Quando o saudoso Monsenhor Doutor Arthur Ricci falava do Carmelo e das carmelitas, dizia que elas eram o “pára-raios” de Jundiaí. Queria mostrar a quem não entendesse a clausura, o silêncio e o recolhimento em pleno século XX, que a vida em oração funciona como antídoto para o mal que acompanha a humanidade.
O Carmelo São José, na década de 50, funcionava à rua Senador Fonseca. Sua construção no Anhangabaú me levou muitas vezes lá. Meu pai se encarregou de todo o serviço de marcenaria e eu o ajudava. Ele precisava acionar um sino que denunciasse sua aproximação. Eu é que ficava encarregado disso, pois ele carregava a caixa de ferramentas. Se eu me esquecesse, era uma correria só das irmãzinhas cobrindo o rosto.
Uma das mais simpáticas e sorridentes era a Irmã Maria Inês do Menino Jesus, O.C.D. (Ordem das Carmelitas Descalças). Seu nome no século era Odette Trippe, de família tradicional. Seu pai era Willy Trippe, comerciante de calçados. Seu irmão caçula era meu vizinho: Reinaldo Trippe, casado com Cecília Mazzuia. Outro irmão era o Carlos, conhecido como Lito. Estudei com o Nivaldo Trippe, companheiro de Cruzada da Mocidade Católica.
Minha prima, Suzana Nalini Genaro, logo entrou para o Carmelo. Tomou hábito com o nome religioso de Irmã Elisabeth da Santíssima Trindade. Alguns anos mais tarde foi transferida para o Carmelo Nossa Senhora da Esperança, em São João da Boa Vista. Faleceu em junho de 2014. E em junho de 2015, é chamada à eternidade a Madre Maria Inês do Menino Jesus. Com quem conversava por telefone e por e-mail. A tecnologia chegou ao Carmelo, também com moderno equipamento para a confecção de hóstias. Motivo de muitas conversas com Madre Maria Inês.
No sepultamento de minha prima, há um ano, vi que eram muitas as carmelitas que ali faleceram. As vocações não se multiplicam na mesma proporção. Vão minguando nossas protetoras, escasseando o nosso pára-raios, justamente quando o mundo mais precisa de oração.
Até o agnóstico não negará valor à energia produzida pela concentração de pensamento elevado e dirigido a uma causa. Os orientais dominam melhor do que a nossa imediatista cultura ocidental o manejo com o mistério, com a transcendência e com o infinito, agora a abrigar duas novas santinhas carmelitas do século XXI.
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.