Era uma vez uma formiguinha asseada, que se vestia diferente das outras e se considerava a mais bonita. Sonhava em viajar pelo mundo e adorava passear no bosque.
A rainha Paciência ficava de olho nela, pois a formiguinha vivia nas nuvens e, com o inverno chegando, tinham que encher a despensa com bastante alimento. A formiguinha trabalhava sozinha, pois detestava as longas filas das formigas.
Um dia ela resolveu se libertar:
– Não aguento mais essa vida de andar umas atrás das outras. Quero ser independente, conhecer o mundo! Trabalha-se demais aqui e ninguém curte a vida. Vivemos todos num formigueiro super-apertado!
Então, quando todas dormiam, ela arrumou a trouxinha e saiu atrás de aventuras. Andando, prestava atenção em tudo: cada árvore diferente, cada pedra, cada flor. Mas, onde ela iria passar a noite?
Ouviu um barulho que vinha debaixo da mangueira elegante. Teve a ousadia de entrar no formigueiro e o que viu a deixou chocada: um monte de formigas trabalhando com correntes amarradas nas pernas! Formigas velhas, crianças, doentes; que loucura era aquilo?
Logo soube que estava no buraco-prisão, pertencente ao formigueiro da rainha Ditadura. Lá, ninguém fugia porque temiam maldades maiores por parte da rainha. Imediatamente, a formiguinha resolveu soltá-las e promover uma revolução.
Depois que todas estavam soltas e os vigias presos, as mais fortes carregaram nas costas as fraquinhas e saíram correndo mais rápido que coelho assustado com bomba de São João. Quando o dia amanheceu, elas já estavam bem longe da prisão. Daí, a formiguinha Aventureira reuniu todas numa pedra e fez uma reunião.
– Amigas, vocês agora são livres. Podem fazer com as suas vidas o que quiserem. Ficarei aqui uns dias até ver que se organizaram e a primeira coisa que faremos é um formigueiro bem bonito.
Ela logo lhes ensinou a dividir tarefas de forma que tivessem tempo livre para se divertirem, sem fila, cada uma fazendo sua parte. Era tanta competência que tentaram eleger a formiguinha Aventureira como rainha oficial do grupo, mas a saudade bateu no coração e ela resolveu voltar às origens. Fez sua trouxinha e...
E o que? Como termino a história? A rainha Paciência a recebe feliz ou a expulsa por tê-la abandonado? Será que existe perdão no coração de uma formiga?
Pois é, herdamos dons maravilhosos e não os valorizamos como Jesus nos ensinou. Às vezes, até numa simples história torcemos por um final feliz e nos sentimos recompensados por isso, mas fazemos tudo ao contrário em nossa própria vida. Os anos passam, as oportunidades de felicidade não se renovam e a Palavra de Deus fica em segundo plano – segundo ou último, quem sabe!
Eu nunca ouvi alguém dizer que se arrependeu de perdoar, exceto quando o perdão não foi concedido com amor. Quem ama de coração tem compaixão do próximo e perdoa principalmente os mais próximos, tipo: parentes de sangue, cônjuges, colegas de trabalho, vizinhos. Depois da reconciliação, uma carga enorme de rancor sai do coração e abre espaço para sentimentos mais nobres – que agradam a Deus.
Sempre prego isto e pode parecer que vivo sem problemas com meus irmãos, o que não é verdade. Mesmo nas comunidades religiosas, existem fatos que nos magoam imensamente e poderiam ser motivos para distanciamento entre as pessoas, porém, precisa prevalecer a correção cristã acima de tudo. Jesus perdoava e dizia: ‘Vá e não volte a pecar’.
Imagine você, centenas de pessoas trabalhando numa festa por vários dias, se ‘esbarrando’ a toda hora, sem se conhecerem direito. E mais: servindo milhares de pessoas por dia que vêm de lugares e culturas diferentes. Dá para responder por que não acontecem brigas feias na prestação do serviço? Não seria comum existirem conflitos sem soluções em curto prazo?
A resposta é simples: se estão servindo a Deus sob a proteção de Maria Santíssima, tudo se resolve com relativa tranquilidade. Sempre foi assim na Festa de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Itajubá, onde provações aconteceram e graças também. Com orações e a liderança do sacerdote, alcançamos o nosso objetivo: homenagear nossa Padroeira com alegria e muita paz.
E se alguém se interessasse no motivo que nos leva a largar todos os afazeres pessoais, profissionais e familiares para trabalhar na festa, eu responderia as palavras de festeiros de anos atrás:
– Formamos uma igreja viva unida em Jesus Cristo. Assim como Maria, poderíamos nos acomodar e não aceitar o chamado de Deus, mas imitamos nossa querida Mãe e dissemos ‘sim’. Cristão comprometido é isso: disponibilidade para construir o Reino de Amor aqui na Terra.
E sempre agradecemos as ‘formiguinhas’ que nos ajudam. Que a Rainha desse ‘imenso formigueiro’ as recompense eternamente. Amém!
PAULO R. LABEGALINI - Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre - MG)
OS MEUS LINKS