PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sexta-feira, 24 de Julho de 2020
PAULO R. LABEGALINI - O COLECIONADOR DE PROBLEMAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Paulo Labegalini.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Numa aldeia, muitos passavam a vida colecionando objetos descartados por outras pessoas, porque descobriram que a posse de uma grande e variada quantidade de artigos velhos os fazia valiosos novamente.

Um dos colecionadores tinha uma provisão esplêndida de garrafas coloridas de vidro e chamava a atenção pendurando-as em árvores e criando músicas ao tocá-las com varas. Outro, colecionava sapatos de todos os tipos e comentava o quanto variavam os tamanhos e as formas dos pés das pessoas. Havia colecionador de panelas, de livros cômicos, de jornais esportivos; na verdade, era uma verdadeira coleção de colecionadores!

Um dia, um velho homem vagando pela aldeia perguntou onde ficava a praça dos colecionadores. Ele levava um grande pacote, mas não parecia estar carregando muito peso. Assim que encontrou o lugar, muitos perceberam que havia um novo colecionador entre eles e quiseram saber o que o velho trazia no pacote.

- É apenas o meu almoço e uma capa de chuva – respondeu ele.

- Você quer dizer que não tem nenhuma coleção? – perguntaram-lhe.

- Oh, sim. Eu sou um grande colecionador, mas o que coleciono não cabe em nenhuma caixa, pois eu guardo os problemas e as preocupações das pessoas.

Como essa era uma ideia estranha, pediram que ele lhes explicasse.

- Bem, há muito tempo, descobri que todos querem se livrar das preocupações, dos fardos pesados, das tristezas, dos tempos difíceis - essas coisas que jogam as pessoas para baixo e tornam suas vidas mais tristes. Assim, eu me ofereço para colecionar esses problemas e todos se sentem bem! Não é simples?

Alguns pensaram que era uma convicção tola e possivelmente seria perigosa à reputação da profissão, mas logo apareceu um comerciante e novamente perguntou-lhe como colecionava problemas.

- Bem, provavelmente, há algo em sua vida que o aborrece agora mesmo. Fale-me um pouco dessa preocupação e eu a acrescentarei à minha coleção.

- Mas como isso me ajudará? Você pode desaparecer com o problema só porque lhe falo sobre isso?

- Não, mas você se sentirá melhor. Vamos, tente!

Assim, a pessoa falou para o velho sobre algo muito triste. Quando a história terminou, o colecionador de problemas acenou com a cabeça algumas vezes, elevou as mãos como se erguesse algo pesado e fingiu colocar na caixa.

- Pronto! Eu guardei este para você. Como se sente?

 - Estranho, me sinto bem! Eu acho que posso controlar o problema muito melhor agora. Realmente funciona!

Aquelas palavras se espalharam ao vento e todos os dias havia uma multidão em volta do velho. Muita gente chegava chorando e saía aliviada, inclusive uma mulher que se aproximou com considerável dificuldade para andar, dizendo:

- Oh, você não sabe quantos pesados fardos há neste mundo. Eu venho de uma cidade onde existem mais problemas do que em qualquer outro lugar. Todos sofrem, ninguém tem qualquer esperança e, o pior, as autoridades prosperam passando por cima dos problemas do povo. É um lugar desesperador! Tive que sair de lá.

O colecionador de problemas ficou sério, levantou-se e ergueu o pacote com um gesto mais lento que o normal. Depois de um longo silêncio, falou calmamente:

- Eu tenho que ir até lá.

Os aldeãos fizeram um grande protesto, pois não queriam perdê-lo. Tinham medo de como ficaria a cidade sem ele e lhe imploraram que ficasse, mas o velho escapuliu no meio da noite.

Muito tempo se passou até que um jovem entrou na aldeia. As pessoas lhe perguntaram se sabia do velho que tinha partido para a cidade dos problemas difíceis.

- Conheci, sim! Graças a ele, as pessoas do lugar começaram a se sentir melhor e a ter um pouco de esperança, mas não levou muito tempo para as autoridades o notarem. Mandaram que partisse e deixasse de se intrometer nas vidas das pessoas.

E com os olhos tristes e um nó na garganta, continuou:

- Como se recusou a ir embora, eles o colocaram na prisão. Lá, ele também colecionou os problemas dos outros prisioneiros! Finalmente, as autoridades decidiram que o bom homem era uma ameaça subversiva ao sistema e o executaram.

Todos começaram a chorar. O jovem, então, concluiu:

- Eu sinto muito por lhes trazer notícias tão tristes. Ele também era meu amigo.

De repente, o rapaz deu um pulo, sorriu e, iluminado por uma grande ideia, começou a gritar:

- Colecionar problemas ainda funciona! Você pode fazer isso para mim e eu posso fazer o mesmo para você! Ele só nos ‘ensinou a pescar’! O que temos a praticar é simples: basta ouvirmos as pessoas, pedirmos que desabafem e, assim, reflitam melhor nas coisas boas da vida! Serei um colecionador de problemas e hei de espalhar o que aprendi.

A partir dali, aquele jovem passou a ajudar muita gente e descobriu outros colecionadores de problemas. A cidade onde o mestre deles todos foi executado, tornou-se o lugar mais feliz da região!

Ei, você! Sim, você que está lendo este texto! Quer se tornar um ‘colecionador de problemas’? Então, siga os ensinamentos do nosso Mestre que morreu na Cruz e ame a todos.

 

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI - Escritor católico. Vicentino de Itajubá - Minas Gerais - Brasil. Professor Doutor do Instituto Federal Sul de Minas - Pouso Alegre.‘Autor do livro ‘Mensagens Infantis Educativas’ – Editora Cleofas.



publicado por Luso-brasileiro às 09:51
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
arquivos

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links