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Segunda-feira, 29 de Fevereiro de 2016
JÚLIA FERNANDES HEIMANN - DIA NACIONAL DA MULHER

Todos conhecem o ditado: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!”. A frase quer mostrar a validade da constância, da perseverança, quando desejamos alcançar um objetivo. Por isso, não me cansarei de informar que no dia 30 de abril comemora-se o Dia Nacional da Mulher!
Mas, o dia 30 de abril passa sem referências, sem homenagens, como se não existisse no calendário das efemérides brasileiras.
Devido à ampla divulgação do Dia Internacional da Mulher - sabe-se que é uma data importante, porque cento e vinte e nove mulheres perderam a vida na luta por melhores condições de trabalho; isto no ano 1857, em Nova York. Por esse motivo, o dia 8 de março, é “comemorado” em homenagem a essas mulheres/vítimas.
Com a mesma atenção, o Dia Nacional da Mulher deveria ser comemorado pelos brasileiros em 30 de abril, dia do nascimento de uma grande brasileira: Jerônima Mesquita; mas a data e o nome ainda são desconhecidos por muitos.
E quem foi Jerônima Mesquita?
Foi uma ilustre mulher que viveu no início do século XX, nascida em Leopoldina/MG, aos 30/4/1880. Os pais a enviaram, ainda moça, à Europa para concluir seus estudos; quando retornou, não se conformou com a situação preconceituosa imposta às mulheres de sua terra natal.
Dotada de inteligência, perspicácia e muito diligente, Jerônima se uniu a um grupo feminino combativo e fundou o Conselho Nacional das Mulheres.
Se hoje as mulheres têm direito a voto, devem-no a ela, que foi sufragista e desencadeou campanha nacional para que, em 1932, todas as mulheres, acima de 18 anos, pudessem votar e escolher os dirigentes da nossa Nação.
Engajou-se em frentes de assistência social, sendo uma das fundadoras da Pró-Matre, hospital beneficente que tinha por objetivo acolher gestantes pobres. Hoje, há hospitais Pró-Matre em várias cidades com o atendimento a conveniados
É consabido que no início do século XX grassava, no Brasil, a fome, a febre amarela, a peste bubônica e a varíola, doenças que eram agravadas pela subnutrição do povo, matando gestantes e seus bebês. Foi nessa época que Jerônima Mesquita mais atuou e fundou esse hospital beneficente.
Numa das poucas entrevistas que concedeu aos jornais, meses antes de falecer - o que ocorreu em 1972 - disse que ficara feliz com a promulgação da Lei 4121/62, conhecida como Estatuto da Mulher Casada que, entre outras mudanças, concedeu às mulheres o direito de trabalhar fora do lar sem autorização do marido ou do pai, o que era, antes, obrigatório.
Hoje, com o Código Civil Brasileiro modificado, a situação da mulher está diferente e sua condição jurídica menos discriminatória, pois o Código dispõe que “a direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos”. Ela gostaria de ter visto isso. Gostaria, também, de ter colaborado na Lei Maria da Penha que alterou o Código Penal com a introdução do parágrafo 9o. do Art. 129, possibilitando que agressores de mulheres sejam penalizados.
Voltando ao esquecido Dia Nacional da Mulher, por que não comemorá-lo, tornando o nome dessa ilustre brasileira Jerônima Mesquita mais conhecido?
Pensemos nisso, ou continuaremos com os holofotes direcionados para o dia 8 de março, “comemorando” o ocorrido no ano 1857, em Nova York.
JÚLIA FERNANDES HEIMANN - escritora, poetisa e acadêmica. Autora de nove livros.