As histórias, do centro e da periferia, que relato nas crônicas, são chamas de vela que iluminam os labirintos de meu ser, ampliam meu conhecimento de humanidade e me ajudam a não encolher as batidas do coração.
A moça, conheci nas beiradas da cidade grande, aos 14 anos, grávida de quatro meses do primeiro filho. Trouxe-a para as cantigas de ninar de minha alma. Nessa idade tenra, surgem perguntas sobre conhecimentos e desconhecimentos que levam uma menina a engravidar tão cedo. Sou avessa a palpites e “interrogatórios” que nada acrescentam e, em casos como esse, opto por aplaudir a vida que se desenvolve nas entranhas maternas e dizer de carinho às mãezinhas assustadas com o novo em seu corpo despreparado. É evidente que sou favorável às orientações, principalmente pela família, sobre as consequências da gravidez na adolescência; orientações que incluam a importância do pudor e do exercício de renúncia aos impulsos e a determinados prazeres, com o propósito de um ideal maior, em um relacionamento que não seja de uso e abuso, de consumo que descarta “bagaços” nas sarjetas, de sopro que acaba em instantes.
Ouvi sobre o bebê durante cinco meses e o acompanhei através das ecografias e “nados’ que esbarravam na barriga. A adolescente o aguardou no último mês entre meiguice e medo da hora do parto. E os temores, já no hospital, despertaram os seus fantasmas antigos. Quem não tem fantasmas adormecidos-acordados ou acordados-adormecidos? A toda instante, pedia, aos que a acompanhavam, que me ligassem para relatar o que estava acontecendo: pouca dilatação e inúmeros espasmos. Desejava que a socorresse. Sem o que fazer, falava dela com Deus e insistia. A criança, depois de 12 horas, nasceu saudável e ela passou bem.
Nove anos após, há um mês, nasceu-lhe uma filha. Reside agora em outro Estado. Apesar da distância, fez-me de proximidade, desde que soube que a bebê a habitava. Foram 36 horas de espera na maternidade. Enviava-me mensagens, via WhatsApp, inserindo-me no acelerado das expectativas. Trocamos mensagens até que silenciou. Duas horas mais tarde, a foto da pequenina. Que encanto!
Compreendi que, embora não seja mãe biológica, tenho com algumas pessoas um cordão umbilical azul. Que coisa boa experimentar essa sensação de fortalecer a espera de quem desembarca na luz! Coisas do Céu!
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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