A procura ambiciosa do lucro fácil; a busca ansiosa de prazeres; o consumismo exacerbado; a estima obsessiva de ter ou possuir muito e a sensualidade desenfreada pinta um quadro que tem tornado o individuo cético na perda de sua identidade e do seu real papel dentro dos grupos a que pertence. A desconsideração aos valores morais que fundamentam a dignidade e a elevação humana produz os descontentes, os inconformados e os revoltados, que se mostram incapazes de controlarem as tendências de indisciplina e agressividade que se exigem nas pessoas. Por isso, nos últimos tempos, a violência continua sendo um rastilho de pólvora que está sempre pronto a pegar fogo.
Realmente as pessoas não se preocupam mais com os verdadeiros princípios, ocorrendo manifesta inversão de valores, onde só pensam em seus interesses e ambições pessoais, passando por cima inclusive de preceitos éticos até no exercício da profissão, sem medir consequências e resultados. As novas gerações estão perdendo referências. Uma pena que tais situações persistam numa época em que os seres deveriam viver harmoniosamente e alcançarem pleno atendimento de seus direitos fundamentais.
Ficam sérias preocupações com as ocorrências que vem marcando nossos dias e os seus reflexos para o futuro. Em todo o mudo se registram eventos os mais negativos possíveis contra a integridade física e a dignidade dos cidadãos, às vezes por razões as mais inaceitáveis possíveis, como preconceito racial, religioso e até por agressividade gratuita e absolutamente injustificada, levando a crer que o homem está se tornando cada vez mais insensível e materialista, afastando-se de padrões espiritualistas.
Tanto que Marinho Guzman, com brilhantismo, dispôs: "A importância que as futilidades têm na vida dos pobres de espírito é inversamente proporcional ao sentimento de felicidade vindo da compreensão do que é importante. Isso posto, quando a gente coloca cada coisa no seu lugar, há espaço para tudo, e na ordem direta, as prioridades nos dão a correta dimensão da verdadeira razão de viver...". É por isso que adaptando célebre frase de Mário Bonatti, pode-se dizer que "a vida tem a cor que nós pintamos". Por isso não devemos acrescentar dias a nossa vida, mas vida aos nossos dias.
No entanto, do jeito que as coisas trilham, alcançamos o ponto de não acreditarmos nem nas instituições, o que é manifestamente preocupante. É preciso, com muita ação, cobranças, luta e empenho modificarmos essa triste realidade enquanto é tempo, para prepararmos um futuro melhor para as próximas gerações, outorgando-lhes exemplos de integridade, solidariedade e fraternidade. Caso contrário, nunca entenderão nossa omissão e sempre nos questionarão: que mundo é esse?
JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINELLI é advogado, jornalista, escritor e professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí. É ex-presidente das Academias Jundiaienses de Letras e de Letras Jurídicas. Autor de diversos livros. (martinelliadv@hotmail.com)
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