A quase falência do Estado brasileiro dos últimos anos é fato notório. Dispensa a produção de prova. Sabe-se que a recessão, a estagnação, a falta de dinheiro para o social e menos ainda para a infraestrutura causa incontáveis dissabores. O desemprego é uma chaga que além de empobrecer a família, retira dignidade do desempregado.
Mas eu não tinha noção de que a crise econômica é também exitosa assassina. 31,4 mil mortes a mais no Brasil foram registradas no período de 2012 a 2017.
A pesquisa é séria e foi feita por pesquisadores ingleses e brasileiros, em 5.565 municípios do Brasil. Quando se verificou aumento de 1% na taxa de desemprego, houve acréscimo na mortalidade de 0,5%. Entre 2012 e 2017, o desemprego subiu de 8,4% para 13,7% e a morbidade cresceu 8%. Foi de 143 a 154 mortes por cem mil habitantes. Mais da metade desse crescimento se deve à crise econômica.
As vítimas preferenciais: sexo masculino, de 30 a 59 anos. Cidades com melhores investimentos no SUS e com eficiência na outorga da Bolsa-Família não registraram tal incremento, ao menos com tamanha intensidade.
O resultado da pesquisa foi publicado na revista científica The Lancet Global Health. Embora a morte seja multicausal, não há dúvida de que essa evidência empírica ajuda a compreender o que se passou no Brasil, principalmente entre os mais desfavorecidos, nesse lustro dramático.
Obviamente, o ufanismo vai questionar a pesquisa e vai atribuir interesses internacionais contra a soberania brasileira, inveja do nosso perfeito sistema de saúde, conspiração comunista.
Mas – e há sempre uma adversativa – contra fatos não há argumentos. Todos os brasileiros lúcidos devem se preocupar com essa chaga intolerável: mais de 30 mil semelhantes morreram por causa da crise. Os responsáveis pela corrupção pagarão por isso? É tangível o dano que não se circunscreve ao indivíduo morto, mas atinge uma comunidade inteira de pessoas de sua esfera de relacionamento?
Não há sinais de criação mágica de treze milhões de empregos. Mas há a alternativa do turismo que, levado a sério, poderia trazer milhões de visitantes ao Brasil. Para isso, invista-se em segurança pública. Depois em infraestrutura. E, sobretudo, em educação. Ela é remédio para tudo.
JOSÉ RENATO NALINI é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-Graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2019-2020.
OS MEUS LINKS