Tenho piedade das meninas, da periferia geográfica e existencial, com corpos de pele tenra, manipuladas por adultos inescrupulosos ou pela ignorância dos que não sabem que carícias impróprias emporcalham o emocional.
Condoo-me ao ver pequeninas dançando com trejeitos sensuais sob aplausos dos grandes, que as consideram “evoluídas” para a idade.
Apiedo-me das menores, com trajes diminutos, à mercê de homens e mulheres ébrios.
Lastimo ao saber que crianças assistem a filmes pornográficos e/ou a relacionamentos sexuais de adultos ou jovens que as rodeiam. Lastimo ao saber que veem as novelas que escarnecem dos valores que alicerçam o ser humano.
Compadeço-me das adolescentes grávidas, que não sabem se tratam do bebê de suas entranhas ou da boneca que ficou em cima do travesseiro. Compadeço-me das garotas de pernas infantis à mostra, equilibrando em salto alto, movidas pela vulgaridade consumista, expostas ao despudor, à espera de um pedófilo que lhes ofereça uma cédula em troca de um suspiro qualquer.
Lamento: pelo excesso de preservativos e o quase nada de orientação para refrear os instintos em nome de um relacionamento de verdade; pelo pudor que se tornou obsoleto; pela moda que dependura as carnes nos varais da malícia; pela energia selvagem que ruge e tritura a vida de tanta gente miúda e maior. Lamento pelos filhos gerados em noites mornas, sem um porquê. Crescem na desestrutura de seus pais e fazem de cada dia uma roleta russa. Lamento por destinarem a estrutura familiar ao sorvedouro do Triângulo das Bermudas. Lamento pelos adultos que fecham os olhos para essa realidade.
Meninas erotizadas nas beiradas do mundo, com poucas exceções, são destinadas à boca do lixo ou do luxo. Muito mais à boca do lixo. Primeiro a ilusão, depois o uso, depois o abuso e, no final, bagaços jogados nas sarjetas, com mãos em súplica e os medos em fervedura. São as meninas do poema: “Pequena Crônica Policial” de Mário Quintana: “... As fundas marcas da idade,/ Das canseiras, da bebida.../ Triste da mulher perdida...”
E quem realmente se importa, meu Deus, com as meninas das misturas confusas e desordenadas que se concluem na boca do lixo? E quem realmente se importa, meu Deus, com as mulheres pobres vitimadas pela promiscuidade e pelo abuso sexual desde a infância?
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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