Em sua viagem ao México, o Papa Francisco colocou de maneira objetiva as “armadilhas” do narcotráfico, que geram escravos. Na fala aos jovens, afirmou: “A principal ameaça à esperança é você acreditar que por ter um grande carro é feliz, e que se você se disfarça com roupas de marcas, do último grito da moda, ganha prestígio”.
Enquanto lia o discurso do Papa, passavam-me as histórias de garotas, garotos, mulheres e homens do tráfico e da dependência química, que conheci ou conheço. Destaco, de épocas diferentes, dois adolescentes que entraram pelos atalhos das drogas com treze anos. Em comum, a idade e o desencanto nas relações familiares. A moça, criança ainda, se deparou com a rejeição do marido novo da mãe, que insistia ser ela um empecilho no relacionamento do casal. Os abraços que vieram, aos sete anos, de uma “pessoa de bem”, apalparam o seu corpo inteiro. E, no início da puberdade, o padrasto a viu como objeto de consumo. Enojada, foi para a rua. Não traficou para usar, vendeu as partes desejadas de sua carne. Encarou sem surpresa a doença que a dilacerou. Partiu aos 21 anos de sapatos brancos, como me pediu.
O moço, na saída da meninice, ansiava pela presença materna. Impossível: o crack gritava nas entranhas da mãe e a fazia correr angustiada, pelos becos, à procura da pedra. Quando se viam, sentava em seu colo e a abraçava, na expectativa de que o peso de sua afetividade a mantivesse ao seu lado. Ao cessar sobre ela o poder da fumaça que acelera o coração e provoca euforia, o filho crescera e se tornara do tráfico e do uso. Detido, experimenta a solidão de se tornar descartável para a criminalidade, pois não dá lucro no cárcere.
Vidas sem esperança. E como disse o Papa Francisco: “Não se pode viver a esperança, pressentir o amanhã, se antes a pessoa não consegue estimar-se, se não consegue sentir que a sua vida, as suas mãos e a sua história têm valor. (...) A principal ameaça à esperança é quando sentes que tanto vale estares como não estares, Isto mata, isto aniquila-nos e é porta de entrada para tanta amargura. (...) Por isso, queridos amigos, em nome de Jesus peço que não se deixem excluir, não se deixem desvalorizar, não se deixem tratar como mercadoria...”
O combate ao tráfico, em todos os seus domínios, creio eu, começa na consideração pelo outro como indivíduo.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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