Andrés Manuel López Obrador (AMLO), presidente do México, populista de esquerda, entre outros horrores, favorece o castrismo e é leniente com o chavismo. Até por atavismo estimula movimentos revolucionários. Como numerosos dirigentes de mesma orientação, privilegia na área econômica políticas regressivas, ou seja, intervencionistas e estatistas. E assim permanece hoje plantado no atraso. Por exemplo, a PEMEX mexicana, estatal foco de roubalheira e desperdício, não muito diferente de nossa PETROBRAS, pode estar tranquila durante seu mandato de seis anos.
AMLO tem problema sério para resolver, vacinar com urgência a população do país contra a COVID-19. Se fracassar, além de causar mortes perfeitamente evitáveis e agravar o fechamento econômico, sua popularidade se arrastará pelo chão. Isso, não quer o experimentado político. O problema, aliás, não é apenas dele, constitui preocupação que vagueia pela cabeça de todo governante em nossos dias.
Para vacinar, AMLO usa com força total os recursos do Estado. Em fins de março, é o plano do governo, haverá 15 milhões de vacinados no país ▬ população de aproximadamente 130 milhões. De outro modo, mais de 21 milhões de doses aplicadas, soma de quatro fontes, Pfizer-BioNTech, CanSinoBIO, AstraZeneca e Sputinik.
No Brasil, fins de março, população de aproximadamente 210 milhões, segundo planos oficiais, teremos 9 milhões de vacinados. Oxalá. Como se vê, e todos sabem, nossa situação não é nada boa, dito de forma eufêmica. Por que faço o contraste? Por angústia, chamo a atenção para a urgência e relevância da situação e assim, clara como água de pote, fica posta a necessidade de arregimentar toda ajuda de que possamos dispor.
Volto ao México. Por coerência com seu passado, AMLO afastará a contribuição da iniciativa privada na resolução da questão. Irá pelo estatismo e intervencionismo. Certo? Errado. Redondamente errado.
AMLO, embora certamente não o confesse, conhece por experiência própria a agilidade paquidérmica do setor público, a habitual falta de rumos, as usuais negligência e incompetência. Conhece ainda a corrupção, a roubalheira e os favorecimentos escandalosos. Temerá seus efeitos, pouca vacinação, lentidão, economia parada, mortes em subida, raiva do público. Sua popularidade irá por água abaixo.
O que fez AMLO? Afirmou sem rebuços, favorecerá a presença do setor privado na solução do caso espinhoso. Um esquerdista de décadas, digo eu, agredido pela realidade e que navega no caso em mares menos encapelados que os nossos, convida, como outros governos, a iniciativa privada para participar da solução do problema. Informa a Associated Press, despacho de 28 de dezembro último, o presidente mexicano quer a ajuda do setor privado para resolver a questão. “Não nos opomos à comercialização da vacina, a que empresas privadas importem o produto e o vendam a quem possa pagar”. Para tal, ele coloca certas condições que não vem ao caso aqui relatar. E não trata, pelo menos não está no despacho da AP, do caso de empresas importarem o produto, não para vendê-lo, mas para vacinar funcionários e familiares seus, além de doar parte dele para utilização na rede pública, como aqui e ali, foi ventilado por empresários na imprensa brasileira.
É mais que justificável, é mesmo necessário e louvável, a distribuição das vacinas ampla e gratuita, privilegiando os mais necessitados, pelo Poder Público. Quanto mais, melhor. O que é absurdo é inibir o setor privado ─ de fato, barrar seus passos ─ a agir na mesma direção, ou seja, contribuir para vacinar logo toda a população. E, com isso, além de expandir a vacinação, diminui o peso no ombro do setor estatal.
Por que não acontece? Embora de início autoridades federais tenham levantado a possibilidade de chamar o setor privado para ajudar a resolver a situação, houve retrocesso. Na reunião do Conselho Superior Diálogo pelo Brasil, realizada na FIESP, 13 de janeiro, foi comunicada aos empresários a proibição governamental de os empresários comprarem vacinas para imunizar funcionários. Na ocasião declarou Paulo Skaf, presidente da FIESP: “Uma empresa que tenha 100 mil funcionários, se ela quiser ir ao mercado, comprar uma vacina e vacinar seus funcionários, isso não pode. A campanha de vacinação será orientada pelo governo, pelo Ministério da Saúde, que vai adquirir as vacinas que estiverem aprovadas pela Anvisa e distribuir aos Estados. Então essa possibilidade foi negada”.
Perguntei, por que não acontece o chamamento à iniciativa privada? Venho solicitando a atenção ao longo dos anos e em numerosas ocasiões para aspecto verdadeiramente pavoroso de nossa realidade: temos entranhados tumores de estimação, cuidamos deles. Nosso xodó por eles é amazônico. O estatismo é um deles. A reforma agrária, outro. Tem mais.
É vital para o Brasil se livrar dessa infecção, causadora de retrocessos sem fim. Enfraquece, estiola, atrofia, debilita, exaure, prostra, depaupera, enlameia o organismo socioeconômico do Brasil. Por fim, as metástases, se não eliminadas, irão matá-lo, como matam todas as sociedades sufocadas pelo coletivismo. Em resumo, de momento tal infecção, que corrói a aplicação do princípio de subsidiariedade entre nós, corta a possibilidade de o Brasil tomar o lugar natural que lhe reservam suas potencialidades.
Calo-me e deixo a palavra a palavra para empresário de valor que sentiu na carne a infecção letal dos tumores de estimação. Salim Mattar foi para o governo com intenção de ajudar, saiu quando percebeu a virtual inutilidade de sua presença. Coloco a seguir algumas constatações do corajoso líder empresarial: “Os liberais que vieram para o governo cabem num micro-ônibus e são vistos como pessoas sonhadoras”. E, à vera, são os de espírito objetivo, que buscam evitar as destruições causadas pelo tumor do estatismo, utopia letal.
Observa Salim Mattar sobre estatais, sorvedouro de recursos públicos que poderiam ser utilizados para melhorar a vida dos pobres: “Nós poderemos fechar todas as empresas que são deficitárias. Nós temos 18 empresas, hoje, que dependem do orçamento público para sobreviver. O orçamento para 2020 foi de R$ 20 bilhões de reais. Estamos tirando isso do bolso dos cidadãos pagadores de impostos e colocando em 18 empresas que dão prejuízo”.
Prossigo, agora ecoando o sofrimento, a perplexidade e a angústia de milhões, inconformados com a lerda vacinação no Brasil. Uma das formas de acelerá-la, talvez mesmo de resolvê-la rápida e definitivamente, seria, de forma sensata e ágil, por meio de legislação adequada, buscar a mais ampla e efetiva colaboração da iniciativa privada. Por que paira sobre nós, como nuvem tóxica, a determinação de evitá-la? Ou, de outro modo, uma vez mais, tumores de estimação impedirão a saúde? Não fujamos do problema, evitá-lo é política suicida.
PÉRICLES CAPANEMA - é engenheiro civil, UFMG, turma de 1970, autor do livro “Horizontes de Minas"
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