Surpreendi-me com a força da honestidade e da verdade no livro “EU, CHRISTIANE F., A VIDA APESAR DE TUDO”, de Christiane V. Felscherinow com Sonja Vukovic, lançado em 2014 pela Bertrand Brasil.
Christiane, nascida em Hamburgo, na Alemanha, viu, há 35 anos, o seu primeiro livro, traduzido em várias línguas, se tornar bestseller. Em nosso país recebeu o título de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída...” Neste segundo relato, conta o que se passa posteriormente.
Não busca culpados para os acontecimentos de sua história, porém menciona o pai que afogava a frustração no álcool e descarregava a raiva batendo nela e em sua irmã um ano mais nova. A mãe que observava sem fazer nada.
Em relação à droga, afirma que a guerra à dependência física era pouca coisa se comparada à dependência psíquica, frequentemente subestimada. Embora soubesse das raras saídas para essa situação, não conseguia se fixar nelas, porque a dependência se tornara sua mais forte motivação existencial, mesmo observando outros dependentes que extraiam restos de substâncias das seringas para uso próprio, incluindo o HIV e a hepatite C. Palavras dela: “As consequências do vício preenchiam a vida, enquanto as causas produziam apenas uma sensação de vazio”.
Isso é muito sério! Quantas pessoas em risco ou dependentes químicas porque a vida, que experimentam desde a infância, as derrota. Isso é muito sério, pois a sociedade, em geral, é invasiva para insistir no consumismo como razão do ser.
Da época de detenção, na década de 80, conclui: “Em cana você não precisava tomar o café da manhã sozinha porque os seus pais não tinham tempo para isso, não precisava dar explicações a vizinhos, à imprensa, à polícia. Não tinha que pagar imposto, não tinha falso amigo bêbado, não tinha crítica, não era observada nem julgada por todo mundo”.
Essencial recordar-se sempre do quanto a falta de olhar sobre as crianças e adolescentes, os preconceitos e os julgamentos machucam e doem, provocando úlceras purulentas. Há, ainda, no livro, o lamento pelos escassos ouvidos amigos e pelo tanto de curiosidade a respeito dela, como se fosse um bicho raro.
Hoje, aos 51 anos, à beira da cirrose, substitui a heroína em um programa de saúde à base de metadona.
É um livro para se ler com compaixão e com a vontade de se inteirar para melhorar o mundo.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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