No capítulo Diante da violência extrema: ouvindo os jovens ‘serenos’, do livro “A Formação de Jovens Violentos – Estudo sobre a etiologia da violência extrema” do sociólogo Marcos Rolim – Appris editora -, há um subtítulo: A família como dor, em que os entrevistados, internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), do Rio Grande do Sul, demonstram suas experiências problemáticas a partir da ausência paterna ou de incompreensão, hostilidade e mesmo violência sistemática oferecida pelos pais biológicos ou padrastos, ou seja, figura masculina de presença insuportável. Um dos entrevistados revela que teve, com o pai, um tipo de relação formal, sem qualquer investimento afetivo. Relata Nestor –pág. 168 -: “Eu falava com ele na rua, mas não era aquele afeto tipo pai para filho, sabe? Era oi, pá, eu apertava a mão dele e ele ia fazer as coisas dele e eu as minhas. Ele não me dava nada, eu não dava nada para ele e era isso aí”. “Colaborou”, por certo, em empurrá-lo para a criminalidade.
O acompanhamento paterno é tão importante quanto o materno. Há pai: de influência adorável, de ausência justificável, de convivência inconveniente e há, ainda, o pai que é uma incógnita.
O menino – conheço-o desde o ventre materno - tem apenas sete anos e dois irmãos, o de 20 e o de dois anos. Reside com a avó por razões da família. Ao nascer, a mãe não havia encontrado a firmeza necessária dentre suas angústias. No primeiro dia de férias deste ano, comentou que desejava ir para a cidade da mãe, com o propósito de encontrá-la. Acrescentei: “Ver sua mãe e seu irmão”. Olhou-me com estranheza e questionou: “Meu irmão de 20 anos?” Esse irmão, dependente químico, foi preso, não faz muito, no tráfico. Disse-lhe que não, o pequenino. Respondeu-me, de imediato, que esse não precisava de visita, porque possuía pai.
Tão novo e testemunhando a falta que um pai faz! Não há dúvida, portanto, sobre a razão da opacidade em seus olhos, do seu sorriso recolhido e da angústia que explode, inúmeras vezes, em choro convulsivo.
Enquanto alguns pregam relacionamentos sem laços de amor com responsabilidade, meninos e meninas oscilam nas ondas do mundo pela falta da âncora que chama pai. Pai de verdade assume, cuida, abraça, acompanha e mostra ao filho que é possível, no desequilíbrio dos passos, ancorar no porto de seu coração.
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -
Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.
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