PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sábado, 31 de Agosto de 2019
PAULO R. LABEGALINI - ALGUNS TIPOS DE LEALDADE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O imperador romano, Júlio César, confiava cegamente em Brutus - eles compartilhavam grandes ideias e segredos. Um dia, por volta do ano 44 antes de Cristo, César entrou no prédio do senado romano e foi surpreendido por assassinos. Enfrentava bravamente os conspiradores quando viu aproximar-se seu amigo Brutus – de adaga em punho e pronto para golpeá-lo.

Ferido pela traição, César abandonou a resistência, puxou a toga sobre a cabeça, pronunciou a memorável frase: ‘Até tu Brutus?’; e sem mais protestar, foi ao encontro da morte. Ali terminava a confiança, a lealdade e a transparente amizade entre dois seres humanos da nossa história.

Desde então, milhares de outros fatos foram narrados enfocando verdadeiras e falsas amizades na face da Terra. Eis uma história comovente de lealdade:

Em 1864, em Edinburgh, na Escócia, vivia um velho homem chamado Jock. Durante toda sua vida tinha sido um fiel pastor de ovelhas, enfrentando bravamente perigos e intempéries para defender o rebanho. Com quase setenta anos, ainda conservava o coração e a habilidade de um bom pastor, mas não a saúde necessária.

Suas pernas já não podiam escalar as pedras para resgatar uma ovelha ou para espantar um predador e, embora a família para quem trabalhava gostasse muito dele, as finanças iam mal e não podiam conservá-lo. Assim, mancando por fora e magoado por dentro, partiu de trem, deixando sua terra natal rumo a um novo lar na cidade.

Jock fazia um pouco de tudo e ganhou muitos amigos num lugar de mercadores. Eles gostavam do velho pelo seu sorriso simpático e por suas habilidades nos mais variados trabalhos, mas, apesar disso, sua família se constituía apenas dele e de um cachorrinho Fox Terrier que ele adotou com o nome de Bobby.

Eram inseparáveis e estavam sempre juntos na rotina de passar pelas lojas em busca de serviços. Todos os dias eles começavam pelo restaurante local, onde recebiam o que comer em troca de trabalho; depois, continuavam de porta em porta até que, à noite, os dois voltavam para um porão que lhes servia de morada.

Dizem que muitas pessoas pressentem quando o tempo de morrer está próximo e foi assim com Jock. Um dia, ao amanhecer, quase um ano após chegar à cidade, ao invés de levantar-se, o velho puxou sua cama para perto da janelinha do quarto e lá ficou olhando as montanhas distantes de sua amada Escócia. ‘Bobby – disse ele afagando o pelo escuro e denso do cachorro, com a mão que agora só tinha a força do amor –, é tempo de eu ir para casa. Eles não conseguirão me afastar de minha terra novamente. Sinto muito, camarada, mas você vai ter de se cuidar sozinho daqui por diante.’

E Jock foi enterrado no dia seguinte num lugar pouco comum para pobres. Por causa da necessidade de ser sepultado rapidamente, seus restos mortais foram colocados num dos cemitérios mais nobres de Edinburgh – o Greyfriar. Assim, entre os grandes e mais nobres homens da Escócia, foi enterrado um homem muito simples. E é aqui que a melhor parte da história começa.

Na manhã seguinte, o pequeno Bobby apareceu no mesmo restaurante em que ele e Jock visitavam a cada dia e, a seguir, fez também a ronda das lojas. Isso aconteceu dia após dia, mas, à noite, o cachorrinho sumia e somente reaparecia no dia seguinte.

Amigos do velho Jock sempre perguntavam onde o animal teria ido dormir, até que o mistério foi revelado. Cada noite, Bobby não ia à procura de um lugar quente para descansar, nem mesmo de um abrigo para protegê-lo do frio e da chuva constantes da Escócia. Ele ia até o cemitério Greyfriar e tomava posição ao lado de seu dono.

O vigia do cemitério o tocava de lá cada vez que o via, afinal, existia uma ordem expressa proibindo cachorros de entrarem em cemitérios. O homem tentou consertar a cerca, pôs armadilhas para caçá-lo, até que, finalmente, com a ajuda do chefe de polícia, o pequeno Bobby foi capturado e preso por não ter uma licença. E, uma vez que ninguém se apresentou como seu legítimo dono, parecia que Bobby seria morto.

Chegou o dia em que o caso passaria pela alta corte de Edinburgh. Seria quase um milagre salvar a vida de Bobby e conceder ao cão fiel o destino de continuar perto do túmulo de seu amigo, mas, num ato sem precedentes na história da Escócia, foi exatamente o que aconteceu.

Antes que o juiz pudesse dar a sentença, uma turma de crianças entrou na sala de audiência e, moeda por moeda, apresentaram a quantia necessária para a licença de Bobby. O oficial da corte ficou tão impressionado pela afeição das crianças pelo animal que concedeu a ele um título especial, tornando-o propriedade da cidade – com uma coleira declarando o fato pendurada em seu pescoço.

Bobby pôde, então, correr livremente com as crianças durante o dia e, a cada noite – durante quatorze anos até a data em que morreu, 1879 –, manteve guarda silenciosa no cemitério de Greyfriar, bem ao lado de seu dono. Se algum dia você for para Edinburgh, poderá ver a estátua de Bobby naquele cemitério – 140 anos desde sua morte.

E assim, um cachorrinho demonstrou uma característica que gostaríamos de encontrar em todos os seres humanos: lealdade. Quem a tem, permanece ao lado da cama do amigo doente, ouve os seus problemas horas sem fim, reza por ele e lhe presta todos os tipos de caridade até mesmo em domingos e feriados.

Jesus Cristo é muito leal a todos os que o seguem e, a esses, peço a salvação eterna e dedico esta história. Assim seja!

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.



publicado por Luso-brasileiro às 10:30
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