
Autor do soneto: PINHO DA SILVA
http://www.diariocatolico.com.br/2012/01/o-soneto-que-corre-o-mundo-favor-da.html
29 de julho de 2017, data em que se comemora o aniversário de fundação da Campanha Nacional de Escolas Comunidade - CNEC. São 74 anos de existência com milhares de unidades criadas, de norte a sul do Brasil, onde alguns milhões de estudantes desprovidos de recursos financeiros tiveram a oportunidades de matriculas, de tantas unidades ainda funcionam mais de uma centena com cerca de 100.000 alunos. São as conhecidas escolas cenecistas. http://www.cnec.br/. E tudo começou pela liderança de um jovem estudante, natural da Cidade de Picuí (PB), recrutando a participação de companheiros estudantes da Faculdade de Direito, em Recife, com a criação do primeiro estabelecimento, o Ginásio Castro Alves. Eu tive a oportunidade de conhecer o Dr Felipe em 1959/60, quando me tornei aluno do Colégio França Júnior, na Penha (Rio de Janeiro), passando a acompanha-lo em suas andanças até o final de sua vida. Faleceu, em Brasília, em 21 de abril de 1996, após 53 anos de trabalho dedicados intensamente à instituição.
Para homenagear a data, recorro mais uma vez ao Livro “História da CNEC”, escrito pelo fundador da instituição – FELIPE TIAGO GOMES – trazendo-lhes a narrativa das inúmeras dificuldades enfrentadas no transcurso de sua fundação.
PRIMEIRA VIAGEM AO RIO
Entravamos no ano de 1945, cheios de esperanças no funcionamento oficial do Ginásio Castro Alves. Os líderes do movimento desconheciam as grandes dificuldades à instalação de um Ginásio. A Lei Orgânica do Ensino Secundário, as exigências da D. E. S., a burocracia a vencer, tudo isto era um mundo desconhecido àqueles que não davam importância à palavra impossível. Como vir ao Rio, se eles não dispunham de recursos para a aquisição de passagens aéreas ou de navio ?
Por via fluvial e terrestre, era uma viagem penosa, com o aproveitamento dos velhos navios do Rio São Francisco. Levava a viagem mais de um mês, somente a vinda. Estávamos em plena guerra. Os navios, poucos, andavam superlotados. Resolvemos procurar apoio do Correio Aéreo Nacional. Durante dias ficamos rondando a residência do Brigadeiro Eduardo Gomes, na época, Comandante da Zona Aérea do Nordeste, com sede no Recife.
Depois de várias visitas ao Comandante da Base, no Ibura, foi marcada a viagem ao Rio num avião da FAB. Saímos do Recife, no início de fevereiro, com pouco dinheiro, sem saber onde iríamos ficar.
Estávamos confiantes nas cartas de recomendação que trazíamos, inclusive numa do Dr. Jarbas Maranhão, para Dna. Darcy Vargas. Durante o trajeto soubemos que, junto à estação da Central do Brasil, estavam localizados os hotéis mais baratos.
Recordo-me como se fosse hoje: ao chamar um taxi no Aeroporto Santos Dumont, o motorista cobrou Cr$ 15,00 para levar-nos à Central do Brasil. Eu lhe retruquei: “se quiser R$10,00, iremos; caso contrário, pegaremos outro, pois é a quantia que estou acostumado a pagar aqui ... “
Com essa conversa o motorista levou-nos com malas e tudo, por Cr$ 10,00, ao Hotel Dom Pedro II.
Pagávamos pouco pela hospedagem. Eu que trouxera somente Cr$. 500,00, sentia que o dinheiro estava, depois de uma semana, sumindo ...
Genivaldo Vanderley e Juarez Gomes Lopes, um pouco mais, mas não aguentavam maiores despesas. Resolvemos pegar outro hotel pelo telefone, isto porque o gerente do que nos hospedava não aceitava nossa explicação de que o Ministério da Educação e Saúde pagaria as nossas despesas. Não sabíamos então quais os luxuosos. Fomos à lista telefônica e fizemos as ligações para ... o Copacabana Palace e outros, inocentemente.
Pedíamos hospedagem para três estudantes. A portaria do hotel afirmava sempre que não “não havia vagas”. Afinal a gerência do Hotel Central, na Praia do Flamengo (hoje demolido para construção de prédio de apartamentos), resolveu aceitar-nos. Pagamos as contas e fomos gozar as delícias do clima de praia, à diária completa de Cr$. 90,00, num hotel de 1ª classe ! Do restaurante observamos a beleza do Pão de Açúcar e as maravilhas da Praia da Urca que se deitava mansamente aos pés do Gigante de Pedra.
