As meninas e os meninos machucados por adultos deformados – alguns feridos igualmente pelo próprio círculo de morte dos abusos -, que conheci desde a minha adolescência me vêm ao pensamento e ao coração e se encontram em minhas preces todos os dias, não apenas em 18 de maio, que é o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”.
Era jovenzinha ainda ao me deparar com crianças de olhos assustados, que viviam em uma instituição para menores. Ninguém havia lhes falado sobre o lobo mau da história do Chapeuzinho Vermelho e nem sobre o Bicho- Papão ou Papa-Gente. Apresentaram-se a elas em carne e osso, mexendo e invadindo o seu corpo. Os fatos eram sussurrados atrás das portas por pessoas que poderiam defendê-las, mas não o faziam, porque quem as transformava em brinquedos sexuais era “gente de bem” na sociedade e não “merecia” ter o nome enlameado. Era gente da “Casa Grande” e não da senzala. Questionava-se que, se acontecera, a culpada era a criança que assediara o adulto em troca de balas.
Mais tarde, me deparei com fortes raízes da prostituição no abuso sexual de crianças e adolescentes, sem escolha, filhas dos diferentes tipos de miséria, empurradas para o comércio do sexo.
A mãe falecera e o pai não poderia se conter sexualmente. A filha mais velha, de nove anos, além dos serviços domésticos, deveria também servi-lo na cama.
A mãe trabalhava como ambulante. A filha de sete anos permanecia ao lado dela. O cidadão, que era doutor não importa de que especialidade, trabalhava nas proximidades. Observou-a em suas taras afloradas, chamou-a e lhe ofereceu chocolate. A mãe viu e ficou encantada com a “benemerência” do indivíduo que passou a levá-la a um cômodo isolado e trocava carícias impudicas com doces. A mãe jamais perguntou aquilo que acontecia dentro do prédio, contudo, quando a menina se tornou mulher, de formas que chamavam a atenção, nos seus 12 anos, e demonstrava malícia em determinadas atitudes, colocou-a para fora de casa por ciúme do padrasto.
A dona do bordel, cujo amante era autoridade no pequeno município, ficou de olho na filha do “trottoir” que a avó criava. Estava com seis anos na época. A mãe e a avó aceitaram os valores, que seriam atualizados, aos dez anos da menina, para ir à leilão no local.
Mais tarde e normalmente não tão tarde, ao corpo se transformar em trapo, restam o álcool, as drogas ilícitas, o suicídio...
Que tristeza, meu Deus!
Insista na proteção de crianças e adolescentes expostos, como marionetes, nos atalhos do mundo e, tantas vezes, dentro da própria casa.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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