Levamos sábado, 21, ao cemitério da Saudade, minha tia Lucy Barbosa Falha. Era a última remanescente dos filhos de Anna e João Barbosa, cuja primogênita era minha mãe, Benedicta. Não se estranhe um septuagenário ainda ter uma tia: ela era apenas dez anos mais velha do que eu.
Ajudou a me criar, pois fui o primeiro neto e a garota de dez anos brincava com o sobrinho como se fora boneca.
Sempre muito presente, muito próxima, era a “mãezona” de todos. Dos seus três filhos, Ivan, Fernando Marcel e Gustavo. Das noras, das netas e netos, dos sobrinhos e de todos quantos frequentassem o lar que formou com Miguel e que geriu por quase sessenta anos.
Quem chegasse à rua Bela Vista era recebido com alegria, carinho e generosidade. Repartia tudo o que possuía e o que ganhava. Ninguém saía de lá sem algo. Além do tratamento mais do que amistoso: verdadeiramente fraterno. Com os de casa, insistia em que repetissem o prato. Sempre havia um bolo, um café novo e inventava outras coisas para reter a visita. Tricotava enxovais para todas as crianças do clã e de fora. Produzia incessantemente, apenas para agradar e proporcionar um carinho a quem se avizinhava.
Vibrava assim que recebia a notícia de uma gravidez na família ou no círculo ampliado que conquistava com sua bondade.
Comandava a sua família. E comandava bem. Conseguiu fazê-la unida e solidária. Vibrava com as vitórias, preocupava-se com os infortúnios. Gregária, herdou as tradições parentais e insistia em aproximar os distanciados e em refazer laços que se fragmentassem.
Dir-se-á: uma vida comum, de uma mulher que trabalhou, se aposentou e se devotou ao lar, do qual nunca se afastara. Mas quantas mulheres ainda existem que tenham conseguido manter a prole tão solidária, tão amorosa, tão reconhecida e tão consciente das qualidades da matriarca? Assistir à triste cena do viúvo, filhos, noras e netos tão compungidos e abraçados em torno ao caixão, é prova de que sua existência valeu a pena! Inoculou de amor e ternura a vida de uma legião. O mundo foi melhor porque Lucy existiu! E seria ainda melhor se outras Lucys nascessem! Testemunhou subsistir magnanimidade sem interesse. Pura doação de alma! Nem tudo está perdido. Saibamos aprender com isso.
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 26/01/2017
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.
OS MEUS LINKS