Depois do jantar. Fomos comentar a nossa situação: estávamos otimamente instalados, mas quase sem recursos. Eu, com apenas Cr$. 270,00 e os outros dois, com finanças um pouco melhoradas. Enfim, alguém, não nós, teria de pagar a hospedagem: a Prefeitura, o Ministério da Educação ou a L. B. A. Durante a 1ª semana no Hotel Central, embebecidos com aquele mundo novo, em que os pratos eram apresentados no cardápio com nomes estrangeiros, passamos por uma porção de vexames. Pedíamos à vontade. Qualquer prato estava bom. Íamos seguindo o cardápio. O pior, para mim, aconteceu na primeira noite: ao voltar, deparei-me com um problema sério: como entrar ? A porta era tipo giratória. Eu nunca havia entrado por uma porta assim. Fiquei esperando que outro hóspede entrasse para ver como resolveria o problema. Disfarçando as apreensões, esperei que alguém entrasse e pudesse seguir-lhe. Estava fora do meu ambiente, o que me trouxe uma porção de dificuldades.
Reservamos a semana para contatos e visitas. Pegar bonde errado acontecia quase que diariamente. Subir em elevadores era para nós novidade e até divertimento mesmo.
A visita ao jornalista Fernando Tude de Souza, Diretor da Rádio Ministério da Educação, não foi melhor por causa do elevador que era (e ainda é) automático. Ao entrar no mesmo afobei-me e o levei a ficar parado entre um andar e outro. Depois de bater desesperadamente e tocar os botões, ele desceu. Uma pessoa abriu a porta e subiu. Eu preferi subir pela escada ....
No primeiro sábado chegou-nos a conta. Não tínhamos dinheiro para pagar. Fui designado para “conversar” com o gerente: estávamos ali lutando por um nobre ideal; fulano e sicrano estavam-nos apoiando. Ficasse certo de que na semana vindoura lhe pagaríamos as contas. Disse-lhe também que já tínhamos sido recebidos pela Poetisa Amélia Carneiro de Mendonça, Presidente da Casa do Estudante do Brasil, com um almoço. Ela achava que encontraríamos o apoio que procurávamos. Tudo, porem, sabíamos, não corria bem: no MÊS, D. Lúcia Magalhães desiludiu-nos. – Não possuíamos condições para o reconhecimento do Ginásio Castro Alves. O Prefeito alegou não ter meios para o pagamento das nossas diárias.
O 2° sábado chegou, com a segunda cobrança ameaçadora, Procurei o Gerente. Falei-lhe vários minutos para convencê-lo de que o Hotel estava colaborando num notável empreendimento. Que ele estivesse confiante. Mostrei-lhe a carta endereçada a D. Darcy Vargas. Permitiu bondosamente que ficássemos, mas somente por aquela semana. Aflitos, procuramos D. Darcy, que telefonou imediatamente para o Gabinete do Ministro Gustavo Capanema. O João Neder, Oficial de Gabinete, atendeu. Notamos que D. Darcy repetiu uma ou duas vezes: “aqui fala Darcy Vargas, da L. B. A.” Sei que ao chegarmos no salão de espera, onde, durante quase todo o mês de fevereiro de 1945, havíamos ficado sentados, o dia todo, sem que alguém se apercebesse de nossa presença, e onde a nossa única diversão, para passar o tempo, era olhar os quadros de Portinari, coisa que pouco entendíamos, esquecidos, sem que nem mesmo o Chefe de Gabinete, Carlos Drumond de Andrade, nos recebesse, fomos imediatamente atendidos pelo Dr. João Neder. Ele nos perguntou ansiosamente se D. Darcy não havia se zangado na hora do telefonema. Afirmamos que não notáramos nada. “Pois é, disse ele, eu pensava que era ... e brinquei na linha ... “ Se, para João Neder, havia alguma complicação, para nós estava ficando tudo azul. Éramos possuidores de um cartão do Chefe de Gabinete do Ministro da Educação ao Gerente do Hotel Central, responsabilizando-se pelo pagamento das nossas dívidas. A nossa luta, agora, era desviada para outro fim: o da obtenção de vagas nos aviões militares para voltarmos ao Recife. Nossas caminhadas eram constantes à Ponta do Calabouço. Os oficiais informavam que não havia vagas tão cedo. E o Ministério da Educação responsabilizara-se pela hospedagem apenas até o dia 25 de fevereiro. Se, até essa data, eu e o Genivaldo não viajássemos, ficaríamos na rua, o Juarez tinha parentes no Rio. Podia arrumar-se. E nós ?
