São dois filhos. Ao ver a mãe, com seu menino de 10 anos, me comovo por seu olhar de desamparo e busca. São tantos os problemas, além de criar sozinha os dois. Não sei, e creio que ela também não, de onde puxar o fio que possa recomeçar um enredo sem embaraços em sua vida, sem tremor em sua mente, sem desesperos em determinados acontecimentos. O entorno próximo é cruel com ela. Não lhe oferece a possibilidade de fortalecimento. O de 14 anos, desde os nove, busca, sem solução, resolver, no uso de drogas, os questionamentos amargos que carrega. E, como a maioria, para consumir trafica. Ofereceram-lhe caminhos para largar, mas nenhum deles clareou suas revoltas e dúvidas. Seria ele um aborto da sociedade sem chance alguma? Se for assim, considera que seja mesmo melhor se esconder em todos os tipos de trevas que o rodeiam. Está de volta ao Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente. Já passou por uma das unidades, contudo, ao retornar, o seu mundo e suas angústias aqui de fora continuaram em escala crescente.
A mãe conseguiu trabalho em depósito de sucatas. Atua na separação. Ao voltar para casa, quando o filho mais novo dorme, tenta se desvencilhar dos produtos encontrados no lixo e de não se sentir também ela de pouca utilidade, na perda momentânea da lucidez, contudo o dia seguinte a aguarda. Aguardente. Pelo jeito, sente-se uma das peças descartáveis. Adormece na caçamba cinza de seus desencantos e desesperos. 800 tijolos, para construir um muro onde reside, a ajudariam muito, pelo menos os protegeria. Em dois meses, conseguiu comprar apenas 50.
Comentei que o filho de 14 era vítima de inúmeras coisas. Infrator é quem se enriquece à custa das misérias humanas. Concorda comigo e chora. São muitos que a julgam e ao filho, sem lhes oferecer perspectivas de mudanças com dignidade.
Na semana passada, estivemos com as crianças e adolescentes da Casa da Fonte – CSJ - nas entranhas da Serra – Fazenda Montanhas do Japi – em ação socioambiental desenvolvida pelo Serviço Social da DAE de Jundiaí. Em um determinado momento, quando seu filho mais novo seguia em minhas proximidades, observei um brejo. Em um pequeno espaço do lodaçal, o Azul do alto se refletia. Anúncio de esperança. Embora todos os acontecimentos sejam contrários e a moça observada como uma proscrita da sociedade, o Céu olha por ela.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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