Comemora-se a primeiro de maio, o Dia Internacional do Trabalho, instituído a partir de um movimento grevista em 1886, em Chigago/EUA, que resultou na morte de diversos operários que reivindicavam uma jornada de oito horas diárias, baseados na tese de um pastor protestante inglês, John Peacock. Ele apregoava que Deus fizera o dia com vinte e quatro horas exatas, a fim de que elas fossem dividias em três, como o número da Santíssima Trindade: oito para o trabalho, oito para dormir e oito para orar.
Transcorridos mais de cento e trinta e dois anos, a modernização das relações trabalhistas e o combate ao desemprego são as principais preocupações da maioria dos países. Por isso, o momento pede reflexão e os desafios necessitam ser enfrentados, sob pena de se deturpar totalmente o conceito de modernidade, ou seja, o bem-estar dos trabalhadores ser rebaixado em função do enobrecimento da tecnologia. Destacando apenas o primeiro aspecto, já que o outro merece atenção especial futura, reitere-se que o homem não se define pelo trabalho. Não é somente um ser que trabalha: sua criatividade, sua espiritualidade, sua própria personalidade, transcendem infinitamente seu campo de trabalho. Antes de ser um trabalhador, o homem é uma pessoa que tem seu fim em si mesmo. Onde este princípio é olvidado, o homem volta a ser escravo e seu trabalho reduz seu desenvolvimento e sua dignidade à dimensão materialista.
A ideia de sacrificar a vida pessoal pelo trabalho muitas vezes pode terminar em depressão. Segundo o psicoterapeuta carioca Sérgio Garbati, as pessoas costumam sentir um vazio existencial quando percebem que deixaram de viver para se dedicar apenas ao trabalho, o que vem acompanhado do sentimento de culpa e de depressão.
Todos nós sabemos que o trabalho é necessário à manutenção e ao desenvolvimento de cada homem pessoalmente e de todos os homens como um grande corpo social. Invocando o Pe. Jadeu Grugs, podemos dizer que “a sociedade humana não pode existir sem um sistema de trabalho organizado. Não é que o trabalho esteja na origem da vida humana, mas a atividade do homem se transformou em trabalho através da organização da vida em sociedade. Em outras palavras, o caráter do trabalho depende da incorporação da atividade do homem na organização social. Entende-se, pois, - e isto deve ficar firme – que a auto- realização do homem precede e transcende o processo de trabalho”.
Há algum tempo, a revista francesa Le Ponint, de prestígio internacional, apontou que um funcionário que esteja satisfeito na sua vida pessoal e familiar dobra o seu rendimento no trabalho. Esse conceito, já absorvido por empresas europeias e americanas, começa a ganhar espaço no Brasil. Há uma consciência geral de que o grande passo ao futuro é a humanização das relações no trabalho. Aquela história de vestir a camisa o tempo todo, mesmo que para isso seja preciso se anular, é equivocada.
Desta forma, num sentido mais amplo, é preciso aniquilar os privilégios, aliviar a pressão da caldeira e fazer com que as constantes estatísticas aterradoras – acidente de trabalho, miséria, contenção de renda – sejam abolidas da nossa sociedade. Basta existir, para isso, vontade política e responsabilidade de todos na busca de um sistema econômico mais justo e equitativo.
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito Padre Anchieta de Jundiaí. É presidente da Academia Jundiaiense de Letras (martinelliadv@hotmail.com)
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