São três assuntos que possuem em comum o uso de drogas.
Em artigo na Folha de São Paulo de 15 de abril – C6 Ilustrada -, o Dr. Drauzio Varella discorreu sobre um efeito colateral do uso da maconha: a síndrome de hiperemese por canabinoides (SHC). O desconhecimento sobre essa síndrome dá origem a exames laboratoriais, ultrassons, tomografias e endoscopias inúteis. Segundo Varella, “em alguns casos, o quadro é interpretado como crises de vesícula biliar, apendicite ou obstrução intestinal, suspeitas que podem levar ao centro cirúrgico”. E há pessoas encaminhadas para tratamentos psiquiátricos prolongados, nos quais recebem antidepressivos e ansiolíticos que agravam o quadro. E eu que pensava que o grande problema da maconha fosse, apenas, abrir uma porta, como o álcool, para outros tipos de droga.
Junto à reflexão sobre o assunto, tenho comigo a fala de um adolescente e um moço. Conheci os dois aos 11 anos. Um foi meu aluno de português. Rebelde, questionador, mas sem perder a claridade de alma em suas redações. Em meio aos seus gingados, que tocavam despenhadeiros, jamais deixei de acreditar na sua possibilidade de voo no azul. O adolescente cresceu aos trancos e barrancos, de cara fechada, amargurado. Na primeira oportunidade, fez-se das drogas e do tráfico. Um dia desses, encontrava-se em papel de “olheiro”. Comentou, no radinho, com o “patrão” que a polícia se aproximava. Recebeu como resposta que era para se manter na “visão”. Foi detido. A algema doeu fundo. Pediu para alargá-la um pouco. Observaram seu pulso esquálido. Apertaram mais. Temeriam uma fuga? Restaram-lhe duas pulseiras de feridas.
O moço, hoje com 41 anos, usuário por 25 anos, reconheceu, na humildade, seus limites, abriu mão das justificativas para sua história pessoal. Deixou de desistir de si mesmo. Gosta do conceito de que recuperação é a arte de se contrariar, enfatizando que hoje a disciplina é sua liberdade. Além do Poder Superior em que acredita, foram essenciais em sua escolha: a vontade própria, a esposa amada, o esporte, o NA. Insiste que a dependência química é uma questão de saúde pública, que o tráfico é mantido por pessoas em condições de adquirir drogas mais caras, que também “sobem o morro” com seus carros de luxo, fortalecendo o ilícito. A diferença está no local de consumo. Conteúdo para se perscrutar.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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