O detento escreveu para a mãe: “Estou bem. Agora estou vendo que tenho capacidade de ser um homem que tem tudo pra ser alguém na vida. Saindo daqui vou agradecer a Deus por ter me dado uma nova oportunidade e agora vejo quem é quem”. A sentença de 20 meses pesou nele. Nos anos anteriores, assumiu, perante a autoridade, compromissos que não pôs em prática. Julgava descartáveis as conversas sobre: “a droga, que te leva até as nuvens, não oferece paraquedas”. Despencou feio, após um mês dos seus 18 anos e de atividade nos meandros das sombras. Tornou-se mais um dos esquecidos de seus companheiros. Creio ser por isso a sua conclusão de que agora enxerga “quem é quem”.
No mesmo dia em que li a carta, soube da morte do narcotraficante Jorge Rafaat, em emboscada, no dia 15 de junho, na cidade paraguaia Pedro Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã no Mato Grosso do Sul. Os atiradores usaram uma metralhadora antiaérea calibre 50, rompendo a barreira do carro blindado. Disputa pelo controle do tráfico de armas e drogas, consideram.
Rafaat, com nacionalidade brasileira, vivia como empresário influente, dono de lojas e produtor rural no Paraguai. Dizem que se apropriara, nos anos 2000, das rotas de tráfico de Fernandinho Beira-Mar. A sua história no crime organizado começou desde os anos 90 com contrabando de café. Circulava livremente porque, segundo o titular da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, Luís Rojas, não havia ordem de prisão nem no Brasil, nem no Paraguai.
Terminou assim: uma poça de coágulos, manchete de inúmeros jornais e a família com riscos de ser vítima de violência. Por certo, não valeu a pena se enveredar pelo mundo dos delitos em que os investimentos são feitos com sangue.
Voltando à carta do jovem: “... mas to (sic) tirando meus dias da melhor forma, tirando a cadeia pra ela não me tirar. Às vezes, eu ‘chapo’, mas procuro trocar um papo com algum companheiro, pegar boas ideias, aprimora (sic) minha mente, ser mente pensante para quando sair daqui saber distingui (sic) o certo e o errado”. Ou seja, cumprindo sua pena, de acordo com a lei, sem fazer as “lições” da escola de criminalidade que os estabelecimentos penitenciários possuem.
Sonha ser para os filhos, que possam vir, um pai de verdade, que se importa, em contraste com aquele que o gerou.
Que Deus o fortaleça e salve!
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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