Resolvemos procurar o Chefe de Gabinete Salgado Filho, Cel. Henrique Fleuss, na sua residência na Tijuca. Disseram-nos que ele morava numa rua daquele bairro. O informante não sabia número. Nem .. nós! Pegamos um bonde. Saltamos, por uma feliz coincidência, perto da casa do homem que resolveria o nosso problema. Argumentou que era difícil. Pedimos-lhe que nos levasse de qualquer maneira. Estávamos sem dinheiro e ameaçados de despejo. Ele, no dia seguinte, autorizava nossa viagem para o dia 2 de março. E agora, dizíamos, como vamos enfrentar a situação ? Fizemos os cálculos: refeição no “China” a Cr$ 2,50; dormida ... bem, a dormida podíamos variar entre os trens da Central e as hospedarias. ... Fomos para o Hotel Central e contamos ao Gerente, mais uma vez, a nossa situação.
Não queríamos tapeá-lo. Íamos sair. Ele tinha sido para nós tão bom ... Estávamos ali para agradecer-lhe e pedir desculpas pelos aborrecimentos que por ventura havíamos proporcionado à gerência.
Eu e o Genivaldo ficaríamos pelas ruas. O Juarez ia para a casa de um parente.
O gerente, um bom suíço, comoveu-se. Disse-nos: “Não saiam. Fiquem por conta do hotel até o dia 1º de março ! Demos pulos de alegria. E já um pouco ambientados na cidade, passamos a mergulhar nas águas da Praia do Flamengo, fazer visitas a jornais, etc. O Globo, na edição do dia 27/2/45, noticiava as atividades da Comissão, no Rio, chamando-nos de “Os Três Mosqueteiros”.
Reporter: Nahum Sirotsky..
(Do Livro História da CNEC)
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Homenageando HAYA DE LA TORRE, UM PERUANO QUE INFLUENCIOU UM BRASILEIRO PARA A CRIAÇÃO DE UMA DAS MAIORES OBRAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL A “CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE”
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FALANDO DA HISTÓRIA DA CNEC
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE
CRIADA EM 29 DE JULHO DE 1943
74 ANOS DE EXISTÊNCIA
HAYA DE LA TORRE – O INSPIRADOR
FELIPE TIAGO GOMES – O INSPIRADO
“ ...Dentre elas, O Drama da América Latina, do escritor John Gunther, onde é retratada uma experiência de Haya de La Torre para a alfabetização de índios no Peru.
Essa obra o influenciou e o despertou para a criação de uma instituição que visasse assegurar o direito de estudar aos milhares de jovens pobres. E, assim, em 29 de julho de 1943, foi criada a Campanha do Ginasiano Pobre (CGP), com a criação do Ginásio Castro Alves.””.
Do Livro “O DRAMA DA AMÉRICA LATINA”, de John Gunther, Felipe Tiago Gomes, influenciado pela experiência de Haya de La Torre (Peruano), criou a Campanha do Ginasiano Pobre
Autógrafo de Haya de La Torre, no Livro História da CNEG – Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, hoje, Campanha Nacional de Escolas da Comunidade.
HISTÓRIA DA CNEG
Por Felipe Tiago Gomes - Volume I
É necessário que os milhares de jovens alunos cenegistas conheçam como surgiu a CAMPANHA NACIONAL DE EDUCANDÁRIOS GRATUITOS. As suas lutas, os sacrifícios dos seus fundadores e a abnegação dos seus dirigentes, tudo isto deve constituir-se em motivo de orgulho para os moços que frequentam as nossas escolas.
É preciso ainda que o ânimo de combatividade daqueles dias não decaia ao nível das coisas comuns, das acomodações fáceis. O nosso passado de lutas e de vitórias não pode ser substituído pela rotina tão cômoda aos indivíduos de índole contrária a aventuras. Não podemos também aderir ao regime de conveniências prejudiciais a esse mesmo passado, embora tenhamos de buscar a atualização de métodos de ação senão quisermos ficar superados pela técnica moderna. Espero que a minha contribuição à “HISTÓRIA DA CNEG” seja encarada pelos leitores como uma narração despretensiosa. Não tive intuitos de escrever um grande livro, ou mesmo um pequeno livro: quis apenas narrar fatos, muitos dos quais são inteiramente ligados à minha pessoa. Daí o personalismo que aparece frequentemente nestas páginas que formam um capítulo da própria história educacional do País.
Rio de Janeiro, Janeiro de 1962
Felipe Tiago Gomes
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