ponto, inescrupulosa, dando-se à data, uma conotação extremamente consumista e comercial. Por isso, é preciso resgatar o seu relevante significado que transcende do campo religioso para influenciar e modificar a convivência social para melhor.
Com efeito, inaugura-se com a ressurreição de Jesus Cristo uma nova era para a humanidade, decretando a vitória da vida sobre a morte e apontando a libertação como ideal maior de todo ser humano. Em nossa realidade, inspirando-nos nesses preceitos, é premente a necessidade de se promover uma transformação de base no relacionamento humano, no qual todos tenham idênticas oportunidades e que seja possível estabelecer entre os homens, uma aliança eliminadora do isolamento, da marginalização, da desigualdade e da exclusão.
Para os cristãos, a Páscoa fala de vida e passagem. Realmente é preciso passar das nebulosas mentiras para a luz da verdade; do egoísmo que acumula para a partilha à fraternidade do amor; da tristeza e do vazio existencial para a alegria de horizontes definidos; do desânimo diante das dificuldades ao estímulo das verdadeiras conquistas, e principalmente, da ganância que isola para o desapego è a solidariedade.
São necessárias outras variações: desenvolver a coragem de modificar hábitos, de deixar temores para ser exemplo de evangelização e viver serenamente, com a paz no coração dos homens de boa vontade.
Essa celebração, portanto, leva-nos a repensar nossas vidas à margem desses preceitos, dos princípios do Direito Natural e do respeito à dignidade da pessoa humana, criando novas maneiras de sermos, de pensarmos e de nos relacionarmos com Deus, com o próximo e com a natureza, responsabilizando-nos por nossos atos, inclusive os que possam desabonar a ordem social.
A Páscoa propõe que lutemos contra as injustiças, as discriminações, a pobreza e a agressividade, tentando consolidar o respeito irrestrito à dignidade humana e, conseqüentemente, a paz social. Para tanto, devemos contribuir com atitudes éticas que reafirmem a primazia da pessoa humana sobre a economia, buscando os reais valores no plano da justiça social e da distribuição de renda.
Quando deixarmos morrer dentro de nós todo individualismo, toda vaidade e arrogância e cedermos esforços em nossos corações para partilha e a solidariedade, alcançaremos um mundo melhor, no qual inexistirão a ganância, a violência, a miséria e a exclusão dos que não são financeiramente úteis. Por isso, aproveitemos a ocasião para anunciar com ênfase os valores da vida e do amor como critérios fundamentais na construção de uma nova era.
Desejemo-nos, pois, Feliz Páscoa. Tal voto deve realmente ser formulado muitas vezes, mas de forma consciente e não só motivada pelo clima da festa, pela oportunidade da data ou por mera questão de costume. Ela deve expressar uma mudança do quadro atual que macula os nossos dias com tanta valorização dos bens materiais e revelar um sentido profundo de convivência humana, onde prevaleçam exclusivamente os aspectos espirituais. É preciso que os princípios do humanismo, representados pela elevação de Cristo vença os descasos provocados pelo consumismo, encarnado pelo coelho que somente incita a aquisição de ovos de chocolate.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. Presidente da Academia Jundiaiense de Letras.
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