O princípio da subsidiariedade é uma das alavancas mais eficazes de transformação da sociedade. Parte do pressuposto de que a criatura racional seja capaz de resolver grande parcela dos problemas existenciais, sem ter por si a tutela de um responsável. Seres plenamente capazes, não acometidos de sério comprometimento mental, ostentam condições de superação das dificuldades postas no caminho de todo vivente.
Embora às vezes o paternalismo pareça adequado, na verdade ele cria dependência e reduz a dimensão humana em sua integral potencialidade.
Quem precisa de tutor é o incapaz, seja menor ou o maior desprovido de condições de autogestão de sua vida. Todos os normais podem ser orientados, estimulados, assistidos em suas necessidades excepcionais.
Mas o caminho verdadeiro é prover as pessoas de espírito de iniciativa, de vontade firme e deliberada para o enfrentamento das vicissitudes. Estas surgem como fatos naturais para quem está vivo e precisa conviver. Mas permanecer sob a tutela permanente, sem o preparo no sentido da autonomia, não parece digno das criaturas inteligentes.
A Igreja sempre postulou observância ao princípio da subsidiariedade, pois a base do cristianismo é reconhecer que todos os humanos são iguais em dignidade, pois igualmente filhos de Deus. Não há ninguém melhor.
A preferência aos hipossuficientes foi lição do próprio Cristo, no clássico discurso das bem-aventuranças. Ali está presente a hierarquia cristã em toda a sua explicitude. Mas a vocação das criaturas é crescer, continuamente, até se possa atingir a plenitude das potencialidades. Pois o destino dos homens é a perfectibilidade.
Como seria bom se os mais providos de clarividência amparassem os menos providos até se conseguisse a possível equanimidade. Se cada alfabetizado adotasse por missão alfabetizar um analfabeto. E isso vale para outros analfabetismos: o monoglota, analfabeto idiomático; o jejuno em informática, analfabeto digital. O revoltado, analfabeto em tolerância. O irado, analfabeto em convívio harmônico.
Depender é uma situação que só pode ser encarada como transitória, até se alcance o estágio da autonomia. Direito de todos e dever da sociedade
.
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 28/04/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.
OS MEUS LINKS