PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sexta-feira, 1 de Novembro de 2019
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE - AS GRADES DO MUNDO

 

 

 

 

 

 

 

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Conheço a moça faz muito. Era novinha ainda. De família com laços desfeitos, buscava, em cidades das proximidades, acertar os descompassos de seu mundo. Vieram os dois filhos de relacionamentos passageiros. Outro moço, no entanto, que chegou em hora que parecia certa, quis os filhos como se fossem dele. Ela expandiu o sorriso tímido. Talvez, a época de guarida. Desconhecia, no entanto, que ele vinha de desencontros maiores, envolvido com o ilícito. As misérias que carregava, não apenas a da falta de dinheiro, escola, formação profissional, impossibilitou-lhe reagir. Prosseguiu ao seu lado, o que fez com que os pais dele assumissem, sob protestos, os meninos como netos. Ela ficou de maternidade dividida com a sogra, que não a considerava nora e impunha regras que não eram as dela. Como se criou no exercício de renunciar-se... Em tempo curto, o companheiro foi detido e, de detenção em detenção, acumularam-se as penalidades e foi para presídio de segurança maior. Após as visitas, executava instruções do companheiro aqui fora, que a dominava em suas carências e necessidade de proteção. Era de miséria, também, em suas emoções, decorrente de sua história.
Conseguiu alugar uma casinha e “resgatar” os filhos da avó por empréstimo. O problema da avó cedida era desgostar dela e discordar com sua omissão à vida desregrada do filho. Considerava que o fortalecia em seus absurdos. Cuidaria das crianças se não fosse a presença dos dois.
No desempenho de uma das ordens do indivíduo, com quem permanecia por medos, perdeu a primariedade. Detida também, conseguiu responder em liberdade para ficar com os garotos. Em breve, a audiência definitiva. Não comparecer, deslocar-se com os filhos para outro Estado, desaparecer no mundo? Possui consciência da sabedoria bíblica: “Não há nada de oculto que não seja revelado” (São Marcos 4, 22), ou como dizia minha avó paterna e já repeti em outros textos: “A terra jurou não guardar segredo”.
O advogado lhe disse que, por certo, será condenada no regime fechado. A decisão é dela. Amadurecida pelo sofrimento, presume que, no cárcere, cumprindo as sanções, por pior que seja, encontrará a liberdade que busca. As algemas do mundo aqui de fora a danificaram demais. A primeira providência é encontrar um abrigo para que seus meninos permaneçam juntos até o retorno. Procurará cumprir as determinações legais no tempo de calabouço e se preparar para o retorno, de mãos dadas com os filhos, pés no chão e olhos no Céu.
 

 

 

 

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE -

 Professora e cronista. Coordenadora diocesana da Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena/ Magdala. Jundiaí, Brasil.

 

***

 

 

 

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publicado por Luso-brasileiro às 17:02
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