Estivemos, neste mês, no Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Gostamos de estar lá, agradecendo e pedindo a bênção à Mãe de Jesus.
Na basílica e em seu entorno, há muitos sinais além da construção e de seus ícones, dentre eles o de um povo, muitas vezes judiado, que se deixa guiar pela fé e entende de Eternidade. Observei a leveza e o sorriso de pessoas com limites físicos e mentais e de idosos, sem pressa, em alerta e à espera, como Simeão e Ana, conforme narra São Lucas (2, 25-38), da consolação, da salvação, da luz que cura a descrença no hoje e no amanhã.
Na visita deste ano, me parece que as pessoas, especialmente as com necessidades especiais, que lá se encontravam, tocaram-me mais forte e se fizeram claridade no coração.
No banco da frente, uma moça de trajes simples, na faixa de trinta anos. Via-se, através da blusa, nas costas, a tatuagem: “Meu anjo, minha vida” e o nome do filho que a acompanhava. Menino de 11 ou 12 anos, com algum problema sério de saúde, cabelos ralos, um terço azul no pescoço. Sentados e atentos o tempo inteiro. Ele com a cabeça no ombro dela e ela, de pouco em pouco, encostava a cabeça na dele. Era um amor tão grande! Amor que sara dificuldades e investe em esperança. Amor que não se detém nas perspectivas humanas, mas decifra acenos do Alto. Senti-me minúscula diante da grandeza daquela mulher com quem não tive oportunidade de conversar, de quem não sei o nome e muito menos de onde veio. A serenidade e a silhueta dela que protegiam o filho falavam muito mais forte do que qualquer explicação e revelavam que estava ali em perfeita sintonia com a Senhora Aparecida, do “sim” que nos trouxe o Bom Pastor, que protege e dá sentido a todos os acontecimentos.
Enquanto a contemplava, também mexia comigo o cântico do ato penitencial: “Quantas Vezes” (J. Thomaz Filho – Ir. Miria T. Kolling): “Quantas vezes olhei com desdém as sementes, dezenas, centenas. Quão inútil parece Teu reino, se descuido das coisas pequenas. (...) Quantas vezes passei por aqui, sem notar o tesouro que havia. Quão distante parece Teu reino, se descanso esperando meu dia. Senhor, Senhor, por nossa voz, tende piedade, olhai por nós”.
Trouxe em minhas entranhas, a partir da mãe com seu filho enfermo, o olhar da Senhora Aparecida para os peregrinos que compreendem a linguagem do Céu.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.