PAZ - Blogue luso-brasileiro
Terça-feira, 13 de Dezembro de 2016
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI - NATAL, TAMBÉM REVERENCIADO NA POESIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Natal é uma época de encanto, mas também de saudade. O grande autor português Fernando Pessoa já sabiamente indicava: “Natal... Na província neva./ Nos lares aconchegados,/ Um sentimento conserva/ Os sentimentos passados”.         

Efetivamente, recordamos dos nossos entes queridos, alguns já em outra dimensão; os encontros familiares que gradativamente acompanhavam o nosso crescimento; do presépio e da árvore de Natal montados na sala da casa; dos presentes, embora modestos, mas dados com muito amor e dentro das possibilidades econômicas da época. Pessoalmente também vem à memória os passeios pelas ruas e vitrines das lojas enfeitadas; do boneco de Papai Noel da extinta Loja Magalhães em Jundiaí, que subia e descia constantemente; das missas do Galo irradiadas por meu pai, Com. Hermenegildo Martinelli e dos sermões afins de Frei Clemente; das grandes festas realizadas para os seus empregados nas dependências da CICA e de Waldemar Cortz, que encarnava o personagem Noel de forma simpática e serena, fazendo a alegria das crianças.

 

Vinicius de Moraes, poeta e diplomata, dizia em seu “Poema de Natal”: “Para isso fomos feitos:/ Para lembrar e ser lembrados/ Para chorar e fazer chorar/ Para enterrar os nossos mortos —/ Por isso temos braços longos para os adeuses...” As festas natalinas nos trazem lembranças dos tempos que se foram, mas principalmente de uma série de valores de simplicidade, de intimidade, de amor e sacralidade, hoje desbancados pelos interesses comerciais. Nessa trilha Carlos Drummond de Andrade em “ O Que Fizeram do Natal”, expôs: “As beatas ajoelharam/ e adoraram o deus nuzinho/ mas as filhas das beatas/ e os namorados das filhas/foram dançar black-bottom/ nos clubes sem presépio”.

 

É bem verdade que a espiritualidade e o sentido natalinos estão sendo ofuscados muitas vezes pelos apelos mercantilistas e pela alegria consumista que tentam imprimir à ocasião. O Natal, porém, tem resistido a todos esses mecanismos mostrando que suas mensagens, para uns tristes e para outros alegres, persistem apesar de qualquer manipulação de seus símbolos. Sua mística continua envolvendo as pessoas, sobretudo num clima de poesia e ternura, propiciando ainda uma boa oportunidade de reavaliação do que efetivamente são valores e virtudes. Olavo Bilac descrevia: “Natal! Natal!/Em toda a natureza/Há sorrisos e cantos, neste dia.../Salve Deus da humildade e da pobreza/Nascido numa pobre estrebaria”.

Frutos da ganância, do egoísmo e do poder, são inúmeros os acontecimentos e os comportamentos que demonstram o desvirtuamento de princípios básicos, gerando manifestações de desânimo e derrotismo daqueles que ainda sonham, buscam e lutam pelo bem comum, felizmente afastadas pelo empenho na concretização de seus ideais. Desta forma, o sentido mais profundo do Natal precisa ser cultuado no pensamento e no coração das pessoas: que o ser humano é o valor máximo a ser respeitado, resgatado e conduzido à felicidade, devolvendo a todos o direito de viver e de participar dos bens terrenos. “A desigualdade social, a pobreza, a miséria, a fome não são vontade de Deus, mas fruto da forma como os homens organizam a sociedade” (Dom Cláudio Hummes).

Com certeza, não é fácil comemorar esta data, mas também não é impossível fazê-la da forma mais coerente com os seus próprios preceitos, que vão se modificando com o passar dos anos, mas não perdem a essência. Tanto que em 1901, Machado de Assis já proclamava em seu “Soneto de Natal”: “Um homem, — era aquela noite amiga,/Noite cristã, berço no Nazareno, —/Ao relembrar os dias de pequeno,/E a viva dança, e a lépida cantiga,/Quis transportar ao verso doce e ameno/As sensações da sua idade antiga,/Naquela mesma velha noite amiga,/Noite cristã, berço do Nazareno./Escolheu o soneto... A folha branca/Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,/A pena não acode ao gesto seu./E, em vão lutando contra o metro adverso,/Só lhe saiu este pequeno verso:/ "Mudaria o Natal ou mudei eu?".

Depois de muita reflexão, vale dizer que o Natal deve estar presente em nossas vidas, buscando primordialmente fortalecer a comunhão dos homens.  

 

 

 

 

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor universitário. É vice-presidente da Academia Jundiaiense de Letras e da Academia Jundiaiense de Letras Juridicas.

 

 





publicado por Luso-brasileiro às 12:09
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1 comentário:
De Francisco Carita Mata a 13 de Dezembro de 2016 às 16:14
Deixo este comentário para desejar a todos os participantes do blogue SOLPAZ, um Santo e Feliz Natal. E um Ótimo Ano Novo!
http://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/post-natalicio-2016-130037
Saudações poéticas.
Francisco Carita Mata


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