PAZ - Blogue luso-brasileiro
Sexta-feira, 29 de Janeiro de 2021
PÉRICLES CAPANEMA - A FUGA DA SOLUÇÃO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Péricles Capanema.jpeg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Andrés Manuel López Obrador (AMLO), presidente do México, populista de esquerda, entre outros horrores, favorece o castrismo e é leniente com o chavismo. Até por atavismo estimula movimentos revolucionários. Como numerosos dirigentes de mesma orientação, privilegia na área econômica políticas regressivas, ou seja, intervencionistas e estatistas. E assim permanece hoje plantado no atraso. Por exemplo, a PEMEX mexicana, estatal foco de roubalheira e desperdício, não muito diferente de nossa PETROBRAS, pode estar tranquila durante seu mandato de seis anos.

 

AMLO tem problema sério para resolver, vacinar com urgência a população do país contra a COVID-19. Se fracassar, além de causar mortes perfeitamente evitáveis e agravar o fechamento econômico, sua popularidade se arrastará pelo chão. Isso, não quer o experimentado político. O problema, aliás, não é apenas dele, constitui preocupação que vagueia pela cabeça de todo governante em nossos dias.

 

Para vacinar, AMLO usa com força total os recursos do Estado. Em fins de março, é o plano do governo, haverá 15 milhões de vacinados no país ▬ população de aproximadamente 130 milhões. De outro modo, mais de 21 milhões de doses aplicadas, soma de quatro fontes, Pfizer-BioNTech, CanSinoBIO, AstraZeneca e Sputinik.

 

No Brasil, fins de março, população de aproximadamente 210 milhões, segundo planos oficiais, teremos 9 milhões de vacinados. Oxalá. Como se vê, e todos sabem, nossa situação não é nada boa, dito de forma eufêmica. Por que faço o contraste? Por angústia, chamo a atenção para a urgência e relevância da situação e assim, clara como água de pote, fica posta a necessidade de arregimentar toda ajuda de que possamos dispor.

 

Volto ao México. Por coerência com seu passado, AMLO afastará a contribuição da iniciativa privada na resolução da questão. Irá pelo estatismo e intervencionismo. Certo? Errado. Redondamente errado.

 

AMLO, embora certamente não o confesse, conhece por experiência própria a agilidade paquidérmica do setor público, a habitual falta de rumos, as usuais negligência e incompetência. Conhece ainda a corrupção, a roubalheira e os favorecimentos escandalosos. Temerá seus efeitos, pouca vacinação, lentidão, economia parada, mortes em subida, raiva do público. Sua popularidade irá por água abaixo.

 

O que fez AMLO? Afirmou sem rebuços, favorecerá a presença do setor privado na solução do caso espinhoso. Um esquerdista de décadas, digo eu, agredido pela realidade e que navega no caso em mares menos encapelados que os nossos, convida, como outros governos, a iniciativa privada para participar da solução do problema. Informa a Associated Press, despacho de 28 de dezembro último, o presidente mexicano quer a ajuda do setor privado para resolver a questão. “Não nos opomos à comercialização da vacina, a que empresas privadas importem o produto e o vendam a quem possa pagar”. Para tal, ele coloca certas condições que não vem ao caso aqui relatar. E não trata, pelo menos não está no despacho da AP, do caso de empresas importarem o produto, não para vendê-lo, mas para vacinar funcionários e familiares seus, além de doar parte dele para utilização na rede pública, como aqui e ali, foi ventilado por empresários na imprensa brasileira.

 

É mais que justificável, é mesmo necessário e louvável, a distribuição das vacinas ampla e gratuita, privilegiando os mais necessitados, pelo Poder Público. Quanto mais, melhor. O que é absurdo é inibir o setor privado ─ de fato, barrar seus passos ─ a agir na mesma direção, ou seja, contribuir para vacinar logo toda a população. E, com isso, além de expandir a vacinação, diminui o peso no ombro do setor estatal.

