Para muita gente, essa época ressalta, antes e acima de tudo, o carnaval – um período de folia desmedida, de alegria fugaz, de sonhos e de ilusões, tão bem cantados nas modinhas carnavalescas de antigamente. Mas há outras comemorações, algumas de inegável importância, como a Quarta-Feira de Cinzas que marca o início da Quaresma e que propõe uma reflexão comprometida sobre os problemas que afligem o povo, através da Campanha da Fraternidade, que desde 1964 tem como objetivo histórico, a luta pela justiça social e pela solidariedade, enfrentando o desafio da pobreza e a urgente transformação das estruturas sociais.
Nesse período, que se inicia no dia primeiro de março, trilha à Páscoa que anuncia o início de vida nova. Aproveitando deste tempo forte de conversão, a Igreja no Brasil, propõe a todos uma reflexão comprometida sobre os problemas que afligem o povo. Desta feita, os questionamentos giram em torno do tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2.15). Bioma é o conjunto formado pelo clima, vegetação,hidrografia e relevo de uma determinada região. No Brasil existem alguns tipos a saber: Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Amazônia. O primeiro, localizada nas regiãões Sudeste e Sul do Brasil, é o segundo mais importante bioma do Brasil, sendo inclusive tombado pela UNESCO como patrimônio histórico devido à sua grande biodiversidade. Na época do descobrimento do Brasil estendia-se por toda a costa brasileira, sendo que atualmente é encontrado em reservas no Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
O enfoque desse ano é relevante, não só para o exercício da cidadania como também para o próprio desenvolvimento da Nação. Com efeito, as escolhas das atitudes para a preservação da vida no planeta Terra devem ser orientadas por critérios coerentes com o propósito de mais justiça e paz. Tais opções devem contribuir para a superação das desigualdades e das agressões à criação. Vários países até que tentaram, mas o esforço internacional ainda está muito abaixo do necessário para frear o extermínio da biodiversidade do Planeta. Esse é o resultado de um estudo do Programa de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas, assinado por quarenta e cinco especialistas, publicado a 30 de abril de 2010, que ainda comprovou que a economia global sofreu prejuízos de quase um trilhão de dólares por conta de desastres naturais nos últimos anos.
Tais constatações demonstram que a questão ecológica, de grande importância à qualidade de vida do ser humano, permanece praticamente inalterada diante da comodidade e dos interesses econômicos de muitos políticos, empresários e da grande maioria das pessoas.
Oitenta e cinco de arte moderna
No período de 11 a 17 de fevereiro de 1922, realizou-se no saguão do Teatro Municipal de São Paulo, a Semana da Arte Moderna, manifestação cultural que constituiu no núcleo principal de todas as transformações que passaram a ocorrer no campo artístico brasileiro a partir daquele ano até nossos dias. Dezenas de escritores, músicos, artistas plásticos e outros intelectuais propiciaram dias de dança, música, palestras, exposições de quadros, leitura de poesias e trechos de romances. O objetivo era fazer uma revolução cultural no Brasil e introduzir alguns dos mais novos conceitos de arte, já vigentes em algumas outras nações.
Na ocasião, foram expostas esculturas de Victor Brecheret, quadros de Anita Malfati, Tarsila do Amaral e Emiliano Di Cavalcanti. No palco do teatro os discursos de Graça Aranha, os poemas de Manuel Bandeira, a prosa de Menotti del Picchia e a música de Heitor Villa Lobos, tendo ao fundo o piano de Guiomar Novaes. Não faltaram também peças de Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Sergio Milliet e Cassiano Ricardo.
O movimento criou polêmica, angariando simpatizantes e detratores. No entanto, o principal legado da Semana de Arte Moderna foi libertar a arte brasileira da reprodução nada criativa de padrões europeus, dar início à construção de uma cultura essencialmente nacional e as ideias inovadoras continuaram a ser propagadas ao longo do tempo, criando-se concepções eminentemente próprias de nosso país.
Esperamos que a fraca memória popular não a apague de nossa história para que permaneça influenciando novos eventos que dinamizem não só a arte em geral, mas a própria cultura, ressaltando a sua função social, integrando-a ao projeto de auto realização de cada cidadão.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
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