Gosto de estar no Museu Histórico e Cultural de Jundiaí – Solar do Barão. Para algumas pessoas, os museus estão repletos de fantasmas do passado. Vejo os Museus com pegadas de ontem e de hoje, no vai e vem que o ser humano carrega. Quem fez a história do que ali se encontra, torna-se, mesmo que um ou mais séculos depois, presença. E os presentes, de alguma forma, se alinhavam com o antigo.
Há alguns dias, aconteceu um fato interessante no Jardim do Solar do Barão. O Paulo Vicentim, atual diretor do museu com competência e dedicação, trouxe na disposição das peças no espaço – no momento os presépios -, uma claridade que permite visualizar todas as coisas sem acúmulos. Quanto ao jardim, preenche o olhar com beleza. Estávamos lá, durante três dias, com a exposição de Artes, Criatividade e Artesanato da Casa da Fone – CSJ. Uma das integrantes do projeto foi nos ver. Gente de quase setenta anos, de vida de luta, nascida em terra distante, nas proximidades da aldeia indígena de sua avó. Por questões de sangue e de alma, é das sementes, das flores, dos frutos... Depois que veio para o lado de cá, no voo de seus sonhos, não mais retornou. Consumiram-se, na distância geográfica, os laços com os seus e as notícias deles. Ficaram apenas as lembranças dos 17 anos de convívio familiar. Algumas do rigor dos pais, que sem dúvida a encorajou, pois não se perdeu nos atalhos da cidade grande. No jardim do Solar, deslumbrada com a organização e as flores deparou-se com a parede de taipa. Encontrou nela sinais muito além do prédio histórico. Distanciou-se, de certa forma, do Solar e dirigiu-se à terra que a viu nascer. As construções eram de taipa como a parede que ela acabara de notar. Viu a mãe arrumando as bonecas de sabugo de milho ou costurando a mão as roupas que fazia com saco e depois tingia com polpa de jenipapo e/ou sementes de urucum. Viu o pai chegando com a enxada. Viu-se arando o campo que lhes garantia a sobrevivência. A única assombração foi a do moço que lhe despertou o enternecimento e a trouxe para cá. Alguns meses depois, ele saiu para procurar emprego e jamais retornou.
Momento de reencontro para ela. Para saborear a nostalgia, tirou um torrãozinho da parede e o colocou na boca. Permaneceu surpresa e encantada em se rever.
Feliz 2019, gente querida, com sabor de beleza no coração!
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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