PAZ - Blogue luso-brasileiro
Terça-feira, 23 de Setembro de 2014
PAULO ROBERTO LABEGALINI - A JANELA DA VIDA

 

 

 

 

 

 

Recebi este texto e gostaria de compartilhar com meus leitores:

 

“Eu era criança quando, pela primeira vez, entrei num avião. A ansiedade de voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o voo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem. Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens e chegando ao céu azul. Tudo era novidade e fantasia.

 

Cresci, me formei e comecei a trabalhar.  No meu serviço, desde o início, voar era uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia. No início pedia sempre poltronas ao lado da janela e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.

 

O tempo foi passando, a correria aumentando e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse. Perdi o encanto. Pensava somente em sentar, me acomodar e sair rápido.

 

As poltronas do corredor agora eram exigência, por serem mais fáceis para desembarcar sem ter que esperar ninguém. Estava sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

 

Por um desses maravilhosos acasos do destino, eu estava louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar a Curitiba o mais depressa possível. O voo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela na última poltrona. Sem pensar, concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque. Acomodei-me na poltrona indicada: na janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar.

 

E, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu. Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol que brilhava como se tivesse acabado de nascer.

 

Naquele instante em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista. Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e do convívio pessoal? Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixei de olhar pela janela da vida.

 

A vida também é uma viagem e, se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens – que são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos. Se viajarmos somente na poltrona do corredor – com pressa de chegar sabe-se lá aonde –, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.

 

Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor para desembarcar rápido e ganhar tempo, pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem completa nunca é anunciada pelo comandante. Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.

 

Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe, afinal, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos.”

 

Bonita reflexão, não? Eu tomo a liberdade de acrescentar mais algumas palavras, e diria que, na janela da vida, vemos passar coisas boas e outras ruins bem próximas dos nossos olhos. Boas, tipo: justiça, esperança, oração e perdão. Ruins, como: ódio, egoísmo, inveja e mentira.

 

As coisas boas contribuem para a paz no mundo e as ruins nos conduzem à imundice do pecado. Dizer ‘sim’ àquilo que Deus recomenda nem sempre é fácil, pois nossos desejos pessoais gritam forte na mente e favorecem cairmos em tentação. Quem já não passou por isso e, um dia, acabou se arrependendo?

 

Às vezes, nem olhamos as graças acontecendo e só prestamos atenção naquilo que traz sofrimento. Então, antes que a viagem termine, repare quem está do outro lado da janela: o bem ou o mal? E você, está sentado no lugar certo? Quem está ao seu lado pode lhe ajudar ou precisa de ajuda? E o mais importante: aquele coração maravilhoso, puro e cheio de amor que Deus lhe deu quando permitiu que nascesse, ainda bate forte em seu peito?

 

Ah, repare que a janela de sua vida não tem vidraça. Ela é bem espaçosa e está sempre aberta para você alcançar outras oportunidades de amar. Então, acorde! A exuberante viagem eterna mal começou.

 

 

 

 

PAULO ROBERTO LABEGALINI -    Escritor católico, Professor Doutor da Universidade Federal de Itajubá-MG. Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da UNIFEI.

 



publicado por Luso-brasileiro às 11:59
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