Como na próxima sexta-feira é Natal, a mais bela festa do ano, deixemos de lado outros assuntos e meditemos um pouco no sentido desta celebração de amor e de ternura, capaz de renovar a esperança de tempos melhores e dias mais felizes. No entanto, ela também reproduz em suas diversas expressões, as desigualdades extremas que caracterizam a sociedade brasileira, sendo que para milhares de famílias submersas na miséria e na exclusão social, há muito pouco o que festejar.
Nessa trilha, desprezando os excessivos apelos consumistas e os exageros do comércio, ainda mais num ano de crises moral, política e econômica, devemos nos inspirar na real importância da solenidade natalina e na ampla dimensão de fraternidade que ela evoca, contribuindo à anulação dos graves problemas comunitários que afligem nossos irmãos.
Precisamos, mais do que nunca, ater-se ao sentido que ela encerra, ou seja, o dom que Deus fez de si mesmo a nós, para nossa realização divina, conforme a bela proclamação do apóstolo Paulo em sua carta aos gálatas:- “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu filho, nascido sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o espírito do seu filho, que clama : Abba, Pai! De modo que já não és escravo, mas filho. E, se és filho, és também herdeiro, graças a Deus”(4,4-7).
Por isso, louvar o Natal é comemorar a vida, reafirmando na família e na comunidade os valores do Evangelho libertador de Jesus, pois a encarnação é um ato que nasce da liberdade e da benevolência. A sua celebração em todos os anos deveria se transformar em momento de meditação e nessa trilha, enquanto forem furtados ao povo, em especial à criança, os direitos de acesso à educação, à saúde, à moradia digna não haverá comemoração, porque falta libertação. Os indivíduos sem tempo ou condições para pensar, oprimidos e espoliados terão maiores dificuldades em acreditar também na misericórdia divina.
Aí está a nossa grande responsabilidade: contribuir para que este país propugne por uma distribuição igualitária de renda e por dignidade para sua gente, constantemente explorada em suas aspirações mais primordiais, propiciando-lhes condições que também possam concretizar um senso crítico para que a maioria dos políticos não a explore com tanta facilidade.
Desprendimento, partilha, humildade e caridade são algumas das palavras desconhecidas pela maioria, ávida de riquezas, incapaz de reconhecer sua ganância e interesses, ignorando a mensagem cristã, por que a proposta desta incomoda a intensa comercialização das datas festivas. Muitos se reúnem nestas ocasiões para cumprir um ritual frio, enquanto a união deveria cercar-se de esperança, com o pensamento voltado à grande lição de Cristo que manda amar uns aos outros, sem outros cuidados, senão os do amor em si mesmo.
MOMENTO DE POESIA
Com “Dezembro” de Carlos Drummond de Andrade, reverenciamos esse mês tão importante e ao mesmo tempo repleto de encantos e emoções: “Quem me acode/ à cabeça e ao coração/ neste fim de ano,/ entre alegria e dor?// Que sonho,/ que mistério,/ que oração?// Amor”.
MENSAGEM NATALINA
Que o espírito de paz e solidariedade que reina nessa época, inspire nossos pensamentos e ilumine nossos corações, a fim de podermos, juntos, criar um amanhã melhor para toda a humanidade. Que a comemoração natalina alimente a nossa certeza de que Deus continua dando sentido a nossos empreendimentos para a construção de uma sociedade verdadeiramente justa e fraternal. Ao desejarmos aos leitores, votos de um Natal bastante sereno, conduzindo-nos um tempo novo, invoquemos o saudoso arcebispo Dom Luciano Mendes de Almeida: “O Natal de Jesus comunica a boa nova da misericórdia divina, que anuncia à humanidade o perdão e a paz. Compreendemos a maravilha do canto angélico, louvando a Deus e proclamando a paz sobre a terra”.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
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