A moça de olhar dolorido carrega tragédias. Em sete meses: o assassinato do filho de 18 anos, a detenção do outro, menor de idade, e mais recente: a execução do genro com 22 anos. Nenhum deles conseguiu concluir o Ensino Fundamental II. Família do sertão, da Chapada Diamantina, área do Polígono das Secas. Por lá se revezavam, à procura de calmaria e prosperidade, entre dois municípios, numa distância de 585 km, e tendo em comum a violência. A maioria dos homicídios acontece por conta do tráfico de drogas e os sacrificados se encaixam no perfil de vulnerabilidade. De acordo com as estatísticas locais os jovens entre 18 e 29 anos são as maiores vítimas dos assassinatos. É a banalização da vida. Mata-se por qualquer motivo.
Mas voltando à moça, São Paulo foi um sonho de “Paraíso Perdido”. O filho mais velho e o genro retornaram ao Nordeste. Encontraram, também pelo lado de cá, a malandragem sem castigo, de “braços abertos” para as pessoas que carregam pobrezas. Grupo rival no WhatsApp, escolheu seu menino para chacinar, demonstrando “superioridade”. Quanto ao genro, morto às 10h30, retiraram-no do chão às 15h00. O rosto irreconhecível. Como caíra de bruços, o calor do sol no asfalto destruiu a sua aparência. A esposa, com a nenê deles de três anos no colo, seguiu no carro fúnebre a fim de entregar à sogra, em cidade distante, o corpo do filho!
Perguntei à moça como resumiria o que faltou aos filhos e ao genro para não se introduzirem nos descaminhos e me resumiu em uma única palavra: atenção. Atenção por parte da sociedade incluída, atenção na escola para os que têm dificuldade em aprender e conviver, atenção à impunidade que incentiva o crime.
Encontrava-me com esta crônica na alma, quando ouvi a homilia do Frei Francisco Sales, OCD, na Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, no Carmelo São José. Disse que, do alto da cruz, Jesus dá à Maria uma nova missão: ser mãe da humanidade e, dessa forma, ela assume a cultura de todos os povos: Nossa Senhora Aparecida, de Fátima, de Guadalupe... E convidou-nos a imitá-la.
Senti-me fecundada pela esperança na colocação do Frei. Por certo a mudança da sociedade passa por condenar menos e assumir mais a face dessa gente sofrida; emprestar os seus olhos para ver a realidade que sangra; sintonizar as batidas do coração e ser parceiro de fato no caminho do bem.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE- Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
OS MEUS LINKS