Ninguém hoje pode negar os fatos: o Brasil atolou em lamaçal produzido pela destruição da ética. A causa única das crises é a falta de consciência em relação às responsabilidades sobre todos impostas para o convívio menos conflituoso que se possa exigir entre os homens.
Eliminadas as barreiras morais, tudo se torna possível. O descalabro tomou conta e não se pense terminará com as operações policiais e judiciais ora em curso. Espanta ver a desenvoltura com que os malfeitores – pois agora a corrupção não se denomina “mal feito”? – continuam a agir.
Resta àquele que não teria nada a ver com isso, ao menos diretamente, mas que tem de pagar a conta, assumir as rédeas da Nação.
Não se espere reforma política de quem não tem interesse em mudar o quadro. Cabe invocar uma vez mais Lampedusa: as pequenas mudanças têm o intuito de deixar tudo como era antes e como sempre foi.
A sobrevivência dos normais passa a depender de um protagonismo com o qual o Estado tem pouco a ver. Como seria bom se o governo não atrapalhasse a iniciativa privada! Tudo poderia ser e, com certeza, seria muito melhor.
O naufrágio político e econômico, subproduto amargo da derrocada moral, só não será completo se a sociedade reagir. E sociedade é aquela que não tem por si o Erário. Que não tem garantido o seu salário, produza com eficiência ou não, tenha ou não consciência do verdadeiro papel de cada agente estatal.
É urgente se reciclar. Assim como o fez, por exemplo, a IBM. Vendeu máquinas de datilografar, aperfeiçoou-as, com as esferas que mudavam as fontes. Grande progresso! Mas as Tecnologias de Comunicação e Informação tornaram obsoleta a máquina de escrever. Hoje, no computador ou em qualquer bugiganga eletrônica, se produz texto com a qualidade que nunca se ousou sonhar. E o que fez a IBM? Ficou chorando, lamentando a perda do mercado? Não. Converteu-se numa plataforma de criação de tecnologia visionária para resolver problemas contemporâneos.
As tecnologias disruptivas constituem um desafio. Mas não é preciso ser uma gigantesca IBM para encontrar um nicho de subsistência digna. Quando penso em “sementeiras de inovação”, estou a contemplar a criatividade de jovens – em espírito – que encontram alternativas de sobreviver com dignidade, a partir de seu trabalho, esforço, sacrifício e empenho, a despeito das trapalhadas que o governo insiste em semear no caminho do empreendedor.
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.
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