 

Por que não acontece? Embora de início autoridades federais tenham levantado a possibilidade de chamar o setor privado para ajudar a resolver a situação, houve retrocesso. Na reunião do Conselho Superior Diálogo pelo Brasil, realizada na FIESP, 13 de janeiro, foi comunicada aos empresários a proibição governamental de os empresários comprarem vacinas para imunizar funcionários. Na ocasião declarou Paulo Skaf, presidente da FIESP: “Uma empresa que tenha 100 mil funcionários, se ela quiser ir ao mercado, comprar uma vacina e vacinar seus funcionários, isso não pode. A campanha de vacinação será orientada pelo governo, pelo Ministério da Saúde, que vai adquirir as vacinas que estiverem aprovadas pela Anvisa e distribuir aos Estados. Então essa possibilidade foi negada”.

 

Perguntei, por que não acontece o chamamento à iniciativa privada? Venho solicitando a atenção ao longo dos anos e em numerosas ocasiões para aspecto verdadeiramente pavoroso de nossa realidade: temos entranhados tumores de estimação, cuidamos deles. Nosso xodó por eles é amazônico. O estatismo é um deles. A reforma agrária, outro. Tem mais.

 

É vital para o Brasil se livrar dessa infecção, causadora de retrocessos sem fim. Enfraquece, estiola, atrofia, debilita, exaure, prostra, depaupera, enlameia o organismo socioeconômico do Brasil. Por fim, as metástases, se não eliminadas, irão matá-lo, como matam todas as sociedades sufocadas pelo coletivismo. Em resumo, de momento tal infecção, que corrói a aplicação do princípio de subsidiariedade entre nós, corta a possibilidade de o Brasil tomar o lugar natural que lhe reservam suas potencialidades.

 

Calo-me e deixo a palavra a palavra para empresário de valor que sentiu na carne a infecção letal dos tumores de estimação. Salim Mattar foi para o governo com intenção de ajudar, saiu quando percebeu a virtual inutilidade de sua presença. Coloco a seguir algumas constatações do corajoso líder empresarial: “Os liberais que vieram para o governo cabem num micro-ônibus e são vistos como pessoas sonhadoras”. E, à vera, são os de espírito objetivo, que buscam evitar as destruições causadas pelo tumor do estatismo, utopia letal.

 

Observa Salim Mattar sobre estatais, sorvedouro de recursos públicos que poderiam ser utilizados para melhorar a vida dos pobres: “Nós poderemos fechar todas as empresas que são deficitárias. Nós temos 18 empresas, hoje, que dependem do orçamento público para sobreviver. O orçamento para 2020 foi de R$ 20 bilhões de reais. Estamos tirando isso do bolso dos cidadãos pagadores de impostos e colocando em 18 empresas que dão prejuízo”.

 

Prossigo, agora ecoando o sofrimento, a perplexidade e a angústia de milhões, inconformados com a lerda vacinação no Brasil. Uma das formas de acelerá-la, talvez mesmo de resolvê-la rápida e definitivamente, seria, de forma sensata e ágil, por meio de legislação adequada, buscar a mais ampla e efetiva colaboração da iniciativa privada. Por que paira sobre nós, como nuvem tóxica, a determinação de evitá-la? Ou, de outro modo, uma vez mais, tumores de estimação impedirão a saúde? Não fujamos do problema, evitá-lo é política suicida.

 

 

 

 

 

 

 

 

PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"



publicado por Luso-brasileiro às 13:36
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
arquivos

Julho 2024

Maio 2024

Março 2024

Fevereiro 2024

Janeiro 2024

Dezembro 2023

Novembro 2023

Outubro 2023

Setembro 2023

Agosto 2023

Julho 2023

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Fevereiro 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

favoritos

JOÃO CARLOS JOSÉ MARTINEL...

pesquisar
 
links