Dizia Jesus às multidões: “Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: ‘Vem lá a chuva’; e assim sucede. E quando sopra o vento sul, dizeis: ‘Vai haver muito calor’; e assim acontece. Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis reconhecer o tempo presente? Por que não julgais por vós mesmos o que é justo?” (Lc 12).
A natureza realmente nos dá lições maravilhosas e nos permite espelhar nossas vidas em acontecimentos marcantes! Muitos animais se ajudam a cada dia, possibilitando a sobrevivência da espécie e a realização do objetivo almejado. Os gansos, por exemplo, retratam bem a união de um grupo a ser imitado pelos humanos.
Embora a internet já tenha divulgado isso exaustivamente, você saberia dizer por que os gansos, quando voam, estabelecem uma formação em ‘V’? Vou recordar em alguns motivos:
1. À medida que cada ave bate as asas, cria uma área de sustentação para a espécie seguinte. Voando em ‘V’, o grupo inteiro consegue resistir pelo menos 71% a mais do que se cada ganso voasse isoladamente.
2. Quando o ganso líder se cansa, ele vai para a parte de trás da formação enquanto um outro assume a frente. E os gansos da retaguarda grasnam para encorajar o da frente a manter o ritmo e a velocidade.
3. Quando por qualquer motivo um fica para trás, dois outros saem da formação e seguem-no para protegê-lo. Eles o acompanham até que suas condições melhorem e, então, os três reiniciam a jornada, juntando-se a alguma formação mais próxima – até encontrarem o grupo original.
Concluindo, um ganso sozinho possivelmente não chegaria ao destino sem a ajuda do grupo. Também Jesus ensinou isso aos discípulos: ajudem-se mutuamente; o considerado maior sempre sirva o menor; unam-se para realizar uma missão com sucesso; não caminhem sozinhos etc. Como Deus fez a natureza e também instruiu os discípulos, só há coerência nisso tudo, concorda?
O foco é a caridade, esse dom maior que recebemos no Batismo e que, às vezes, fica adormecido por algum tempo. Quem não demonstra que ama o irmão, acaba dando espaço ao egoísmo e cai em muitas tentações no cotidiano. É preciso, então, orar e agir segundo os ensinamentos de Jesus – que também estão presentes na natureza.
Mas, para facilitar a nossa busca, como todo bom ensinamento está contido nos Evangelhos, recordo estas palavras de Jesus aos discípulos: “Esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Mc 12,43-44). Ele se referiu às grandes ofertas feitas no templo pelos ricos, enquanto a viúva depositou apenas duas moedas no cofre.
Algumas pessoas sabem que a verdadeira caridade é aquela que brota do coração. Aliás, acho que todos sabem, mas poucos praticam. Um simples gesto de amor por parte de cada cidadão já seria o suficiente para alegrar e alimentar todo o planeta. Os ricos doariam dinheiro; os políticos zelariam pela justiça; os religiosos levariam a Palavra; os pobres retribuiriam com sorrisos; e os mansos de coração selariam a paz!
Não parece muito simples esta combinação? E é simples realmente! O problema é que muita gente não dá valor ao Reino de Deus e prefere prestar culto ao egoísmo e à ambição. Esses, de corações fechados à caridade, não entenderiam nem a mensagem desta história:
Dois irmãozinhos maltrapilhos iam pedindo um pouco de comida pelas casas da rua que beira um morro. Estavam famintos e ouviam por diversas vezes: ‘Aqui não há nada, moleque’. Por fim, uma senhora humilde disse-lhes: ‘Vou ver se tenho alguma coisa para vocês, coitadinhos!’ Como também era pobre, voltou com uma pequena latinha de leite.
Que festa! Ambos se sentaram na calçada e o menorzinho disse para o de dez anos: ‘Você é mais velho, tome primeiro’. Então, o maior levou a lata à boca e, fazendo gesto de beber, apertou fortemente os lábios para que não penetrasse uma só gota de leite. Depois, estendendo a lata, disse ao irmãozinho: ‘Pronto, agora é sua vez. Só um pouco, hein!’ E o irmãozinho, dando um grande gole, exclamou: ‘Que gostoso!’
Isso se repetiu várias vezes, até que o menorzinho bebeu todo o leite sozinho. E o detalhe mais importante: o mais velho começou a cantar, a sambar, a jogar futebol com a lata de leite... de estômago vazio, mas com o coração trasbordante de alegria. Quem viu a cena aprendeu esta grande lição: ‘Aquele que dá é mais feliz do que aquele que recebe!’ E quem não viu e veio saber depois, será que também aprendeu alguma coisa?
Da mesma forma, muitos não O seguem porque não viram de perto o sofrimento de Jesus por nós. Infelizmente, se não mudarem, talvez nem O verão no Céu!
PAULO R. LABEGALINI - Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre - MG).
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