Recentemente, tive acesso a um texto do Frei Savério Cannistrà, pregador da Ordem dos Carmelitas Descalços, a respeito da pedagogia de Santa Teresa de Ávila no contexto cultural e atual na Europa. Chamou-me a atenção o que ele diz sobre formação: “dar forma a uma identidade”. Sem dúvida sem moldes planejados. Explica que “a forma não é o revestimento externo de alguma coisa, independente e preexistente, mas é a manifestação de uma realidade interna, a qual, atingindo a maturidade, floresce em uma forma externa, isto é, em um modo característico e orgânico de viver e de pensar, de falar e de agir”. Diz o Frei que é o “não ‘se deixar viver’, mas tomar em mãos a própria vida e o próprio ser, e auscultando-o, ajudar a ‘formar-se’. (...) Dar à pessoa humana uma base segura, um espaço interior no qual esta possa existir, desenvolver-se e agir livremente no mundo”.
É fantástico o texto todo. Uma reflexão que se contrapõe à cultura do mundo contemporâneo. Hoje, com ressalvas, a estrutura do ser humano é voltada para a aparência e, a fim de que esse aspecto se destaque, se amplia a apologia aos bens de consumo, empregando-se meios lícitos e ilícitos em todas as classes sociais.
Fabrica-se uma sociedade de modelo pré-determinado, com gostos e reações semelhantes. Gosto de soberba e reação de violência. Gosto de prazer e reação de uso e abuso dos indivíduos mais vulneráveis. Gosto de ter e mãos fechadas para a partilha. Sociedade que reduz o humano. Sociedade de solidão, em que o indivíduo se adapta ao esperado pelos demais. A respeito da solidão, Frei Savério afirma que na atualidade é “o sinônimo da inexistência, pois existe somente aquilo que pode ser visto, conhecido e aprovado (ou desaprovado) pelos outros”. E quem ignora que a sociedade, na qual vivemos, é atormentada, amarga, combalida? Quem se preocupa em favorecer que os dons, dos que lhe são próximos, transbordem e façam, de cada um, singular no mundo?
O Frei nos convida a reformarmos nossa identidade e, como caminho para assumir o nosso ser, escutar a bênção de Deus sobre cada um de nós, “do Deus que chama à existência e constata que aquilo que surgiu do Seu chamado “era muito bom”, porque “o Bem se doou a ele e veio habitá-lo”.
Santa Teresa de Ávila impregnou-se dessa experiência a partir da vida que decorre da oração.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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