Até mesmo em países onde a população cristã é minoritária, o Natal marca a grande festa da solidariedade universal. Por mais que tentem revesti-lo como data fortemente comercial, tem resistido aos mecanismos de consumo, mostrando que sua mensagem é maior do que qualquer manipulação de seus símbolos, que frequentam tanto as vitrines iluminadas dos grandes magazines como a sala de visita de quase todas as casas, nos lugares mais recônditos do planeta.
É por isso que o clima natalino envolve as pessoas, sobretudo num clamor de poesia e ternura, singeleza e encanto, fazendo renascer sentimentos de sincera humanidade, de compreensão e de compaixão, alimentando a confiança mútua. Os sorrisos afloram com mais facilidade e as armaduras construídas na dura batalha cotidiana parecem menos impenetráveis, talvez em sinal de reverência, mesmo que inconsciente, a um Ser Superior que se fez homem, para assumir o mundo.
Celebrar o Natal, portanto, é assumir um permanente desafio: mudar a situação para que todos possam ter dignidade em suas trajetórias terrenas. É encontrar Deus a cada dia, em cada relacionamento, em cada circunstância. É revelar envolvimento com atitudes e gestos concebidos em fraternidade e solidariedade. É tentar conscientizar os mais humildes da possibilidade de satisfazerem seus anseios. É agir séria e concretamente no sentido de se extinguir o abandono que aflige os menos favorecidos. É dar provas de que a esperança e a vida podem florescer, mesmo em meio a tanta privação e sofrimento, enfrentando as elites na tentativa de se reverterem os quadros de opressão e prepotência.
Aquela criança colocada numa humilde manjedoura, demonstrando ternura e clamando por justiça, indica-nos o compromisso de acolher, preservar e promover a vida. Diante do presépio, não há momento mais propicio para se refletir sobre gestos de desprendimento, coragem e fé, iniciando o projeto de paz ao buscarmos Cristo onde ele concretamente se acha: na aceitação do diferente, no despojamento, na interação com os perseguidos, com os explorados, com os que resistem e transmitem esperança de dias melhores. Assim, além de presentes, abraços e cumprimentos, devemos meditar sobre a condução de um tempo novo, que anuncie à humanidade o perdão e a paz.
E cada pessoa assume o Natal toda vez que com um gesto de afeto, um apelo à igualdade, um abraço de perdão, permite que Jesus nasça em seu coração. Desejamos assim, aos nossos leitores e amigos, que a festa do menino de Belém aconteça na concórdia e em plenitude de amor. Podemos encher os copos, mas também os corações de ternura.
São Gregório, bispo no século 4º, dizia às comunidades das quais era pastor: “Celebrem o Natal de um modo divino! Não à maneira do mundo, mas de uma maneira diferente da do mundo! Não como a nossa festa, mas como a festa que é nosso mestre!”.
NATAL é luz!
Diante da obscuridade atual, com tanto desrespeito ao ser humano e intensa corrupção a minar as condutas e comportamentos, a celebração natalina é uma luz a mostrar que o povo de Deus se reúne para festejar a esperança de um mundo novo, pleno de amor, de paz e de união nas famílias, entre os povos e nações.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com).
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