Amo conversar com Deus que, mesmo nas dificuldades, me oferece a paz sobrenatural. Encontramos, nos Evangelhos, que Jesus se retirava para conversar com o Pai. Gosto demais da canção “Alô, meu Deus”, do Padre Zezinho. Traz Deus para tão perto.
Tenho, dentre outras, duas experiências familiares marcantes de conversa com o Céu. Nosso pai, em 1944, teve um estreitamento no esôfago. Os médicos consideraram que era algo muito grave, com poucas chances de melhora. Após realizar mais um exame, na sala de espera, tirou do bolso uma prece de Nossa Senhora Aparecida e pediu a ela a graça da cura. Ao examinar os novos resultados, o médico disse que o problema revertera um milímetro. Sinal de que o organismo estava reagindo.
Nossa mãe acreditava muito na Comunhão dos Santos e, além de outras devoções, amava Sant’Ana, mãe de Nossa Senhora. Justificava que a filha sempre atende o pedido da mãe. Em outubro de 2020, nos seus 96 anos, foi ao banheiro de madrugada e acabou a energia. Era determinação dela dormir com a porta fechada e sozinha. Consciente de meu limite auditivo, não a ouviria. E o medo de cair? Deixara a bengala ao lado da cama. Se ficasse no banheiro até clarear, preocupava-se em contrair algum problema nos pulmões pelo frio. Pediu a intercessão de Sant’Ana e foi caminhando aos poucos no escuro. Em um determinado ponto, abaixou o braço e tocou o travesseiro. Jamais teve dúvida de quem a guiara.
O Céu está tão próximo!
Por indicação das queridas Monjas do Carmelo São José, acabo de ler “Vida de Elisabeth Leseur”, Serva de Deus. O autor é seu marido, Frei Marie-Albert Leseur, que foi ordenado padre dominicano na viuvez.
Nascida em 1866, em Paris, casou-se, em 1899, com o médico e jornalista Félix Leseur, um ativista agnóstico e anticlerical, que se comprometera a respeitar as suas crenças. Logo, contudo, tentou dissuadi-la de sua fé. Casada com um incrédulo, fortaleceu-se pela oração. Sabia sublimar todos os assuntos. “Para o sofrimento transformar, é preciso elevar os olhares e a alma para Deus’ – dizia ela.
Discorria sobre a Comunhão dos Santos, que une os fiéis da terra aos santos do Céu: “O véu que separa o mundo da terra daquele do céu se torna como que transparente”.
De saúde frágil, padeceu, sem perder a paciência e o bom humor e, nas suas orações, o pedia incessantemente para que o marido se voltasse para Deus. Considerava o sofrimento uma forma de rezar. Descobrira na vontade divina uma paz que derramava ao redor de si. Por sua fé, era da paz sobrenatural.
Faleceu em 1914. Após sua morte, afirma o Frei Marie-Albert: “Quando tudo parecia acabado para mim, achei o Testamento Espiritual, que redigira e (...) seu Diário. Mergulhei-me nessa leitura, li-o, reli-o e uma revolução operou-se em todo o meu ser moral”.
Percebeu que havia nela algo sobrenatural e que não se tratava de sensibilidade, mas de se colocar a serviço de Cristo, para conquistar verdadeiramente a fé e obter a graça. Armar a própria vontade para dobrá-la ao serviço do Divino Mestre.
Em 1919, Félix entrou no noviciado dos Dominicanos e, em 8 de julho de 1923, foi ordenado sacerdote. Faleceu em 1950.
Elisabeth Leseur foi uma mulher extraordinária e como ela afirmava: “Toda alma que se eleva, eleva o mundo”.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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